Três crónicas sobre a exortação apostólica
Evangelii Gaudium.
No DN de hoje, Anselmo Borges, que já escrevera
sobre o documento na semana passada, diz:
A causa de Deus é a causa do ser humano, de todo o
ser humano, feliz e pleno, começando, evidentemente, pelos mais pobres e
marginalizados, os das periferias. Essa tem de ser também a causa da Igreja.
Por isso, escreve [o Papa]: para quem quer seguir o Evangelho “há um sinal que
nunca deve faltar: a opção pelos últimos, por aqueles que a sociedade descarta
e deita fora”. “Estamos chamados a descobrir Cristo neles, a emprestar-lhes a
nossa voz nas suas causas.” Por isso, hoje devemos dizer “não a uma economia da
exclusão e da desigualdade social. Esta economia mata. Não é possível que a
morte por enregelamento de um idoso sem-abrigo não seja notícia, enquanto o é a
descida de dois pontos na Bolsa. Isto é exclusão. Hoje tudo entra no jogo da
competitividade e da lei do mais forte, em que o poderoso engole o mais fraco”,
e a consequência é que “grandes massas da população vêem-se excluídas e
marginalizadas” e os excluídos não são “explorados”, mas resíduos, “sobras”.
(...)
Francisco:
um perigoso esquerdista? Enquanto uma certa esquerda faz aproveitamento
político-partidário, a ultradireita, como o Tea Party, acusa-o de marxismo. Mas
ele apenas anuncia o Evangelho, cujo único interesse é a vida plena para todos.
“Não podemos mais confiar nas forças cegas e na mão invisível do mercado.”
Assim, pede a Deus que “nos conceda mais políticos que tenham verdadeiramente a
peito a sociedade, o povo, a vida dos pobres.”
O artigo
pode ser lido na íntegra aqui.
No Jornal de
Letras de terça-feira, dia 10, Teresa Toldy escreve sobre “Uma crítica profunda
ao capitalismo”:
(...) Concentrar-me-ei,
contudo, aqui, apenas na crítica profunda que o Papa faz às sociedades
capitalistas, de consumo, e ao próprio capitalismo. E começarei por dizer que
me parece importante destacar que o Papa não perspetiva as suas críticas à
sociedade capitalista e de consumo no quadro de um pensamento que não põe em
causa o próximo sistema. Por isso, será, no mínimo, redutor e “silenciador” da
novidade do documento dizer que Francisco se limita a repetir o que a Igreja,
na sua Doutrina Social, diz desde Leão XIII, ou que é “maravilhoso” termos tido
uma sequência de Papas que vêm sempre dizendo o mesmo. (...)
É que do que Francisco
fala é da necessidade de mudar o sistema estruturalmente. (...) Ora, segundo
Francisco, o crescimento em equidade, portanto, respeitador da dignidade e do
bem comum, exige “decisões, programas, mecanismos e processos especificamente
orientados para uma melhor distribuição do acesso, uma criação de fontes de
trabalho, uma promoção integral dos pobres que supere o mero assistencialismo”
(nº 204). (...)
Não creio que estas
afirmações estejam em linha com as críticas demolidoras de Papas anteriores às
teologias da libertação. Parece-me mesmo possível ler nas entrelinhas deste
documento uma crítica à crítica e perseguição às teologias da libertação. De
contrário, como interpretar estas palavras do Papa Francisco, referindo-se à
opção da Igreja pelos pobres, inscrita em textos bíblicos?: “É uma mensagem tão
clara, tão direta, tão simples e eloquente, que nenhuma hermenêutica eclesial
tem direito de relativizar. A reflexão da igreja sobre estes textos não deve
obscurecer ou debilitar o seu sentido exortativo, mas sim ajudar a assumi-los
com coragem e fervor. (...)” (nº 194).
O texto completo está
disponível aqui.
Do
Brasil, chega o texto do bispo de Dourados, Redovino Rizzardo, com o título “As
derrapagens do Papa Francisco”, criticando uma afirmação de dois padres
católicos que falam das “derrapagens doutrinais” do Papa.
Escreve
o bispo Rizzardo:
As
críticas dos padres demonstram que, para acolher a novidade trazida pelo
Evangelho, não apenas os leigos, mas também as suas lideranças, precisam da
sabedoria do coração, que só vinga em pessoas que colocam o bem da Igreja e da
humanidade acima de seus interesses e traumas. (...)
A
reforma da Igreja vai muito além da mera atualização das suas estruturas. Ela
concretiza-se numa fé e numa espiritualidade que demonstram o amor de Deus pela
humanidade. Por isso, uma Igreja que atrai, motiva e converte pela compreensão
e benevolência de seus pastores, jamais pela imposição e prepotência.
O
texto pode ser lido aqui na íntegra.
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