quarta-feira, 19 de maio de 2004

Concordata

António Costa Pinto, no DN:

"A Concordata da democracia foi finalmente assinada. Ultrapassamos assim a do Estado Novo, assinada em 1940 por um devoto Salazar, ainda que renitente em oferecer à Igreja Católica tudo o que ela queria. Precisávamos de uma nova ou bastava deixar cair a antiga? Os Estados democráticos não ganham muito com elas, mas a história é madrasta e a das relações entre Estado e Igreja no século XX não foi famosa.
A 1.ª República viu na Igreja um dos factores centrais do atraso português, tentou «limpar-lhe» a base de apoio e levou com ela em cima no final dos anos 20. Ainda assim, Salazar, apesar de pio católico, esteve longe das concessões do seu vizinho Franco e manteve grande parte da herança republicana.
O salazarismo ofereceu à Igreja grande parte do «monopólio das almas», o que para uma ditadura de direita até não foi mau.
A alternativa não seria a democrática, mas a fascista dos braços estendidos, bem mais preocupante. A Concordata de 1940 cede no divórcio e em muito mais, mas pede a «catolicização do império», ainda muito atrasada. Nos anos 50, a Acção Católica já mobilizava mais do que o Regime e dominava muito das suas organizações oficiais, e Salazar teme a dissidência. Esta acabou por vir, pois a Igreja Católica, ao contrário do que pensam os que a vêem de fora, é mais plural do que eles imaginam. Dito isto, em termos de teoria política liberal não sei se precisávamos de uma nova Concordata. Mas, lido o texto, também não se vê grande mal no que foi assinado."

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