No último fim-de-semana foi posto à venda o livro A Senhora de Maio – Todas as perguntas sobre
Fátima (ed. Temas e Debates/Círculo de Leitores), que tive o gosto de fazer
com o meu camarada de profissão Rui Paulo da Cruz.
O livro será objecto de uma apresentação pública esta quarta-feira, dia 8, às 18h30, no Jardim de Inverno do Teatro São Luís, em
Lisboa. A sessão conta com a participação, em forma de debate, da escritora
Lídia Jorge (que assina o prefácio), do historiador Fernando Rosas e do
antropólogo e professor da Universidade Católica, Alfredo Teixeira.
Idêntica sessão decorrerá no próximo dia 16, às 21h, no Auditório do Centro Missionário Allamano (Rua
Francisco Marto 52), em Fátima, com Graça Poças Santos (professora
do Instituto Politécnico de Leiria e autora do livro Espiritualidade, Turismo e Território: estudo geográfico de Fátima) e
Maria Inácia Rezola (historiadora, integrou a equipa da Documentação Crítica de Fátima e é
autora do estudo Sindicalismo Católico no
Estado Novo).
O livro recolhe um conjunto de mais de vinte entrevistas e
depoimentos com perspectivas muito diversas sobre o fenómeno de Fátima, a
partir da teologia, espiritualidade, religiosidade popular, antropologia e
sociologia. Testemunhos de contemporâneos dos acontecimentos de há 100 anos e alguns
dos documentos fundamentais sobre os acontecimentos – incluindo uma carta de
Lúcia ao cardeal cerejeira a falar sobre Salazar – são também publicados.
Entre os entrevistados, contam-se os bispos Januário Torgal Ferreira
e Carlos Azevedo, o historiador António Matos Ferreira, frei Bento Domingues, os
padres Mário de Oliveira e Luciano Cristino, o antigo e o actual reitor do
santuário, padres Luciano Guerra e Carlos Cabecinhas, o cardeal Saraiva
Martins, a psicanalista Maria Belo, o sociólogo Moisés Espírito Santo e o antropólogo
Alfredo Teixeira.
No prefácio, escreve Lídia Jorge: “António Marujo e Rui Paulo da
Cruz rodam a chave no sentido certo. Oxalá este livro (...) possa abrir o
capítulo de uma discussão que convém ser serena na forma, mas por certo não
poderá evitar a contradição, o debate e o confronto aberto das ideias em face
da crença. Debate que sempre ultrapassa os níveis da razão e da ciência – mas
não as ignora –, esse patamar de confronto tão difícil de alcançar em
Portugal.”
Reproduzo a seguir a nota inicial dos dois autores (que fica
completa com uma nota final, que se encontra no livro).
Para o
leitor acrescentar novas perguntas e propor as suas próprias respostas
Texto de
António Marujo e Rui Paulo da Cruz
Os fenómenos ocorridos na Cova da Iria em 1917 adquiriram grande
relevância política e religiosa, não só naquela época. Mas, ao mesmo tempo,
dividiram e dividem opiniões e emoções em Portugal e no mundo, mesmo entre os
católicos. Fátima é fruto da imaginação de três crianças e da imposição do
clero ou revela uma forte experiência espiritual? Ela reflecte o catolicismo
popular daquele tempo ou apresenta o essencial do cristianismo? O fenómeno
subsistiu por causa da oposição da República e do apoio do Estado Novo ou
mantém-se pela sua grande modernidade religiosa?