terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Nos 50 anos de "Inter Mirifica"

TV cameras captured the arrival


Completam-se hoje 50 anos sobre a data em que foi aprovado, por maioria, o decreto do Concílio Vaticano II dedicado aos meios de comunicação social, conhecido pelas palavras iniciais latinas "Inter Mirifica" [De entre as maravilhosas invenções...].
Foi a primeira vez que um concílio se ocupou da comunicação. Mas não foi fácil. As versões iniciais do texto, que datam de 1962, foram objeto de críticas, quer quanto à extensão quer quanto ao conteúdo e, mesmo a versão final, com apenas 24 artigos (em lugar de mais de uma centena nos rascunhos iniciais) contou com mais de uma centena votos contra. Deve, todavia, dizer-se que, apesar das reticências, o documento exprime, ainda que com cautelas e reservas, um espírito assinalável de abertura ao fenómeno mediático, nomeadamente ao impacto dos meios audiovisuais: cinema, rádio e televisão. Isso mesmo transparece quer na abertura quer no encerramento do texto. No ponto 24 sublinha~se:
"Assim, pois, como nos monumentos artísticos da antiguidade, também agora, nos novos inventos, deve ser glorificado o nome do Senhor, segundo o que diz o Apóstolo: «Jesus Cristo, ontem e hoje, Ele mesmo por todos os séculos dos séculos» (Hebr. 13,8)."

Em termos concretos, este documento destaca-se em particular pelos seguintes pontos:
  • a) reconhecimento do o direito de todos a uma informação verdadeira e íntegra;
  • b) afirmação do direito da Igreja de usar e de possuir toda a espécie de meios;
  • c) aposta na formação técnica e apostólica para o uso dos media por parte dos agentes de pastoral;
  • d) defesa da formação e divulgação de uma "reta opinião pública";
  • e) atenção especial a iniciativas com vista à formação para um uso criterioso e esclarecido dos meios de comunicação social, em especial dos jovens;
  • f) proteção e defesa face à "imprensa e espetáculos perniciosos";
  • g) criação de escolas, faculdades e institutos de inspiração cristã com cursos orientados para a formação;
  • h) instituição do Dia Mundial das Comunicações Sociais, a celebrar anualmente;
  • i) orientações para instituir secretariados diocesanos das comunicações sociais;
  • j) por expresso mandato do Concilio e com a colaboração de peritos de várias nações, elaboração de uma instrução pastoral que desenvolva e aprofunde as orientações deste decreto conciliar (que viria a ser a Communio et Progressio).
Nesta sumária evocação de um documento de referência na pastoral dos media e da comunicação, dois comentários tópicos:
  1. Em Inter Mirifica, a Igreja Católica dá um passo saliente no sentido da demarcação de uma abordagem protecionista face aos media, em favor de uma abordagem crítica, assente na capacitação das pessoas, incluindo na sua formação cristã e na participação na vida da Igreja e da sociedade. Os media começam a deixar de ser vistos como todo-poderosos, capazes de inocular um veneno, face ao qual só verdadeiras barreiras de auto-defesa, se não mesmo cruzadas agressivas, poderiam surtir efeito;
  2. Com este decreto conciliar abre-se uma perspetiva de ação e intervenção que viria a marcar a atividade da Igreja em algumas partes do mundo (Austrália, Canadá, América Latina) ainda nos anos 60 e sobretudo nos 70 e 80, e que diversos documentos do magistério viriam também a sublinhar: a aposta na formação crítica dos utilizadores dos media e daquilo que se tem chamado a literacia informativa e mediática, condição de cidadania ativa, também na comunidade eclesial.
[Crédito da foto: http://bbc.in/1jiAqjx]

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