Joaquim Fidalgo é um companheiro e amigo de longa data, daqueles que, seguramente, nos deixariam mais pobres se não os tivéssemos um dia conhecido. Depois de uma longa e rica carreira jornalística, mantém uma coluna à quarta-feira, no Público, cuja leitura é, quase sempre, um tempo de respiro e de contacto com dimensões profundas da vida. Coisas simples: gestos, pessoas, cheiros,paisagens, reparos, poesia.
Hoje, escreveu sobre padres, vistos do lado da "senhora Maria": a falta deles, a falta de quem pense lucidamente a falta deles.
Registo aqui a parte final (a crónica completa - e recomendada - pode também ser consultada no site do jornal):
"(...) Cito dos jornais: "O director do Centro de Estudos Sociais e Pastorais da Universidade Católica Portuguesa, Marinho Antunes, afirmou (...) que em dez anos o número de padres activos em Portugal vai reduzir-se para metade, comprometendo a prática dominical." Cito mais: "(...) Marinho Antunes frisou que a média etária dos padres se situa actualmente entre os 63 e os 65 anos." Li bem? Deixa ver... Exactamente: entre os 63 e os 65 anos!
Já há, portanto, poucos padres - como bem sabe a senhora Maria. E os poucos que há são, na grande maioria, de avançada idade. E menos vai haver ainda, pois não aparecem novos para render os que se vão finando. Daqui a dez anos, haverá metade dos já poucos de hoje.
Às tantas, nada disto aconteceu por acaso. Mas aconteceu e continua a acontecer. E o que é que pensa, e o que é que faz - para além da penosa medição das estatísticas - quem manda por aquelas bandas?
Se já nem há padres que cheguem para as encomendas, a questão pode pegar-se de dois modos: ou se insiste nos padres, ou se reflecte nas encomendas. A senhora Maria preferia que continuasse a haver padres, padres como antigamente, e missas como desde há décadas. Mas se calhar ainda ninguém lhe explicou bem que os caminhos da relação com Deus e com a Igreja fazem-se de muitas e variadas maneiras, de muitas e variadas "missas". Quem não lhe explica essas coisas é quem, se calhar, só consegue lamentar-se por haver hoje tão poucos padres - em vez de tentar perceber por quê. E deitando desanimadamente as culpas para "este nosso tempo".
Mas não é "neste nosso tempo" que a Igreja quer existir e descobrir lugar? Ou prefere ficar à espera de um milagre?"
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