quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Um colégio muito do Norte para uma Igreja cada vez mais do Sul


O Papa Bento XVI afirmou, na sua declaração de resignação, que não irá interferir na escolha do seu sucessor. Podemos e devemos acreditar na bondade desta afirmação. Mas há uma dimensão que não deve ser esquecida: a escolha do seu sucessor é fortemente condicionada pelo actual Papa, já que a maior parte dos nomes foram já nomeados por ele.  
Outro dos aspectos decisivos na composição do colégio cardinalício é a geografia: dos 117 eleitores do novo Papa, a maioria é do Norte: há 61 europeus (quase metade dos quais, 28, são italianos) e 14 norte-americanos (11 dos Estados Unidos e três do Canadá); ou seja, 75 cardeais. Mas, actualmente, a maioria dos crentes está no sul do mundo; na Europa, estão apenas 24 por cento dos 1,2 mil milhões de católicos existentes. A infografia do La Croix, aqui reproduzida, pode ajudar a entender o peso relativo de cada país e de cada continente neste colégio selectivo.
Dados mais pormenorizados podem ser lidos aquicom a ressalva de que estes números não têm em conta os seis cardeais nomeados em Novembro de 2012 (cinco dos quais de fora da Europa, para tornar menos notório o grande desequilíbrio ainda existente).
Claro que este peso da Europa não é estranho ao próprio Bento XVI; preocupado com a insignificância da presença cristã no “velho continente”; a própria escolha do nome para o seu pontificado, evocando São Bento, fundador do monaquismo contemporâneo e padroeiro da Europa, deu a entender até que ponto a Europa era prioritária para Ratzinger. Aqui pode ler-se um perfil deste Papa, que pode ajudar a entender algumas das questões que Bento XVI transportou consigo neste pontificado que terminará a 28 de Fevereiro.
Algumas das questões que o sucessor de Ratzinger terá que enfrentar prendem-se, assim, com a maior internacionalização e democratização da Cúria. Já agora, a Igreja terá que começar a reflectir também sobre o modo de eleição do Papa, que não pode continuar a ser escolhido (apenas) pelo colégio dos cardeais, que resulta da escolha pessoal do Papa e é uma instituição nascida já no segundo milénio do cristianismo. A participação de representantes dos episcopados de mundo inteiro, num catolicismo cada vez mais globalizado, tem que ser cada vez equacionada. 

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