quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

FEC promove ciclo de conversas "Alternativas em debate"



O grupo “Alternativas - Cristianismo e Mudança”, uma iniciativa da FEC - Fundação Fé e Cooperação (ONGD), que reúne diferentes personalidades e organizações de identidade cristã, promove três conversas abertas, ao fim da tarde, durante o mês de Março.

Uma proposta para o tempo de Quaresma que quer pensar o desenvolvimento humano tendo a cidadania global como chave de leitura. Descobrir novos caminhos para a economia comum e para o bem-estar de cada pessoa e das comunidades. Parar e olhar para os sinais dos tempos e as inquietações da actualidade. Redescobrir o potencial de cada pessoa e o seu papel na sociedade.

Convidámos várias pessoas de diferentes áreas, que nos darão um olhar cruzado sobre a realidade e perspectivas reflectidas de acção.

6 de Março, 3ª feira, 18h
Sinais dos Tempos: a questão económica e as perspectivas éticas

Sofia Santos (ISCTE Business School) e Francisco Sarsfield Cabral (Economista e Director de informação da Rádio Renascença), Moderação de Luís Mah (Investigador do CESA- ISEG)

Como ponderar esta questão na realidade da banca portuguesa? Os bancos devem incluir uma análise de riscos ambientais e sociais com o objectivo de potenciar uma sociedade mais equilibrada e justa a médio-longo prazo? Os bancos devem ser vistos como agentes pró-activos do desenvolvimento sustentável através da inclusão de “valores morais e de cidadania” na sua gestão?

20 de Março, 3ª feira, 18h
Cristianismo e Mudança: inquietações comuns, diversidade de respostas

António Marujo (Jornalista) e Graham Mcgeoch (Pastor da Igreja da Escócia), Moderação de Laurinda Alves(Jornalista)

Esta conversa põe em diálogo dois crentes de diferentes confissões cristãs (Católico e Presbiteriano), que procuram responder com a sua vida aos desafios das realidades e tempos que vão atravessando. Quais as principais inquietações que sentem e que caminhos de resposta vão encontrando? Que papel tem Deus na política, na economia, na sociedade? Quais os principais desafios aos crentes e às Igrejas, em diálogo com a sociedade?

30 de Março, 6ª feira, 18h
Das nossas acções ao Desenvolvimento Global: entre as políticas e a participação

Jan Vandemoortele (Ex-Director do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), co-arquitecto dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio).

Que grandes desafios a integrar na agenda global do desenvolvimento? Qual o papel das Igrejas? Qual o papel da sociedade civil? Que reformas das Instituições Internacionais? Qual o papel dos países ditos em desenvolvimento e ditos desenvolvidos (como Portugal?).

Local: Livraria Ferin (www.ferin.pt) - Rua Nova do Almada, 70-74, Lisboa (Chiado). Entrada livre.
(Informação da FEC).

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Há riscos de se vir a instalar uma "cultura de medo e submissão" nas empresas, denuncia Grupo da Comissão Justiça e Paz


O Grupo Economia e Sociedade (GES) da Comissão Nacional Justiça e Paz acaba de publicar o documento Reflexões em torno do “Acordo de concertação social 2012”

, no qual denuncia "os riscos de que venha a instalar-se uma cultura de medo e submissão entre os cidadãos", pelo "poder discricionário" que aquele acordo instaura a favor do patronato.
O "uso e abuso" desse poder poderá ter graves consequências em matéria de "despedimentos, de diminuição de férias e fixação de horário de trabalho", observa o GES, lembrando que "situações de trabalho, que pressionam os cidadãos trabalhadores para aceitarem condições injustas, apresentadas como “inevitáveis”, não favorecem a democracia nem na empresa nem no contexto mais amplo da sociedade".
O documento faz notar que a concretização do Acordo de concertação social 2012 e seu impacto na economia e na sociedade "vai depender quer da legislação que vier (ou não!) a ser aprovada quer da dinâmica que o mesmo vier a gerar por parte dos parceiros sociais e das relações sociais".
Nesta tomada de posição, o Grupo da Comissão Nacional Justiça e Paz faz apelo "à responsabilidade particular que cabe aos gestores cristãos na viabilização de relações laborais que em tudo salvaguardem a dignidade dos trabalhadores, a condição subjectiva do trabalho humano, a conciliação do trabalho com a vida familiar, o direito universal aos bens e demais orientações do Pensamento social da Igreja".

Ler o documento na íntegra: AQUI

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Os alertas dos operários católicos ibéricos

“Todo o apoio financeiro dado aos bancos e toda a desregulamentação laboral favorável às empresas e aos empresários não revertem a favor da criação de mais postos de trabalho, muito menos da valorização do trabalho digno e justamente remunerado.” A denúncia está no comunicado final do encontro da Liga Operária Católica/Movimento de Trabalhadores Cristãos, de Portugal, e da HOAC – Hermandad Obrera de Acción Católica, de Espanha, cujas direcções reuniram de 6 a 9 de Fevereiro, no Seminário de Almada.
No documento, os responsáveis da LOC/MTC e da HOAC afirmam que as suas convicções de trabalhadores cristãos, “fundamentadas nos Evangelhos e na Doutrina Social da Igreja”, dizem que “o reconhecimento prático dos direitos sociais serve de barómetro da qualidade democrática de uma sociedade, porque mede também o grau de aplicação da justiça”. E acrescentam: “É preciso afirmar com convicção no momento actual que a defesa dos direitos sociais é um dever de justiça. Dever vinculado à afirmação de um princípio básico de humanidade, o destino universal dos bens, que João Paulo II concretizou de uma forma que tem hoje um grande valor para orientar a nossa vida e ação: ‘As necessidades dos pobres devem ter preferência sobre os desejos dos ricos: os direitos dos trabalhadores, sobre o aumento dos benefícios’.”
No dia em que largos milhares de pessoas se manifestam em Lisboa contra a precariedade, vale a pena atentar no que dizem as direcções dos movimentos de Acção Católica Operária da Península Ibérica. Sobre as medidas que estão a ser tomadas por toda a Europa, escrevem que elas apenas levam ao equilíbrio dos défices, através de políticas de cortes em direitos sociais (educação, saúde, habitação e outros apoios sociais).”. Pelo contrário, observam ainda as direcções dos dois movimentos, “não se aplicam outras medidas que podiam levar a um aumento de proveitos financeiros para o Estado, como sejam impostos sobre as grandes fortunas e todas as transações financeiras, combate à fraude fiscal e à economia paralela”. E concluem: “É imperativo que o apoio financeiro aos bancos e às empresas seja fiscalizado de forma a ser garantida a manutenção e criação dos postos de trabalho e a sustentabilidade social e familiar dos trabalhadores.”
No comunicado, a LOC/MTC e a HOAC manifestam ainda “muita preocupação” com “as altas taxas de desemprego existentes em cada país” – quase 14 por cento em Portugal, mais de 22 por cento em Espanha. “Esta multidão de desempregados é empurrada para a pobreza e a exclusão social, onde a sua dignidade não é reconhecida e a realização pessoal e familiar é cada vez mais difícil de acontecer.”
As taxas de desemprego entre os jovens são também preocupantes, lê-se no comunicado, que acrescenta ainda referencias aos imigrantes e à saída de empresas para outros países, bem como às condições de trabalho cada vez mais “precárias e fragilizadas: são as constantes revisões da legislação laboral que retiram direitos alcançados em concertação social e contratação colectiva; são os contratos desregulados, os horários flexíveis, os tempos de trabalho incertos, a redução dos salários e o despedimento individual e colectivo facilitado.”
Perante a falta de confiança, os dois movimentos propõem-se “ajudar a criar uma nova consciência, uma nova mentalidade, uma nova cultura, uma nova maneira de pensar, sentir e actuar, que contrarie o ambiente de desmotivação, de alheamento e de medo vivido pelos trabalhadores e pelos cidadãos empobrecidos”.(Foto de Francisco Duarte Marujo) 

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Colóquio no Vaticano sobre pedofilia: para a cura e a renovação


Começou nesta segunda-feira em Roma um colóquio que pretende estabelecer uma estratégia eficaz de combate aos abusos sexuais de membros do clero. A notícia que resume o que está em debate na iniciativa, com o título “Para a cura e a renovação”, pode ser lida aqui.
O Papa Bento XVI enviou entretanto uma mensagem que foi lida no início do encontro. Nela, o Papa pede uma profunda renovação da Igreja, afirmando que a cura do sofrimento das vítimas deve ser uma preocupação fundamental para as comunidades cristãs.  Bento XVI pediu ainda, na sua mensagem, que se instaure “uma vigorosa cultura de efectiva salvaguarda e apoio das vítimas”. 
Na abertura do colóquio, o cardeal William Levada, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, afirmou que, na última década, o Vaticano recebeu mais de quatro mil denúncias de casos de pedofilia.
As intervenções que se irão suceder até esta quarta-feira podem ser lidas aqui. E no sítio do Vaticano na internet há uma secção especial dedicada a este tema. 

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Quando a laicidade se torna ateísmo de Estado


A problemática da laicidade e da secularização continua a ser um campo de difícil compreensão, quando não é terreno de equívocos e mais ou menos minado. Também entre nós.
Jean Baubérot © Bertrand Guay / AFPSobre esta matéria, saiu em França a obra "La Laïcité Falsifiée" (Éd. La Découverte), da autoria de Jean Baubérot, professor honorário da cátedra de História e Sociologia da Laicidade da École Pratiques des Hautes Études. Le Monde des Réligions acaba de publicar uma entrevista com o autor, que enuncia alguns dos equívocos e desafios que em torno da laicidade atravessam a sociedade e a política francesas, nomeadamente a tendência a "reduzir a laicidade à visibilidade da religião no espaço público e a uma neutralidade aplicada não somente ao Estado mas também aos indivíduos, ou pelo menos a alguns deles".
É bastante instrutiva a leitura da entrevista. Fica aqui apenas este excerto, relativo à "confusão entre laicidade e secularização":
Espera-se da laicidade, até hoje, que permita viver relações diversas com a secularização em harmonia social, independentemente de se estar próximo ou distante da religião, do ponto de vista doutrinal, dos ritos, etc.
A laicidade não tem, assim, que impor às pessoas que se secularizem, dado que isso constitui um atentado à sua liberdade de consciência. Ora, atualmente, confunde-se laicidade e secularização, e o Alto Conselho da Integração chega mesmo a reivindicá-lo de forma ostensiva, ao declarar que "numa sociedade secularizada, não é possível fazer isto ou aquilo." Isso é totalmente errado, já não é laicidade mas algo que comporta elementos de um ateísmo de Estado. Pretende-se forçar então certos grupos populacionais a secularizarem-se, o que por um lado é totalmente ineficaz, uma vez que a história mostra que cada vez que se quis minar a liberdade de religião o que se conseguiu foi um endurecimento contra as pessoas e, por  outro lado, isso revela uma total incompreensão daquilo que visa a laicidade.

(Ler: La laïcité en France, un athéisme d'État?")
(Crédito da foto: Jean Baubérot © Bertrand Guay / AFP)