A coluna de Anselmo Borges no Diário de Notícias deste sábado toma os 50 anos do Concílio Vaticano II como motivo. O pretexto foi a realização de um Curso de Verão sobre o assunto, dirigido pelo teólogo Juan Jose Tamayo, na semana passada, em Santander, na UIMP (Universidade Internacional Menéndez Pelayo).
As mudanças desencadeadas na Igreja sumaria-as o autor, recorrendo ao diretor da iniciativa:
"De uma Igreja que se considerava uma sociedade perfeita passou-se à Igreja como comunidade de crentes. Do mundo como inimigo da alma ao mundo como lugar da vivência da fé. Da condenação da modernidade e das religiões não cristãs ao diálogo multilateral. Da condenação dos direitos humanos ao seu reconhecimento e proclamação. Da condenação da secularização à sua defesa, no sentido do reconhecimento da autonomia das realidades temporais. Da Igreja imutável e imóvel à Igreja que deve estar em constante reforma. Do integrismo católico ao respeito pelas outras crenças. Do autoritarismo centralizado em Roma à colegialidade episcopal. Da Cristandade ao cristianismo. Da pertença à Igreja como condição necessária para a salvação à liberdade religiosa como direito humano fundamental. De uma Igreja europeia a uma Igreja verdadeiramente universal".Limites e assuntos não tratados ou mesmo silenciados neste grande evento eclesial e internacional do século XX são mencionados no texto, bem como as contradições das últimas décadas , em especial, o avanço do restauracionismo.
Anselmo Borges alude ao desejo manifestado por alguns setores eclesiais de um Vaticano III. O fator económico é apontado como um óbice. Se fosse esse o principal motivo.... Seguramente que nos nossos dias seria possível pensar um modelo de concílio completamente diferente dos do passado. E mais eficiente, sem abdicar naturalmente de sessões deliberativas presenciais, mas combinadas com outros modelos de participação.
Não seria de espantar que enquanto for viva a geração dos que de algum modo fizeram o Vaticano II e permanecer na Cúria a memória do que então se passou, houvesse medo do que aconteceria, caso um (novo) Papa decidisse voltar a tal convocação.
Mas o mistério da Igreja passa pelo sopro da surpresa, quando ele menos se espera. Os historiadores do Vaticano II registam os olhares de espanto e de incredulidade dos cardeais da Cúria, quando João XXIII, que tinha sido escolhido na expetativa de nada de relevante vir a fazer, dada a sua avançada idade, lhes anunciou a disposição de convocar um concílio - que não era para terminar o Vaticano I, dramaticamente interrompido. E muitos alimentaram, nos meses subsequentes ao anúncio, a esperança de que a iniciativa não se chegasse a concretizar, por morte do Papa.
Mas a surpresa que pode vir é também resultado das - e resposta às - tensões e desafios que advêm da vivência do evangelho no quotidiano e nas diferentes partes do mundo. Dar rosto à mensagem de Jesus, hoje e aqui, é a via que preparará os dias que virão. É a vitalidade de uma fé solidária e esclarecida, traduzida em obras que sejam sinal do cuidado pelos que necessitam, que pode renovar e, em última análise, salvar a Igreja.
(Ler o texto integral de Anselmo Borges AQUI)
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