sábado, 28 de dezembro de 2013

A alegria de ler Francisco (11) - Os últimos e a política

Na sua crónica do DN desta sexta-feira, José Manuel Pureza escreve sobre “Os últimos e a política”, a partir da exortação Evangelii Gaudium, do Papa Francisco:

Há uma exigência ética essencial no tempo que estamos a viver: ouvir o clamor dos pobres e devolver-lhe o que lhes cabe. A advertência feita por Francisco, o Papa, na sua exortação apostólica Evangelii Gaudium (EG) coloca um critério claro na condução do nosso quotidiano: "Assumir a opção pelos últimos, por aqueles que a sociedade descarta e deita fora" (EG 195) como prioridade.
Estar com os últimos, fazer deles a razão de ser das nossas escolhas, impõe coisas difíceis a que a bolsa de valores deste tempo não dá cotações altas. Impõe, desde logo, pôr em causa o endeusamento da propriedade como limite das possibilidades das políticas. Ao contrário do pensamento que tem norteado o desmantelamento do contrato social na Europa, para o qual o que é da titularidade dos pobres é frágil por natureza e o que é da titularidade dos ricos é sagrado por definição, Francisco coloca a propriedade privada como realidade subordinada ao destino universal dos bens: "A posse privada dos bens justifica-se para cuidar deles e os fortalecer, de modo a servirem melhor o bem comum" (EG, 189). 

O texto pode ser lido aqui na íntegra.


terça-feira, 24 de dezembro de 2013

A terra: de vale de lágrimas a lugar onde Deus colocou a sua tenda


Deus está connosco e continua a confiar em nós.
É generoso o Deus nosso Pai.
Vem habitar com a Humanidade.
Escolhe a terra como sua morada.
A terra já não é um vale de lágrimas,
mas o lugar onde Deus colocou sua tenda,
o lugar da Sua solidariedade com o Homem.
Ainda mais surpreendente:
A sua presença não aconteceu num mundo ideal,
mas no mundo real, cheio de guerras e prepotência ...
Ele decidiu viver na nossa história tal como ela é.
Jesus é Deus connosco.

Papa Francisco
18.12.2013

domingo, 22 de dezembro de 2013

Inquérito sobre a família até final do mês

O inquérito sobre a família, que prepara o Sínodo dos Bispos católicos do próximo ano, está disponível para resposta no RELIGIONLINE, através desta ligação, até final deste mês de Dezembro. O inquérito pretende aferir a opinião dos crentes católicos obre a realidade das famílias contemporâneas, incluindo questões como as uniões de facto, as uniões homossexuais e os divorciados que voltaram a casar. Ao mesmo tempo, pede-se opinião sobre os modos como as comunidades católicas e a Igreja no seu conjunto devem lidar com essas várias questões e com temas como a contracepção.
A iniciativa do blogue, mobilizando para a resposta ao inquérito, foi apresentada neste texto.
Mais tarde, publicámos uma segunda nota chamando a atenção para os problemas de tradução (que incluíam a transformação de uma pergunta numa afirmação) – e que pode ser lida aqui


Músicas que falam com Deus (23) - para o tempo de Natal#8 - 'Messias' de Handel: tempo para ouvir uma obra sublime

Um convite que, nos tempos agitados natalícios, é também desafio: guardar à volta de duas horas e meia para ouvir e seguir «Messias», uma obra sublime de Georg Friedrich Händel, com mais de 270 anos.



A execução e interpretação é da London Symphony Orchestra e a direção está a cargo de Sir Colin Davis. Este vídeo tem a co-produção da BBC e foi gravado em Londres em 2006.

Para melhor fruir esta obra:
- Ler Libreto (texto): AQUI (com tradução em Português: AQUI)
- Ler partitura: AQUI
- Sobre a história e visão geral desta oratória de Händel: AQUI.

Desembrulhar o Natal

Crónica – À Procura da Palavra
P. Vítor Gonçalves

"…será chamado ‘Emanuel’, que quer dizer ‘Deus connosco’”.
(Evangelho de S. Mateus 1, 23 - Domingo IV do Advento, ano A)




O título ficou-me na memória e a reportagem de domingo passado da revista do Diário de Notícias também. Por entre os embrulhos natalícios e o que se compra ou se gostaria de comprar, Diana Cruz, psicóloga clínica e Susana Albuquerque, especialista em educação financeira, foram respondendo a questões simples e práticas sobre os “natais embrulhados” que se vivem. Os desejos e as necessidades, especialmente das crianças, mas no fundo de todos nós, não podem ser exageradamente satisfeitos nesta onda consumista em que o Natal se pode transformar. “Se uma criança aprende que pode ter tudo, que a sua vontade não pode ser contrariada e que vale todos os sacrifícios dos pais ou de quem dela cuida, então temos uma criança que recebe mas não vive e não valoriza”, dizia Diana Cruz. Curiosamente são o diálogo e a verdade que se partilha entre pais e filhos as grandes armas para combater o fuzilamento publicitário a que todos estamos sujeitos.
“Desembrulhar o Natal” não terá só a ver com presentes, mas com a atenção renovada uns aos outros, a descobrir como são pequenas coisas que nos fazem felizes, que é bom estarmos juntos e que por mais bonitos que sejam os papéis que embrulham a vida, o seu interior é ainda mais belo. É uma experiência interior que o Natal de Jesus nos propõe. Pode já não ser surpresa este milagre do Filho de Deus nascer menino, de se terem “esbatido” as fronteiras entre o céu e a terra e até ultrapassadas as fronteiras entre raças e línguas. Podemos montar os presépios como uma tradição sem alma, que se repete porque está no calendário. Mas o convite a encontrar e acolher o “Deus connosco” dentro de nós é permanente. Encontrar Jesus no meio dos nossos medos e feridas, dos sonhos adormecidos e desta sede de ser amado não é fácil. Parece inconcebível que Deus venha à nossa vida embrulhada simplesmente porque nos quer bem, sem dedo apontado aos erros que teimamos em não esquecer (e se Ele é Deus esquecerá muito menos, não é?). Continua a ser difícil acreditar que se “Ele está no meio de nós” (não como um fantasma ou o “homem invisível”) é porque nos quer oferecer a alegria de estarmos com Ele. Pena é que quando dizemos que alguém “está com Deus” normalmente estamos a falar de um falecido!
Mais do que passarmos pelo Natal, deixemos que ele fique em nós. Que o encontro com Jesus possa ir mais fundo, a levar luz ao que permanece escuro em nós e no mundo. Que ninguém fique às escuras mesmo com as ruas iluminadas, e todas as realidades humanas saboreiem um pouco deste divino que nos é oferecido. Que importa não ter tudo quando temos o mais importante? Que importa ainda não estar tudo bem quando Deus arrisca pisar esta terra e fazer caminho connosco? Que importam as oportunidades perdidas quando a melhor oportunidade para amar é esta, que Deus nos dá, agora mesmo? Desembrulhemo-nos, e façamos Natal!

(in Voz da Verdade 22.12.2013; ilustração reproduzida daqui)

sábado, 21 de dezembro de 2013

Ser religioso, ser inconformista – Deus ainda tem futuro?


Se a palavra “Deus” deixasse de existir, isso significaria que o ser humano deixaria de se colocar a questão do sentido da sua existência, voltaria a ser apenas um homo faber. Essa é uma das ideias defendidas por Anselmo Borges, coordenador dos colóquios Igreja em Diálogo, no programa “Deus ainda tem futuro?”. Esta reportagem de Manuel Vilas Boas, que passou na TSF a 10 de Novembro, escutou biblistas, teólogos, filósofos, cientistas e sociólogos originários de Portugal, Espanha e França para debater a questão das formas de presença de Deus nas sociedades contemporâneas – e do modo como as comunidades religiosas vivem essa experiência.
“A religião tem um futuro, mesmo se não somos religiosos do mesmo modo que o fomos antes”, diz Jean-Paul Willaime, um dos mais importantes nomes da sociologia religiosa contemporânea e outro dos participantes e entrevistados no programa. Willaime acrescenta que, hoje, ser religioso, é ser inconformista.
O programa tem como ponto de partida a edição de 2013 do colóquio Igreja em Diálogocom o mesmo título, que decorreu no Seminário da Boa Nova, em Valadares. Nele se incluem ainda depoimentos dos cientistas portugueses Carlos Fiolhais e Miguel Castelo Branco e dos teólogos Juan Masiá, Andrés Torres Queiruga, Isabel Gomez-Acebo (de Espanha) e Paul Valadier (França). O programa pode ser escutado aqui.

Os 98 sinos podem cair – Viagem pelos tectos e telhados do Convento de Mafra



São 98 sinos, que custaram 400 mil reis – o que equivaleria hoje a quase dois euros. Estes instrumentos históricos estão, apesar de intervenções técnicas realizadas há alguns anos, em avançado estado de destruição: alguns dos sinos dos carrilhões do convento de Mafra podem podem cair a qualquer momento.
Já em 2013 foi escorado um dos maiores sinos, que tem nove toneladas de peso, mas a situação é muito grave, a avaliar pelo que dizem os especialistas. Colocados em 1730, os sinos de Mafra já tocaram muitos concertos de carrilhão. Vários deles, aliás, foram editados num disco de 1994 cuja capa se reproduz ao lado e que contou com a participação dos carrilhonistas Arie Abbenes, Todd Fair, Abel Chaves e Francisco José Gato.
Neste programa de Manuel Vilas Boas, que passou na TSF a 8 de Dezembro, viaja-se pelos tectos e telhados do convento de Mafra e fala-se da situação dramática dos sinos, que estão em risco de cair. Participam no debate Mário Pereira, director do Convento, José Nelson Cordeniz, investigador sineiro da Universidade Nova de Lisboa, Francisco José Gato, antigo carrilhonista de Mafra e Ana Elias, da nova geração de carrilhonistas. A sonoplastia é de Mésicles Helin e o programa pode ser escutado aqui.

(foto cedida por Mário Pereira/Convento de Mafra)


quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Respeitar e actualizar biografias – a reutilização de mosteiros e conventos


(foto: Mosteiro de Tibães, objecto de intervenções recentes de recuperação; © Daniel Rocha)

O património não existe, antes o fazemos todos os dias quando olhamos para um edifício, por exemplo. Essa é uma das ideias defendidas pelo arquitecto espanhol Celestino Garcia Breña, um dos participantes neste programa sobre a reutilização de mosteiros e conventos. Outras ideias que passam por esta emissão são as de que a memória desses edifícios e lugares não pode perder-se e que a resposta à pergunta sobre a melhor forma de os utilizar hoje em dia é aquilo que pedir a vida das pessoas e dos próprios edifícios – ou seja, respeitar a biografia dos sítios, mas acrescentar-lhe as nossas actuais biografias.
A crise vocacional na Igreja Católica levou à perda de grandes conjuntos monásticos, enquanto outros renasceram com a recuperação e reutilização dos seus espaços, convertidos por exemplo em hotéis e pousadas. Um encontro sobre esta temática realizou-se há cerca de dois meses no mosteiro de Alcobaça, onde Manuel Vilas Boas debateu, com alguns investigadores, a questão da reutilização de conventos e mosteiros de Portugal e Espanha, entregues à ruína e abandono. No debate participam ainda os também arquitectos Domingo Posuelo, João Carlos dos Santos e Manuel Lacerda.