terça-feira, 28 de setembro de 2010

"A Idade Média não é tão cristã como se pensa"

José Mattoso é o coordenador geral dos vários volumes da “História da vida privada portuguesa” que o Círculo de Leitores está a publicar. Numa breve entrevista dada ao JN de hoje, nota-se uma especial curiosidade da jornalista pela época medieval, nomeadamente nesta passagem:

JN - O que pretendeu sublinhar na organização do volume sobre a Idade Média?

JM - É difícil dizer em poucas palavras. A primeira coisa que me lembro é que a Idade Média não é tão cristã como geralmente se pensa, nem, por outro lado, tão rude e primitiva como outros dizem. Um dos aspectos mais característicos desta época é o que se pode chamar a «dialogia», isto é, uma norma muito exigente ou até radical - a dos sermões - e uma prática muito maleável, baseada nas circunstâncias e nos casos pessoais. Quanto à rudeza dos costumes, creio que se deve pôr de lado o conceito de «idade das trevas» que muitas vezes se aplica à Idade Média. Diferente é o problema das concepções mágicas, que é um problema muito complexo, mas em que houve, sem dúvida alguma, um progresso muito lento devido à racionalização da teologia e ao desenvolvimento das universidades. De qualquer maneira um tipo de magia que não tem nada que ver com “Harry Potter” ou “O Senhor dos Anéis”.

Ler a entrevista: "A Idade Média não é tão cristã como se pensa" - JN

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Quem é o maior?

Veio-lhes então ao pensamento qual deles seria o maior.
Conhecendo Jesus os seus pensamentos, tomou um menino, colocou-o junto de si
e disse-lhes: «Quem acolher este menino em meu nome, é a mim que acolhe, e quem me acolher a mim, acolhe aquele que me enviou; pois quem for o mais pequeno entre vós, esse é que é grande.»
Lucas, 9, 46-48

É para aprender. Depois de um dia inteirinho a ouvir que a minha instituição tem de se medir com as maiores, para ser maior do que elas; depois de ver, ali na esquina, o anúncio que diz que elas vão achar-me o máximo ...

Zola, Lurdes, Fátima - o debate em Portugal entre 1894 e 1932

O crítico e investigador Eduardo Cintra Torres acaba de publicar na revista canadiana Conserveries Mémorielles o texto "Zola, Lourdes and the New Religious Crowd in Ideological Debates in Portugal (1894-1932)".
Nele aborda o impacto do livro de Emile Zola sobre Lurdes no nosso país, nos finais do século XIX e nas primeiras décadas do séc. XX. Sustenta que "o desenvolvimento dos debates revela como os sectores católicos foram progresivamente incorporando a 'multidão' na renovação do Catolicismo, particularmente depois dos acontecimentos [das aparições] de Fátima de 1917, ainda que a burguesia liberal continuasse a rejeitar as massas".
Uma versão deste trabalho sobre a multidão religiosa de Lourdes, em Zola e Huysmans, foi originalmente publicada em 2007 na revista Análise Social e será publicado em francês ainda este ano, na revista Mille Neuf Cent .

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

"Estados gerais do Cristianismo" durante três dias em França

Três dias de debates e de ateliers sobre a situação do Cristianismo em França, por iniciativa da revista La Vie,a partir deste fim de tarde. Fisicamente, o evento tem lugar na Universidade Católica de Lille, mas é possível acompanhar boa parte dos cerca de 30 debates previstos através do Facebook, de um blog e de transmissão por webstream, além, naturalmente, da informação de apoio disponibilizada no site da publicação francesa. Tudo a partir do site de La Vie. O programa completo: AQUI.
Entre os temas que serão objecto de debate destaca-se:
  • Quelle présence chrétienne dans le débat public?
  • S'aimer toute une vie, une utopie?
  • Divan ou confessionnal?
  • Quelle forme d'engagement aujourd'hui?
  • La science a-t-elle du sens?
  • Notre vie a-t-elle un sens?
  • Les chrétiens ont-ils un problème avec le sexe?
  • Changer l'église, oui, mais dans quel sens?
  • Grand Forum du samedi Évangéliser, est-ce provoquer?
Ver, a propósito desta iniciativa, as declarações do director de Redacção de La Vie ao diário Le Monde:
"Il faut qu'une société civile chrétienne émerge"

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Blair escreve no Osservatore Romano sobre o cardeal Newman

Num texto publicado ontem no Osservatore Romano, Tony Blair assina o texto "On the eve of the beatification - The Pope and Newman". O texto incide, sobretudo, no diálogo inter-religioso, mas aborda igualmente outras questões, de inevitável incidência na actualidade da Igreja Católica. Um curto extracto:
"(...)Newman foi o primeira a colocar o conceito de desenvolvimento no mapa. A sua compreensão sobre como a doutrina se desenvolveu revelou-se extremamente influente no seu tempo. Ele fez do desenvolvimento uma ideia-chave, tanto dentro como fora da Igreja. Nós provavelmente não estaríamos hoje a usar as expressões "Objectivos de Desenvolvimento do Milénio" ou "desenvolvimento internacional" se ele não tivesse usado primeiro a palavra na sua teologia.
As reflexões de Newman sobre o desenvolvimento das ideias têm, evidentemente, implicações não menos profundas para a vida da Igreja hoje. Ele concluiu que era impossível fixar um ponto em que o crescimento da doutrina da Igreja cessaria. Daí decorre que esse crescimento continua hoje, e não acontece no vácuo. (...).
Decidir se algo foi um desenvolvimento "verdadeiro" era, naturalmente, a prerrogativa do magistério da Igreja. Mas Newman também descreveu o consenso do "conjunto dos fiéis" sobre questões de doutrina como a "voz da Igreja Infalível". Duvido que esta voz esteja ainda a ser suficientemente levada a sério sobre as questões morais, e se digerimos devidamente as implicações dessas ideias. A tendência de alguns líderes religiosos para meter um grande número de ideias diferentes dentro de um saco etiquetado de "secularismo" para, em seguida, tratá-lo como um pacote de sinistro, é divisionista em sociedades pluralistas, porquanto amputa a Igreja das possibilidades de novos desenvolvimentos no pensamento. (...)"
ACT.:
  • Já depois de lido o texto do Osservatore Romano, o National Catholic Reporter publicou no seu site o artigo "Newman: the 'sense' and 'consent' of the faithful", no qual se desenvolve e se contextualiza a parte citada do texto de Tony Blair.
  • A propósito, o pensamento de John Henry Newman (1801-1890) sobre esta matéria do consensus fidelium encontra-se desenvolvido no seu ensaio "On Consulting the Faithful in Matters of Doctrine", datado de Julho de 1859 e pode ser lido AQUI.

«Àquele a quem pouco se perdoa pouco ama.»

«Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não me deste água para os pés; ela, porém, banhou-me os pés com as suas lágrimas e enxugou-os com os seus cabelos.
Não me deste um ósculo; mas ela, desde que entrou, não deixou de beijar-me os pés.
Não me ungiste a cabeça com óleo, e ela ungiu-me os pés com perfume.
Por isso, digo-te que lhe são perdoados os seus muitos pecados, porque muito amou; mas àquele a quem pouco se perdoa pouco ama.»
Lucas 7, 44-47

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Superando a violência e a morte em Timor-Leste

Joel Hodge, um professor de teologia da Australian Catholic University, escreve no último número do Australian eJournal of Theology, e a propósito de Timor-Leste, sobre o modo como a fé cristã "proporciona a base para a promoção do bem comum" naquele país.
Especialista em René Girard, Hodge aplica ao percurso histórico recente daquela antiga colónia portuguesa algumas das propostas deste autor, no seguimento daquilo que já havia iniciado, na sua tese de doutoramento.

Ler:
Hodge, Joel (2010),"Overcoming Violence and Death in East Timor: The foundations for a new nation". Australian eJournal of Theology, n. 16, 28 pp.

domingo, 12 de setembro de 2010

Bento Domingues: Despolitizar as religiões

Bento Domingues no "Público" de 12 de Setembro de 2010

... e foi logo matar o vitelo gordo e fazer uma festa!

Vitral em Charleston, Carolina do Sul.
A leitura do Evangelho de hoje - a parábola do filho pródigo - leva, habitualmente, a prestar atenção ou ao filho que volta ou ao pai que o espera e acolhe e festeja o seu regresso. Mas a reacção do outro filho bem comportado - que fica enciumado, super-zangado e incapaz de fazer a festa - não deixa de merecer reflexão:
«'Há já tantos anos que estou contigo sem nunca transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito para fazer uma festa com os meus amigos; e agora, ao chegar esse teu filho, que gastou os teus bens com mulheres de má vida, mataste-lhe o vitelo gordo.'
O pai respondeu-lhe: 'Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu.
Mas tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e reviveu; estava perdido e foi encontrado.'»
(Ler o texto em Lucas 15,1-32)

sábado, 11 de setembro de 2010

Raimon Panikkar no Público e no DN

Um dia contou que em 1954 deixou a Europa como cristão, descobriu na Índia que era hindu e regressou como budista - sem, contudo, "nunca deixar de ser cristão". Raimon Panikkar era um ícone da unidade por que tanto pugnava nas suas obras.
No Público de 11 de Setembro de 2010, um esboço biográfico por António Marujo do "teólogo católico que quis as suas cinzas nas águas sagradas do Ganges".
Ler aqui.
No DN deste sábado, também Anselmo Borges escreve sobre o teólogo catalão.
O Padre Raimon Panikkar era uma das maiores autoridades mundiais nas questões do diálogo inter-religioso. As suas raízes genéticas, religiosas, académicas, geográficas, deram um contributo decisivo para ser ponte entre Ocidente e Oriente: o pai era hindu e a mãe, catalã católica; era doutorado em Filosofia, Química e Teologia; viveu uma parte da sua vida na Europa, outra viveu-a na Ásia, uma terceira passou-a na América. Ensinou em várias universidades, entre as quais Santa Bárbara, na Califórnia, e Harvard. Deixou mais de 50 livros, em várias línguas. No meio de uma vida agitada e aparentemente dispersa, manteve, no Uno, a serenidade do monge.
Ler aqui.