sexta-feira, 18 de outubro de 2002

"Temos Que Renunciar a Quê, para nos Entendermos? "é o título de uma peça de Esther Mucznick, hoje, no Público. Nela dá a notícia da fundação, em Lisboa, há poucas semanas, da Associação Universos, associação para o diálogo inter-religioso."A Universos não é uma associação confessional ou religiosa, nem pretende converter ou formar adeptos em nenhuma religião.
É uma associação de pessoas individuais (e não de comunidades) que tem como objectivos proporcionar um conhecimento maior das várias tradições religiosas, promover o estudo e o debate crítico do fenómeno religioso e contribuir para o desenvolvimento pacífico, justo e solidário dos indivíduos e povos, nomeadamente através de um diálogo aberto".
Comentando esta iniciativa, escreve E. Mucznick:
"Esta associação não surge por acaso. Ela é o reflexo de uma presença étnica, cultural e religiosa cada vez mais diversificada e numerosa em Portugal, que se dá fundamentalmente depois do 25 de Abril (e que se tem vindo a acelerar nos últimos anos) e é significativa de uma vontade de reflexão conjunta sobre este fenómeno. Mais do que isso: a Universos reflecte igualmente o interesse crescente a nível internacional pelo fenómeno religioso e, nomeadamente depois do 11 de Setembro, a angústia e preocupação pela instrumentalização da religião e pelo incremento da violência religiosa.
Não é pois de admirar que, embora ainda no início da sua actividade, a Universos congregue já no seu seio pessoas representativas das mais diversas sensibilidades religiosas presentes em Portugal: hindus, budistas, muçulmanos, católicos, cristãos ortodoxos, coptas e judeus começaram a trilhar um caminho em conjunto que embora incerto é, sem dúvida, extraordinariamente inovador, pelo menos em Portugal.
(...)O que significa hoje o tão badalado "diálogo inter-religioso", e como levá-lo a cabo, não são questões fáceis de responder.
Em primeiro lugar, acredito que o objectivo do diálogo inter-religioso deve ser o assumir de compromissos: não sobre as questões teológicas ou doutrinárias, mas compromissos para a acção que sejam realmente um contributo para a paz e para uma convivência harmoniosa das pessoas. Não entendo o diálogo inter-religioso apenas como um objectivo mediático, e muito menos como fazendo parte da "missão evangelizadora" ou dito de uma forma mais prosaica, a tentativa de convencer o outro. A ser assim nunca passará de monólogos paralelos, sem consequências práticas.
Porque é disso que se trata. É evidente que a troca de ideias, o debate e a reflexão são, em si mesmos, estimulantes e fundamentais. Mas só cumprirão realmente o seu papel quando contribuírem para alterar o nosso comportamento e o nosso relacionamento, no sentido de um maior conhecimento e entendimento entre os seres humanos. Nunca é demais repeti-lo: a principal função do diálogo inter-religioso é contribuir para tornar o mundo melhor e não mais judaico, mais cristão ou mais muçulmano. (...)".

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