quinta-feira, 30 de julho de 2009

Se a religião não fizer parte da solução, será parte do problema

“É a democracia compatível com a religião?”, pergunta Esther Mucznik no “Público” de 30 de Julho de 2009. “A resposta não oferece dúvidas. Todos os grandes regimes democráticos convivem com a fé religiosa dos seus cidadãos, inclusive com uma cultura religiosa dominante. Dos EUA à Indonésia, da Índia à França, a democracia convive com a religião de forma tanto mais harmoniosa quanto maior for a liberdade religiosa. A condição de uma plena vivência democrática não é a ausência de Deus, mas sim a autonomia da esfera política, tome esta a forma que tomar, seja o laicismo a la française ou o comunitarismo religioso inglês”, escreve a investigadora em assuntos judaicos.

Esther Mucznik sintetiza o modo como os três monoteísmos se relacionam com o Estado. O cristianismo é geneticamente separatista (porque nasceu com um Estado, o Império Romano, constituído e por causa do “a César o que é de César, a Deus o que é de Deus”), mas só não caiu na "tentação teocrática" porque esta foi vencida pelo Estado moderno. O judaísmo não distingue político e religioso. Se Israel é hoje um “Estado relativamente laico”, “em que a lei é feita por um parlamento eleito por sufrágio universal e não pelos sábios da Torá”, é porque foi fundado por europeus imbuídos de ideias europeias, socialistas ou liberais. No Islão, “a mensagem do profeta precedeu o Estado, que foi concebido como um instrumento da religião”. Daí que o “islão seja a religião de Estado em praticamente todos o lado, numa relação de forças por vezes instável e conflituosa, como se vê actualmente no Irão”.

Esther Mucznik cita Madeleine Albright, Secretária de Estado de Bill Clinton, que diz acreditar “fortemente” na separação da religião e do Estado ("Público", 20 de Julho), D. Manuel Clemente, que afirma que a presença do islão nas sociedades europeias não deve ser encarada como ameaça mas sim como um desafio, e o rabino Jonathan Sacks, que disse que “se a religião não fizer parte da solução, será parte do problema”. Refere ainda a “criação inédita no Ministério dos Negócios Estrangeiros [francês] de um «Pólo Religiões»”, porque, em certos países, fazer política é falar de religião e inversamente.

Informação adicional: O “Pólo Religiões” é dirigido por Joseph Maila, antigo reitor do Instituto Católico de Paris (aqui).

1 comentário:

Bruno Moreira Campos disse...

Só o facto de citar a sra. Esther Mucznik está tudo dito em relação ao conteúdo do texto, mas é a minha modesta opinião.