sábado, 20 de julho de 2013

D. Manuel Clemente: A democracia é uma terra para todos


A democracia é uma terra para todos e a Igreja deve ser uma casa aberta onde todos possam entrar. No momento em que o novo patriarca dá entrada oficial na diocese de Lisboa, são publicadas várias entrevistas de D. Manuel Clemente. Uma delas (na realidade, um conjunto de três entrevistas em momentos diferentes) é editada sob a forma de livro, cuja edição será apresentada esta terça-feira, a partir das 19h, na Fnac Chiado, em Lisboa (ver convite na ilustração, que pode ser ampliado clicando na imagem). As outras surgem no DN, no i e na Renascença (além de uma outra que tinha sido recuperada neste blogue no momento da sua nomeação como patriarca de Lisboa)
Na entrevista dada ao DN de sexta-feira (disponível apenas no jornal em papel ou para os assinantes da edição electrónica), D. Manuel Clemente fala dos aplausos de que os políticos foram alvo nos Jerónimos – “esse tipo de manifestações não é para os templos (...). Mas aplaudiram, outras se calhar não aplaudiriam” – e do modo como Igreja e Estado podem relacionar-se.
A democracia, diz o novo patriarca, é “uma terra de todos e para todos e de responsabilidades partilhadas”. E acrescenta: “Creio que não há católico convicto que tenha uma visão das coisas segundo os princípios do Evangelho e da doutrina social da Igreja, que não queira seriedade, solidariedade, justiça, repartição, partilha, proximidade.”
Sobre a Igreja e a sua missão, diz o patriarca que o cristianismo é caracterizado por um “ritmo comunitário”. Refazer esse ritmo “é um dos grandes desafios” da pastoral católica deste tempo.
A dimensão comunitária da Igreja é um dos temas abordados por D. Manuel no livro-entrevista Uma Casa Aberta a Todos (ed. Paulinas), que reúne uma entrevista sobre o trajecto pessoal de D. Manuel a outras duas entrevistas anteriores (a propósito do Prémio Pessoa de 2009 e sobre o Papa Francisco).

“O Cristianismo propõe uma comunidade, e não há experiência cristã que não seja comunitária.” Uma comunidade, acrescenta, “onde as pessoas se interessem umas pelas outras, (...) sem que ninguém fique de fora.” Porque “a melhor apologia de uma sociedade justa é a justiça com que os cristãos vivem entre si e com todos os que os rodeiam”.
Num retrato onde casa a sua personalidade e a visão sobre o mundo e a Igreja, Manuel Clemente diz que as comunidades cristãs devem ser “lugares de acolhimento e de missão, onde as pessoas (...) sejam acolhidas”. Cada comunidade cristã, afirma ainda, deve ser transformada “numa casa e escola de comunhão”.
“Somos pessoas. E não há duas exactamente iguais, a não ser na sua dignidade comum”, diz D. Manuel. E é no “serviço da pessoa humana” que todos, crentes e não-crentes, se devem encontrar.
Na entrevista ao i deste fim-de-semana, onde também fala do momento da vida portuguesa, D. Manuel admite a hipótese de reorganizar paróquias e estruturas e, sobretudo, de articular dinâmicas pastorais com a diocese de Setúbal, de onde provêem muitos crentes que trabalham ou fazem a sua vida na área do patriarcado. Um texto a ler, com vários pontos de interesse. 
Na RR, no próprio dia da sua posse, o patriarca insiste em algumas destas ideias. Falando sobre os debates que atravessam sociedades como a portuguesa, D. Manuel diz que devemos “partir de um princípio que é o de que a generalidade dos seres humanos não tem má vontade”. Ou seja, os cristãos devem ter disponibilidade para escutar outras argumentações, porque há disponibilidade para aprender.
A entrevista à Renascença, onde o patriarca fala também da relação entre modernidade e cristianismo, da questão prioritária do emprego e da missão da Igreja, pode ser ouvida aqui.
Quando foi conhecida a nomeação para patriarca de Lisboa, o RELIGIONLINE publicou uma outra entrevista de D. Manuel Clemente, que pode ser lida aqui.


Sem comentários: