sexta-feira, 29 de novembro de 2013

A Alegria de Ler Francisco - um depoimento e um desafio de Jorge Wemans


É muito difícil escrever sobre a Exortação Apostólica Evangelii Gaudium que o Papa Francisco publicou a 24 de novembro. Ela é tão importante e inovadora no magistério destes últimos anos, tão forte e firme na confiança que exprime no amor de Deus, tão exigente e serena sobre a nossa forma de entendermos a Igreja que resulta muito difícil ousar a palavra depois de a ler. Acresce ainda que é extensa na letra e nos assuntos que visita. Correndo o risco de atraiçoar o que nela é mais significativo, arrisco três palavras: alegria, sabedoria, confiança.
Alegria, a nossa. A de sermos destinatários de uma escrita tão simples, clara e sempre centrada no essencial. Um texto destes – em qualquer tradição literária – só pode ser fruto de um grande sofrimento, ou de um grande amor, ou dos dois [deve ser este o caso do Papa Francisco]. A alegria do leitor, lendo um documento que se inicia com essa palavra, não termina no fim do longo intróito a ela dedicado: a alegria do Evangelho preenche-nos ao longo de todo o texto, qualquer que seja o assunto tratado. A escrita deste documento resulta da assunção plena, por parte do seu autor, do que quis escrever logo nas primeiras linhas: “A alegria do Evangelho enche os corações e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus.”
Sabedoria, a do autor. Sem recurso a qualquer fácil erudição, Francisco decanta o seu larguíssimo saber numa sabedoria companheira da vida comum. Consegue, assim, aquilo a que muitos padres da igreja aspiraram sem o alcançar. Nada mais difícil do que transmitir em palavras e imagens próximas do homem comum as complexas sínteses teológicas ou as fórmulas elaboradas dos debates eclesiológicos que a história da igreja comporta. Sem grande discursividade sobre elas, mas com enorme assertividade sobre como viver hoje a fé em igreja, Francisco escreve de modo a que todos o entendamos, mesmo quando inventa palavras para formular a sua própria síntese sobre o que há a viver.
Confiança. Confiança a triplicar. Confiança no amor de Deus e no que dele podemos intuir a partir de Jesus. Confiança na capacidade da igreja de mudar e sair de si para manifestar a todos sem exceção a misericórdia de Deus. Confiança no homem como agir comum, energia e desejo capazes de inventarem um outro futuro, diferente e melhor do que o buraco negro do egoísmo para onde nos quer levar esta economia que mata.
Ler, meditar e conversar sobre esta Exortação parece-me tarefa prioritária a ser organizada com solicitude.

Jorge Wemans
Lx. 2013.11.29

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