sexta-feira, 3 de julho de 2009

Da crise aos manifestos, à espera de uma encíclica

Vale a pena nova chamada de atenção para o seminário promovido este sábado pela Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP), da Igreja Católica, cujo programa está publicado no texto anterior. Aqui podem ler-se alguns dos propósitos da iniciativa, enunciados pelo presidente da comissão, Alfredo Bruto da Costa, nas vésperas da publicação de uma nova encíclica do Papa Bento XVI, dedicada a questões sociais.

O momento que se vive não deixará de estar presente no documento do Papa, que já afirmou que "a crise mostra claramente que os paradigmas dominantes nos tempos recentes têm que ser modificados”. Do outro lado, não é de estranhar que governos, empresários e financeiros continuem a fazer vagas declarações sobre reformas necessárias - enquanto vão adiando qualquer tentativa de o fazer efectivamente, a ver se a crise passa, literalmente.

Estamos colocados perante imperativos éticos urgentes e colectivos: sim, que ao contrário do que diz um comentário ao post anterior, penso que há uma ética social (e colectiva e governamental), cujo falhanço esta crise revelou com estrondo. Mas a citada frase do Papa diz o essencial e o mais urgente: é preciso mudar os paradigmas.

Os últimos dias foram pródigos em estudos (necessidades dos portgueses, valores, confiança na democracia) e manifestos (dos 28, dos 52). Destes últimos, o espaço mediático deu destaque ao texto dos 28, pessoas que ao longo das últimas décadas tiveram cargos de responsabilidade políticas, governativas e empresariais. Ao contrário, o pensamento dominante escondeu o texto dos 52, cuja importância e argumentação vale também pelos trajectos profissionais e cívicos de muitos dos seus subscritores.

O paradigma que nos tem dominado - do lucro a qualquer custo, da destruição do planeta, do espezinhamento da dignidade das pessoas e dos direitos dos trabalhadores, das novas formas de escravatura - é que está em causa: foi ele que nos levou a este beco de desesperança em que nos querem fuzilar. Por isso, sigamos com atenção o seminário da CNJP. E um alerta: como não abundarão as notícias sobre ele, vale a pena ver a SIC Notícias, que promete entrevistar sábado, às 23 horas, o presidente da comissão.

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