segunda-feira, 23 de maio de 2016

Dialogar olhos nos olhos, um apelo à coragem

Texto de José Leitão

Na próxima quarta-feira, dia 18, realiza-se pelas 18h30 a quarta e última das Conferências de Maio 2016, promovidas pelo CRC (Centro de Reflexão Cristã), sobre o tema Chamados à Coragem. Dialogar Olhos nos Olhos. Esta terá a participação de Abdool Vakil, presidente da Comunidade Islâmica de Lisboa, Helena Valentim, do Graal (que teve um papel de relevo no Escutar a Cidade, promovido por vários movimentos para escutar os não-crentes como preparação para o Sínodo Diocesano de Lisboa) e Guilherme d’Oliveira Martins, do CRC.
Este será o culminar de um conjunto de conferências sobre o tema genérico Misericórdia e Diálogos – Chamados à Coragem.
As Conferências de Maio de 2016 pretendem ser uma oportunidade para ler os sinais dos tempos que vivemos, marcados por aceleradas mutações sociais, culturais e políticas, por conflitos violentos e prolongados, por tragédias humanitárias que não nos podem deixar indiferentes nem resignados.
Para o fazermos, convidámos personalidades que respeitamos, cristãos, não cristãos, crentes de outras religiões, ou não-crentes, porque pensamos que a escuta e o diálogo são uma exigência para vermos com clareza e lucidez os desafios com que estamos confrontados, porque acreditamos que todos somos necessários para assegurar refúgio, hospitalidade e justiça a quem a procura.
Acreditamos na bondade e ternura de Deus, por todos e cada um dos seres humanos, e por isso temos de reagir a uma cultura de indiferença, de exclusão e de violência, de contribuir para uma cultura de inclusão de proximidade, de diálogo olhos nos olhos.

A indiferença que rodeia a existência e o agravamento, nos últimos anos, de múltiplas formas de exclusão na nossa sociedade é em si mesma uma violência contra os mais vulneráveis, um esmagamento dos seus direitos mais elementares, e é geradora de violência, a que não nos resignamos.
Como denunciou o Papa Francisco, em Lampedusa, há uma globalização da indiferença: “A cultura do bem-estar, que nos leva a pensar em nós mesmos, nos torna insensíveis ao grito dos outros, nos faz viver em bolhas de sabão, que são belas, mas são nada, são uma ilusão de futilidade, do provisório, que leva à indiferença para com os outros, leva até mesmo à globalização da indiferença. Neste mundo da globalização caímos na globalização da indiferença. Nós nos habituamos ao sofrimento do outro, não nos diz respeito, não nos interessa, não é tarefa nossa.”
A nossa forma de dizer não à desumanidade, de recusarmos habituarmo-nos ao sofrimento dos outros, à discriminação de prevenir a e combater a violência, passa pela coragem de dialogar olhos nos olhos, por recusar o preconceito, por procurar trabalhar com todos e todas para que norma comum da ação colettiva seja agirmos uns para com os outros em espírito de fraternidade.
Perante tanto sofrimento evitável ou ultrapassável, perante tanto desespero, e ausência de esperança no futuro, somos chamados à coragem de dizer não ao intolerável, de contribuir com todos e todas para a construção concreta da esperança, de perceber as múltiplas dimensões da misericórdia.
Todos temos esse dever, como seres humanos, uns para com os outros, mas os que somos cristãos, não podemos esquecer o que este ano o Papa Francisco nos recorda: “Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai…a misericórdia tornou-se viva, visível e atingiu o seu clímax em Jesus de Nazaré”.

(Os vídeos das conferências anteriores estão já disponíveis aqui, num canal youtube; alguns destaques das últimas duas conferências: 
Rui MarquesO drama é que na Síria está a acontecer uma guerra mundial;
Susana Ramos Temos de estar à altura destes desafios.
PedroVaz Patto – Temos de dar de comer a quem tem fome e ir à raiz dos problemas.
Maria Julieta Mendes Dias – A recompensa daqueles que servem sem esperar recompensa 
Joana Lopes Martins - Repensar a forma como nos organizamos
A primeira conferência tinha já sido referida aqui.)


José Leitão é presidente do CRC – Centro de Reflexão Cristã

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