Pontes, em vez de muros
Manuel Pinto
O “Diário de Notícias” tem em curso uma iniciativa que é merecedora de “distinção e louvor”. Há umas semanas atrás, começou a publicar nas suas edições dominicais uma troca de cartas públicas entre dois conhecidos intelectuais do nosso país: o cardeal-patriarca de Lisboa D. José Policarpo e o professor da Universidade Nova, colunista e ensaísta Eduardo Prado Coelho.
As cartas são uma forma de diálogo entre duas pessoas que se posicionam em horizontes filosóficos e ideológicos distintos, mas que, ao aceitarem este desafio do jornal, colocam diante dos nossos olhos argumentos de um lado e de outro sobre grandes questões dos nossos dias.
A iniciativa não é totalmente inédita: há perto de dez anos algo de semelhante foi feito em Itália, pelo diário “Corriere della Será”, tendo por protagonistas Umberto Eco e o cardeal Carlo Martini. De qualquer modo, no nosso meio, não é frequente ver oportunidades que permitam o diálogo entre mundos e referências que não só andam distantes como muitas vezes se desconhecem. As vicissitudes da nossa História fizeram com que se criassem clivagens que levaram a que a dimensão religiosa fosse como que “evacuada” dos grandes debates culturais, processo de que todos, tanto na esfera religiosa e como na esfera laica - somos responsáveis e de que todos saímos a perder.
É claro que estes diálogos só fazem sentido se os intervenientes partirem de uma base simples mas decisiva, que consiste em reconhecer o interlocutor e o universo de onde ele enuncia o que sente e pensa. E exige, ao mesmo tempo, a vontade de aprender e de progredir numa consciência mais larga e rica da vida e do mundo.
A este propósito, o esforço que se tem vindo a fazer em Braga, nos últimos tempos, a propósito da visita pastoral do Arcebispo às paróquias da cidade é, de algum modo, convergente com essa procura de um diálogo que não se limita àqueles que são iguais a nós e que pensam como nós. O convite a pessoas diversas – e não faria mal alargar bastante mais o leque desses convites – para que se pronunciem sobre o que entendem dever ser, hoje em dia, a presença da Igreja na cidade é uma iniciativa meritória. Assim como o weblog que é um espaço de partilha e debate aberto na Internet e que tem tido algumas achegas bem interessantes.
Vivemos num mundo em que, em todos os lados e em todos os terrenos, precisamos de valorizar mais o que nos aproxima uns dos outros do que aquilo que nos separa. Precisamos, em suma, muito mais de pontes do que de muros.
(in Diário do Minho, 8.12.2003)
Sem comentários:
Enviar um comentário