Há muitas e boas razões para fazer uma vigília pela vida nascente, iniciativa desejada pelo Papa Bento XVI e seguida hoje em muitos lados, nas igrejas locais.
Ainda que não simpatize com algum fundamentalismo, obsessão e reduccionismo de movimentos que gravitam em torno da "defesa da vida", reconheço que é sempre pouco o que se faz para criar condições para que novos seres humanos possam vir ao mundo em condições de acolhimento do mistério da vida e de justiça e paz nos contextos de crescimento das crianças. É necessário promover a vida e combater o que a limita e entrava, nas suas causas mais profundas. O aborto será porventura um desses entraves, mas sou levado a crer que ele é mais um sintoma do que uma causa (ainda que de resultados trágicos).
Dito isto, não posso deixar de anotar que não vejo na Igreja a mesma acutilância, o mesmo investimento de energias noutros campos onde a vida (e a dignidade das pessoas) se joga, como ocorre com a "vida nascente". A prova é que, num contexto como o dos países europeus, nomeadamente, em que se vive uma crise gravíssima, que lança a cada dia milhares de pessoas para a valeta da sociedade, não há uma vigília da escala da de hoje, que alerte a consciência dos cristãos e de toda a sociedade. Quem diz uma vigília, diz outra forma de, liturgicamente, em ambiente celebrativo, fazer da crise e da procura de caminhos para a enfrentar o mote para a reunião dos cristãos.
Os jovens que não encontram de que viver e condições para constituir família; os de meia-idade que se vêm subitamente desempregados e tornados inúteis; os idosos cada vez mais abandonados e espoliados; os que trabalham e que, tantas vezes, se deparam com verdadeiros atentados à sua dignidade de trabalhadores; o mercado selvagem que tudo contamina - é a vida, o seu sentido e os seus limites, que está em causa. Olhe-se para a Irlanda, para a Grécia, para Espanha, para Portugal e vários outros países - se há "nova evangelização" em perspectiva, ou ela aterra aqui, nestes dramas, nestes impasses, nestes labirintos ou simplesmente não será.
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