sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Dos homens, dos deuses e do cinema

Está em exibição pelo menos em Lisboa, pelo menos mais alguns dias, o filme Dos Homens e dos Deuses, do francês Xavier Beauvois, que em França foi um dos filmes mais vistos do ano e recebeu em Cannes o prémio do júri ecuménico (além de ser o candidato francês ao Óscar do melhor filme estrangeiro).

Esta obra de Beauvois, que já antes foi referida aqui no blogue, é um extraordinário poema cinematrográfico. A história conta o episódio da morte de oito monges franceses do mosteiro de Tibirine, na Argélia, em meados da década de 90. A tensão da guerra civil argelina está presente de forma subtil (apenas aparece visível numa cena de ataque a um grupo de trabalhadores estrangeiros); o conflito interior que vivem os monges ameaçados por grupos terroristas (ficar ou partir?) é dado através dos curtos diálogos e da música dos salmos, cantados na liturgia. A música é, aliás, um dos elementos de identidade desta obra maior.

Aqui pode ler-se um texto de Francisco Ferreira no Expresso, com imagens do filme e ligações para outros artigos.

Em Almada, começou esta noite, entretanto, o Ciclo de Cinema Católico, promovido pelo núcleo da Pastoral Universitária da cidade. A iniciativa não podia ter começado da melhor forma, com a exibição de A Ilha (2006), do russo Pavel Lounguine. Filme de uma intensa espiritualidade, A Ilha reflecte a busca de identidade e autenticidade dos trabalhos do realizador, mesmo se ele significou uma mudança profunda na sua linguagem estética.

Com uma fotografia simultaneamente imponente e rude, em que o gelo, a aridez, a água, são protagonistas, o filme fala de um monge que perturba permanentemente a vida do mosteiro, mas que é procurado por ter, alegadamente, o poder de curar, prever o futuro e expulsar demónios. Só que o monge guarda um segredo do qual se quer purificar e só quando isso acontecer ele poderá morrer em paz.

Esta sexta-feira, o ciclo continua com Deus tem necessidade dos homens (1950), do francês Jean Delannoy, que morreu em 2008 com 100 anos (e terá comentário do padre Rodrigo Mendes, no final). Sábado, será a vez de Mendel, o Jardineiro de Deus, de Liana Marabini (comentários da realizadora e de João Aires de Sousa). O ciclo encerra no domingo com O Nono Dia (2004), do alemão Volker Schlöndorff (debate com Orlindo Gouveia Pereira).

Liana Marabini, que no sábado acompanha a projecção do seu filme, é directora do Mirabile Dictu, festival de cinema de Roma. Antes, entre outros trabalhos, tinha realizado Vivaldi. Em O Jardineiro de Deus, M
arabini conta a história do padre Gregor Mendel (1822-1884), criador da genética moderna, que é protagonizado por Christopher Lambert. Na altura da estreia, há um ano, Marabini afirmou que foi a sua admiração por Mendel como padre e cientista que a levou a realizar a obra.


Um outro padre, desta vez do Luxemburgo, é o centro da história de O Nono Dia, baseado numa história real. O protagonista está preso no campo de concentração de Dachau e é libertado por nove dias. No final desse tempo deve decidir se apoia o regime nazi ou se mantém a sua oposição e regressa ao campo.


Esta iniciativa da Pastoral Universitária católica de Almada segue a linha de festivais do género realizados em cidades como Friburgo (Suíça) ou Trento (Itália), já com largo número de edições.

Os filmes começam às 21h00 e são seguidos de comentário e debate. Passam todos no Fórum Romeu Correia, Almada (há estacionamento pago), são legendados em português e a entrada é livre.



1 comentário:

Helena Araújo disse...

Olá António,
Não precisas de publicar este comentário, porque é a continuação de uma conversa com mais de um ano:
"O nono dia" é o filme de que te falei. Fartei-me de o procurar na amazon.fr e outras, para te mandar um vídeo com legendas numa língua que se entenda. Fico feliz por saber que vai passar agora aí perto. Não percas! E leva a família, acho que todos vão gostar.