Tempos de inquietude
Há um sentido do acreditar que leva a lançar um olhar beato sobre a vida e o mundo, cuidando que as coisas se encaminharão finalmente num sentido positivo. Não sou especialmente sensível a esse modo de estar na vida. Acredito que o futuro é maior do que o nosso esforço, mas que não prescinde dele.
E por isso me inquieto com o que sou, o que vejo, o que oiço.
Vivi os dois últimos meses em Espanha, perto das inquietações e das perguntas que, como um enorme cogumelo depois da explosão, os atentados do 11 de Março levantaram.
Li e ouvi bastante. Quase não vi televisão. Falei com muita gente. Inquietei-me com os termos de referência de uma parte dos debates. Senti a falta de instrumentos e de conceitos para pensar o que se passa no mundo, intuindo que algo de muito fundo está a emergir.
Sendo cada vez mais claro que as sociedades se têm de defender do terror, não menos claro é que não podem construir a sua casa sobre o medo e o retraimento. Muito menos sobre a guerra.
Mas o temor do Outro, o desinteresse e a ignorância pela sua história, pela sua situação são tão grandes como o nosso etnocentrismo. Os muros que, cegos, erguemos, esbarram com esse dado básico que é estarem do lado de cá aqueles que queremos deixar extra-muros. E estão do lado de cá porque precisamos deles. Isto é, precisamos deles e temos medo deles. Um paradoxo? A História está cheia de tais paradoxos.
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