Futebol, a nova religião
"(...)São sinais que resultam de o futebol se ter transformado numa nova religião, uma religião laica, com a sua ideologia, a sua fé, as suas massas, as suas cerimónias e ritos, as suas "catedrais" e clero, a sua economia. Não admira que a Conferência Episcopal portuguesa tenha alertado há meses, em invulgar comunicado, para o peso excessivo que o futebol vem assumindo no país: o futebol é, de facto, a única crença e instituição que pode tomar o lugar do catolicismo na sociedade portuguesa.
Apesar dos conflitos entre clubes e seus adeptos, o futebol une a nação: une pobres e ricos em torno do mesmo tema, o único possível para esse diálogo; une os portugueses até nas divergências, pois no futebol mesmo o ódio fornece uma linguagem comum a todos, que substitui a da religião. Ora, ao fazê-lo, o futebol fornece muito do que é necessário para se manter a coesão social. Em democracia, a política precisa dessa única linguagem comum na sociedade, e por isso apropria-se dela.
Além disso, o futebol substitui o debate sobre os problemas sociais, económicos e políticos, o que é um alívio para todos os políticos, nomeadamente para os que estão no poder. Se o povo falasse de política como fala de futebol nem os do Bloco de Esquerda tinham descanso perante a descoberta das suas carecas, quanto mais os partidos da área do poder governativo."
Eduardo Cintra Torres, Público, 31.5.2004
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