Terminou em Roterdão, no dia de Ano Novo, o encontro europeu de jovens da peregrinação de confiança sobre a Terra, promovido pela comunidade monástica de Taizé (França), que reúne monges católicos e protestantes. Em Roterdão, onde estiveram cerca de 30 mil participantes, foi anunciado que o próximo encontro europeu decorrerá em Berlim, no final de 2011. Do encontro, ficou a Carta do Chile, que será debatida, rezada, meditada durante este ano pelos milhares de jovens que acorrem a Taizé durante o ano.
No texto, o irmão Aloïs, prior da comunidade depois da morte do irmão Roger, pede que o combate contra a pobreza no mundo se faça pela justiça e não pelo assistencialismo: “O combate contra a pobreza é um combate pela justiça; a justiça nas relações internacionais, não o assistencialismo.”
A carta, que resultou de uma estadia do prior de Taizé no Chile depois do terramoto devastador de 2010, recorda a propósito uma afirmação de santo Ambrósio de Milão, o bispo e doutor da Igreja do século IV: “Não são os teus bens que distribuis aos pobres, mas apenas lhes restituis o que lhes pertence. De facto, tu usurpas o que foi dado a todos para uso de todos. A terra pertence a todos e não aos ricos. Contudo, ela foi tomada por alguns em detrimento de todos os que a trabalham. Assim, estás a pagar uma dívida, o que é bem diferente de dar esmola de forma gratuita.”
A carta propõe a generosidade “com que inúmeras pessoas ajudaram as vítimas das dramáticas catástrofes naturais” como um dos importantes sinais do nosso tempo. “Como pode esta generosidade animar as nossas sociedades, mesmo na vida quotidiana?”, pergunta o irmão Aloïs.
Na Carta do Chile, escrita no início de Dezembro, o prior de Taizé refere também as questões da imigração e da pobreza: “A imigração é outro sinal do nosso tempo. Por vezes, é sentida como um perigo, mas é uma realidade incontornável que já está a moldar o futuro. Um dos sinais do nosso tempo é ainda a pobreza crescente no interior dos países ricos, onde com muita frequência o abandono e o isolamento são as primeiras causas de precariedade.”
A actual crise económica é também apontada, pela crítica à “acumulação exagerada de bens materiais” que “mata a alegria”. Essa atitude “mantém-nos na inveja”, acrescenta o texto. “A felicidade reside noutro lado: na escolha de um estilo de vida sóbrio, no trabalho não apenas com vista ao lucro mas para dar um sentido à existência, na partilha com os outros, cada um pode contribuir para criar um futuro de paz. Deus não dá um espírito de medo, mas um espírito de amor e de força interior.”
Durante o encontro – iniciativa semelhante foi realizada em Lisboa no final de 2004 –, foram também divulgadas mensagens de vários líderes religiosos. O patriarca Bartolomeu de Constantinopla, líder espiritual da Igreja Ortodoxa, refere-se à diversidade cultural e religiosa do país onde o realizador Theo van Gogh foi morto por um fundamentalista muçulmano e onde a publicação de caricaturas de Maomé também teve lugar. Factos como esses devem “deixar o caminho livre a um diálogo responsável, capaz apenas de encontrar um compromisso de paz entre o respeito dos símbolos sagrados para uns e da liberdade de expressão para outros”.
Em outro texto, o Papa Bento XVI diz aos jovens que a alegria dos jovens não os deve afastar da “solidariedade para com o sofrimento da humanidade” e que eles não devem ceder “à ilusão do individualismo”.
Também o secretário-geral da ONU, Ban Ki Monn, enviou uma mensagem onde fala de alguns problemas do mundo contemporâneo: “Temos de nos unir para ultrapassar as mudanças climáticas e para criar um mundo mais verde e mais sustentável para todos. Temos de trabalhar em uníssono para derrotar a pobreza extrema e para construir um mundo mais justo e próspero. E temos de defender os seres humanos em crise – pessoas afectadas por guerras ou desastres, ou aqueles a quem os direitos fundamentais estão a ser violados.”
Durante os dias do encontro, o irmão Aloïs presidia à oração do final da tarde, fazendo várias meditações diárias. Registos do que foi o encontro dia-a-dia, incluindo testemunhos de alguns participantes, podem também ler-se numa rubrica própria no site de Taizé.
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