domingo, 31 de março de 2013
Via-sacra portuguesa
Um trabalho de Sónia Morais Santos, com fotografia de Orlando Almeida/Global Imagens, publicado na revista do JN e DN Notícias Magazine de hoje. A ler AQUI.
Fica a abertura:
"Precariedade. Desemprego. Empresas que fecham. Pessoas que são obrigadas a entregar as casas ao banco. Gente carregada de dívidas. E créditos. Que se vê na rua. Sem dinheiro para alimentar os filhos. Pais de crianças com necessidades especiais com outros dramas para lá do óbvio. Portugueses que deixam o país, e pior do que o país, a família, em busca de melhor vida. Em busca de uma vida. Reformados com reformas decepadas. Indignas. Fome. Desespero. Suicídios. Crise. Troika. Impostos. Endividamento. Carência. Austeridade. Os portugueses carregam uma cruz. Uma cruz demasiado pesada para as suas costas. São abertura de todos os noticiários, manchete de todos os jornais, tema de acalorados debates. Parecem percorrer uma espécie de via-sacra, o caminho percorrido por Jesus do Pretório de Pilatos até ao monte Calvário. Hoje, dia de Páscoa, em que se recorda a morte e se celebra a Ressurreição de Cristo, a Notícias Magazine traça o paralelo entre a via-sacra e o pedregoso caminho que muitos portugueses estão a percorrer, em tempos de crise."
sexta-feira, 29 de março de 2013
Jesus: o seu trono real é o madeiro da Cruz!
"Para que entra Jesus em Jerusalém? Ou talvez melhor: Como entra Jesus em Jerusalém?
A multidão aclama-O como Rei. E Ele não Se opõe, não a manda calar (cf. Lc 19, 39-40).
Mas, que tipo de Rei seria Jesus?
Vejamo-Lo… Monta um jumentinho, não tem uma corte como séquito, nem está rodeado de um exército como símbolo de força.
Quem O acolhe são pessoas humildes, simples, que possuem um sentido para ver em Jesus algo mais; têm o sentido da fé que diz: Este é o Salvador.
Jesus não entra na Cidade Santa, para receber as honras reservadas aos reis terrenos, a quem tem poder, a quem domina; entra para ser flagelado, insultado e ultrajado, como preanuncia Isaías na Primeira Leitura (cf. Is 50, 6); entra para receber uma coroa de espinhos, uma cana, um manto de púrpura (a sua realeza será objecto de ludíbrio); entra para subir ao Calvário carregado com um madeiro.
E aqui temos a segunda palavra: Cruz. Jesus entra em Jerusalém para morrer na Cruz. E é precisamente aqui que refulge o seu ser Rei segundo Deus: o seu trono real é o madeiro da Cruz!
Vem-me à mente aquilo que Bento XVI dizia aos Cardeais: Vós sois príncipes, mas de um Rei crucificado. Tal é o trono de Jesus. Jesus toma-o sobre Si…
Porquê a Cruz? Porque Jesus toma sobre Si o mal, a sujeira, o pecado do mundo, incluindo o nosso pecado, o pecado de todos nós, e lava-o; lava-o com o seu sangue, com a misericórdia, com o amor de Deus.
Olhemos ao nosso redor… Tantas feridas infligidas pelo mal à humanidade: guerras, violências, conflitos económicos que atingem quem é mais fraco, sede de dinheiro, que depois ninguém pode levar consigo, terá de o deixar.
A minha avó dizia-nos (éramos nós meninos): a mortalha não tem bolsos. Amor ao dinheiro, poder, corrupção, divisões, crimes contra a vida humana e contra a criação!
E também – como bem o sabe e conhece cada um de nós-os nossos pecados pessoais: as faltas de amor e respeito para com Deus, com o próximo e com a criação inteira.
E na cruz, Jesus sente todo o peso do mal e, com a força do amor de Deus, vence-o, derrota-o na sua ressurreição. Este é o bem que Jesus realiza por todos nós sobre o trono da Cruz.
Abraçada com amor, a cruz de Cristo nunca leva à tristeza, mas à alegria, à alegria de sermos salvos e de realizarmos um bocadinho daquilo que Ele fez no dia da sua morte".
Papa Francisco, na homilia do Domingo de Ramos
A multidão aclama-O como Rei. E Ele não Se opõe, não a manda calar (cf. Lc 19, 39-40).
Mas, que tipo de Rei seria Jesus?
Vejamo-Lo… Monta um jumentinho, não tem uma corte como séquito, nem está rodeado de um exército como símbolo de força.
Quem O acolhe são pessoas humildes, simples, que possuem um sentido para ver em Jesus algo mais; têm o sentido da fé que diz: Este é o Salvador.
Jesus não entra na Cidade Santa, para receber as honras reservadas aos reis terrenos, a quem tem poder, a quem domina; entra para ser flagelado, insultado e ultrajado, como preanuncia Isaías na Primeira Leitura (cf. Is 50, 6); entra para receber uma coroa de espinhos, uma cana, um manto de púrpura (a sua realeza será objecto de ludíbrio); entra para subir ao Calvário carregado com um madeiro.
E aqui temos a segunda palavra: Cruz. Jesus entra em Jerusalém para morrer na Cruz. E é precisamente aqui que refulge o seu ser Rei segundo Deus: o seu trono real é o madeiro da Cruz!
Vem-me à mente aquilo que Bento XVI dizia aos Cardeais: Vós sois príncipes, mas de um Rei crucificado. Tal é o trono de Jesus. Jesus toma-o sobre Si…
Porquê a Cruz? Porque Jesus toma sobre Si o mal, a sujeira, o pecado do mundo, incluindo o nosso pecado, o pecado de todos nós, e lava-o; lava-o com o seu sangue, com a misericórdia, com o amor de Deus.
Olhemos ao nosso redor… Tantas feridas infligidas pelo mal à humanidade: guerras, violências, conflitos económicos que atingem quem é mais fraco, sede de dinheiro, que depois ninguém pode levar consigo, terá de o deixar.
A minha avó dizia-nos (éramos nós meninos): a mortalha não tem bolsos. Amor ao dinheiro, poder, corrupção, divisões, crimes contra a vida humana e contra a criação!
E também – como bem o sabe e conhece cada um de nós-os nossos pecados pessoais: as faltas de amor e respeito para com Deus, com o próximo e com a criação inteira.
E na cruz, Jesus sente todo o peso do mal e, com a força do amor de Deus, vence-o, derrota-o na sua ressurreição. Este é o bem que Jesus realiza por todos nós sobre o trono da Cruz.
Abraçada com amor, a cruz de Cristo nunca leva à tristeza, mas à alegria, à alegria de sermos salvos e de realizarmos um bocadinho daquilo que Ele fez no dia da sua morte".
Papa Francisco, na homilia do Domingo de Ramos
quinta-feira, 28 de março de 2013
Em Jesus, Deus move-se em direção a nós
"O que significa seguir Jesus em seu caminho no Calvário para a Cruz e a ressurreição?
Em sua missão terrena, Jesus percorreu os caminhos da Terra Santa; chamou 12 pessoas simples para que permanecessem com Ele, compartilhando o seu caminho e para que continuassem a sua missão; escolheu-as entre o povo cheio de fé nas promessas de Deus.
Falou a todos, sem distinção, aos grandes e aos humildes, ao jovem rico e à pobre viúva, aos poderosos e aos indefesos;
levou a misericórdia e o perdão de Deus;
curou, consolou, compreendeu;
doou esperança;
levou a todos a presença de Deus que se interessa por cada homem e cada mulher, como faz um bom pai e uma boa mãe para cada um de seus filhos.
Deus não esperou que fôssemos a Ele, mas foi Ele que se moveu para nós, sem cálculos, sem medidas.
Deus é assim: Ele dá sempre o primeiro passo, Ele move-se em direção a nós.
Jesus viveu a realidade quotidiana do povo mais comum: comoveu-se diante da multidão que parecia um rebanho sem pastor; chorou diante do sofrimento de Marta e Maria pela morte do irmão Lázaro; chamou um cobrador de impostos como seu discípulo; sofreu também a traição de um amigo. Nele Deus nos doou a certeza de que está connosco, no meio de nós.
“As raposas – disse Ele, Jesus – as raposas têm suas tocas e as aves do céu os seus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde repousar a cabeça” (Mt 8, 20). Jesus não tem casa porque a sua casa é o povo, somos nós, a sua missão é abrir a todos as portas de Deus, ser a presença do amor de Deus".
Papa Francisco, na Audiência Geral de 27.03.2013
Em sua missão terrena, Jesus percorreu os caminhos da Terra Santa; chamou 12 pessoas simples para que permanecessem com Ele, compartilhando o seu caminho e para que continuassem a sua missão; escolheu-as entre o povo cheio de fé nas promessas de Deus.
Falou a todos, sem distinção, aos grandes e aos humildes, ao jovem rico e à pobre viúva, aos poderosos e aos indefesos;
levou a misericórdia e o perdão de Deus;
curou, consolou, compreendeu;
doou esperança;
levou a todos a presença de Deus que se interessa por cada homem e cada mulher, como faz um bom pai e uma boa mãe para cada um de seus filhos.
Deus não esperou que fôssemos a Ele, mas foi Ele que se moveu para nós, sem cálculos, sem medidas.
Deus é assim: Ele dá sempre o primeiro passo, Ele move-se em direção a nós.
Jesus viveu a realidade quotidiana do povo mais comum: comoveu-se diante da multidão que parecia um rebanho sem pastor; chorou diante do sofrimento de Marta e Maria pela morte do irmão Lázaro; chamou um cobrador de impostos como seu discípulo; sofreu também a traição de um amigo. Nele Deus nos doou a certeza de que está connosco, no meio de nós.
“As raposas – disse Ele, Jesus – as raposas têm suas tocas e as aves do céu os seus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde repousar a cabeça” (Mt 8, 20). Jesus não tem casa porque a sua casa é o povo, somos nós, a sua missão é abrir a todos as portas de Deus, ser a presença do amor de Deus".
Papa Francisco, na Audiência Geral de 27.03.2013
terça-feira, 26 de março de 2013
Documento revelador sobre intenções do novo Papa
Igreja deve romper com a auto-referencialidade e sair para as periferias
A história vem hoje no jornal espanhol Religion Digital. O Cardeal Bergoglio fez uma intervenção numa das reuniões do colégio dos cardeais, na fase pré-conclave. O seu colega Cardeal Jaime Ortega, de Cuba, ficou entusiasmado com o que ouviu e perguntou àquele que viria a ser o futuro Papa se tinha algum texto escrito. Bergoglio disse que não, mas, entretanto, redigiu umas notas e entregou-lhas, dando autorização para que as utilizasse. A mesma autorização viria a reiterar, uma vez eleito para o exercício do ministério petrino. Jaime Ortega revelou estes episódios numa liturgia que ocorreu no sábado passado em Havana. Entretanto, a revista da diocese, Palabra Nueva, publicou esse documento que é, sem dúvida, importante e que aqui damos em tradução para português (conferir com o original aqui):
"Foi feita referência à evangelização. É a razão de ser da Igreja. - "A doce e reconfortante alegria de evangelizar" (Paulo VI). - É o próprio Jesus Cristo, que, de dentro, nos impulsiona.
1 - Evangelizar supõe zelo apostólico. Evangelizar supõe para a Igreja a ousadia de sair de si mesma. A Igreja é chamada a sair de si mesma e ir para as periferias, não só geográficas, mas também existenciais: as periferias do mistério do pecado, da dor, da injustiça, da ignorância e desprezo rleativamente à religião, do pensamento e de toda a miséria.
2 - Se a Igreja não sair de si mesma para evangelizar torna-se auto-referencial e, em seguida, fica doente (cf. a mulher do evangelho, dobrada sobre si própria) . Os males que, ao longo do tempo, se verificam nas instituições eclesiais têm raíz na auto-referencialidade, uma espécie de narcisismo teológico. No Apocalipse Jesus diz que ele está à porta e chama. Obviamente, o texto refere-se ao bater de fora da porta para entrar ... Mas penso também nas vezes em que Jesus bate do lado de dentro para que o deixemos sair para fora. A Igreja auto-referencial busca Jesus Cristo dentro de si e não o deixa sair.
3 - Quando é auto-referencial, a Igreja, involuntariamente, acredita ter luz própria, deixa de ser mysterium lunae e dá lugar a esse mal tão grave que é o mundanismo espiritual (que, de acordo com de Lubac, é o pior mal que pode acontecer à Igreja). Esse é um viver em que uns glorificam os outros. Simplificando, há duas imagens da Igreja: a Igreja evangelizadora que sai de si - a Dei Verbum religiose audiens et fidenter proclamans; ou Igreja mundana que vive em si, de si e para si. Isto deve lançar luz sobre as possíveis mudanças e reformas que devem ser feitas para a salvação das almas.
4 - Pensando no próximo Papa: [que seja] um homem que, a partir da contemplação e adoração de Jesus Cristo, ajude a Igreja a sair de si para as periferias existenciais, que a ajude a ser mãe fecunda que vive da "doce e reconfortante alegria de evangelizar ".Notas:
- No ponto 2, foi usada a expressão 'sair para fora'. É óbvio pleonasmo, mas pareceu que, no contexto, dava força à ideia.
- No ponto 3, a expressão latina mysterium lunae é uma forma metafórica de referência à Igreja que, tal como a lua, não tem luz própria, recebe-a do sol que é Cristo.
- Dei Verbum religiose audiens et fidenter proclamans [escutando piedosamente a Palavra de Deus e proclamando-a com confiança] é a abertura, da versão em latim da Constituição Dogmática Dei Verbum sobre a Revelação Divina, do Concílio Vaticano II.
(Crédito da foto dos apontamentos do Papa: Valores Religiosos)
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Papa Francisco
segunda-feira, 25 de março de 2013
Carta Aberta a Belmiro de Azevedo
Exmo. Senhor Belmiro de Azevedo,
Escrevemos-lhe na sequência de declarações suas no Clube dos Pensadores, em Vila Nova de Gaia, no dia 18 deste mês. O jornal PÚBLICO, no dia seguinte, na sua edição on-line noticiava que o senhor afirmara “não perceber por que motivo se diz que a economia não deve ser baseada em trabalho de custo reduzido”. E o diário fazia eco das suas próprias palavras: “Diz-se que não se devem ter economias baseadas em mão-de-obra barata. Não sei por que não. Porque se não for a mão-de-obra barata, não há emprego para ninguém”.
Por outro lado, durante a sua intervenção no Clube dos Pensadores – ainda segundo o PÚBLICO –, o senhor referiu-se às manifestações dos portugueses contra as medidas de austeridade que o país tem vindo a assistir, cada vez com mais veemência, que elas representam “quase um Carnaval, mais ou menos, permanente”.
As suas declarações ensombraram os nossos corações por revelarem falta de sensibilidade para com os cidadãos, vítimas de modelos de governação caracterizados por má gestão, que agora são penalizados nos seus mais elementares direitos constitucionais – redução de salários, quer seja por via do sistema de impostos, diretos ou indiretos, quer seja na retirada de direitos através da anulação de prestações sociais, como é o caso gravoso no âmbito da Saúde; redução do valor de pensões de reforma e de subsídio de desemprego, cujo financiamento já havia sido garantido pelos trabalhadores, durante a sua vida ativa; eliminação de medidas de apoio social, como decorre da alteração do quadro de concessão de abonos de família ou de apoios suplementares às baixas pensões de sobrevivência…
As suas palavras, sobretudo, causaram-nos perplexidade, particularmente por serem proferidas por quem é responsável por mais de 30 mil trabalhadores. A sua experiência empresarial deveria, em nosso entender, ter-lhe concedido o conhecimento suficiente de que uma empresa só é possível sobreviver com a mais-valia da “mão-de-obra”, seja ela braçal ou intelectual. Aliás, a sua riqueza pessoal avaliada em 1,45 mil milhões de dólares (mais 450 mil dólares do quem em 2012), segundo a revista FORBES, não foi certamente conseguida apenas com o seu esforço pessoal. A sua subida em 129 posições, neste ano, no ranking dos mais ricos de todo o mundo face ao ano anterior, só foi possível, seguramente, graças ao bom desempenho profissional de cada um dos seus 30 mil trabalhadores.
Onde está o teu irmão?
A citação bíblica, colocada acima, somente pretende centrar as razões desta carta. Não nos movem quaisquer interesses de ordem partidária ou de qualquer outro tipo de agremiações sociopolíticas. Somos cidadãs e cidadãos empenhados em diferentes áreas sociais, de forma voluntária, norteando-nos somente o desejo de uma Humanidade co-responsável e fraterna.
O que nos mobiliza é o desejo de uma sociedade fundada na ética, cujo primeiro valor é o respeito pelo ser humano, em todas as suas dimensões, como recorda Dionigi Tettamanzi, ex-arcebispo de Milão, no seu livro Não há futuro sem solidariedade – A crise económica e a ajuda da Igreja (*). A propósito, parece-nos oportuno fazer referência a “duas perguntas inevitáveis” que o bispo Tettamanzi coloca logo no início daquele seu livro: “Poderá considerar-se ética uma economia que, no centro, não põe o homem, mas o lucro a obter a todo o custo? Que responsabilidade tem – sobre as dificuldades do momento presente – aquela finança virtual que perdeu de vista a economia real centrada no bem-estar da comunidade e dos indivíduos?”. E o ex-arcebispo de Milão conclui: “Não tenho dúvidas: a ética não é um acrescento à economia, mas é o seu fundamento.”
As suas declarações no Clube dos Pensadores não refletem estas preocupações. As suas palavras revelam, antes, uma leviandade; a leviandade de quem afortunadamente vive despreocupado, porque, como o senhor afirmou, pretende viver à custa de “economias baseadas em mão-de-obra barata”.
Por outro lado, as manifestações de dor e de revolta perante as injustiças levadas a cabo por sucessivos Governos no nosso país (e ultimamente agravadas), não as consideramos “um Carnaval, mais ou menos, permanente.” Autêntico “Carnaval” – para usar a sua expressão – têm sido as contínuas medidas que, há mais de dois anos, configuram um verdadeiro desrespeito pela Constituição e pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, descredibilizando os agentes políticos e financeiros que nelas se empenham. E recordamos-lhe alguns dos danos que aquelas medidas têm ultimamente causado à generalidade dos portugueses:
– Dados do Instituto Nacional de Estatística, relativos ao primeiro trimestre de 2012, indicam que a média das remunerações pagas tiveram uma quebra de 6 por cento, relativamente ao mesmo período de 2011, devido à redução da remuneração média por trabalhador e à queda do emprego;
– O subsídio de desemprego e o subsídio social de desemprego passou de uma cobertura de 70,3 por cento, no 4º trimestre de 2009, para 47,4 por cento três anos depois. E não esquecendo que este é um apoio inalienável, dado que os trabalhadores já haviam descontado para ele nas suas remunerações mensais, recordamos que um desempregado com uma prestação média de 502 euros tem, a partir de 2012, um corte de 10 por cento ao fim de 6 meses, ao que se junta, com a aprovação do Orçamento de Estado de 2013, um novo corte permanente de 6 por cento. O valor daquele subsídio passa a ser de 425 euros, mensalmente;
– Em 2009, antes da aplicação das medidas de austeridade aprovadas pelos sucessivos Governos, o Abono de Família atingia perto de 1 milhão e oitocentas mil crianças e jovens. Em Outubro do ano passado, este número abrangia pouco mais de 1 milhão. Os governantes consideraram um luxo a referência de 5 salários mínimos para atribuição deste apoio social, restringindo-o agora às famílias cujos rendimentos mensais de referência não ultrapassem os 628 euros;
– Na área da Saúde, porque os cortes são tantos e tão significativos, particularmente nos meios auxiliares de diagnóstico, torna-se quase impossível enumerá-los. Recordamos somente que a despesa pública de Portugal por habitante é das mais baixas da média da União Europeia – 66 por cento da despesa total, no nosso país, enquanto a média da UE situa-se nos 75 por cento. Como exemplo, referimos que em Novembro de 2011 o aumento das taxas moderadoras afastou 1800 pessoas das urgências dos hospitais públicos. Talvez desconheça que o preço-base do recurso a uma consulta na urgência hospitalar passou de 9,60 euros para 20 euros. Entretanto, enquanto as últimas notícias dão conta de racionamento de medicamentos básicos em diversos hospitais públicos, como recentemente foi denunciado por estruturas do Hospital de Coimbra, o coordenador do Plano Nacional para a Saúde Mental da Direção-Geral de Saúde, Álvaro Carvalho, anota: "Temos cada vez mais informações sobre doentes que avisam que não vão comparecer às consultas por falta de dinheiro para o transporte”. E lembra aquele médico que privados de tratamento, os doentes mentais correm sérios riscos.
Uma longa lista de injustiças poderia ainda ser enumerada. Todavia, parece-nos importante sublinhar o seguinte: as alterações nos escalões de IRS, que significam um corte considerável nos ordenados e pensões de reforma, têm levado ao empobrecimento da maioria dos portugueses. Como exemplo, e não o mais gritante, referimos que um casal de reformados em que ambos recebem mensalmente 500 euros de pensão conseguia recuperar todo o IRS retido na fonte. Com as taxas em vigor para os rendimentos de 2012, e com o novo sistema de deduções à coleta, aquele casal irá pagar ainda mais 83 euros de IRS. Enquanto isto, este ano, 884 milhões de euros do Orçamento de Estado serão entregues às parcerias público-privadas, negócio efectuado por diversos Governos e nunca devidamente explicado, enquanto no BPN serão colocados mais de 4 mil milhões de euros, através de garantias bancárias e dos crescentes custos de reprivatização. Finalmente, os juros da chamada dívida pública – sobre cuja origem os cidadãos nunca foram corretamente informados por nenhum governante – irão custar aos portugueses 8,6 mil milhões de euros, cerca de 28 por cento do total da receita de IRS e dos impostos indiretos arrecadados em 2013. Recorde-se que este valor ultrapassa a despesa do Estado em Saúde e Educação…
A voz do sangue do teu irmão levanta-se da terra até mim…
A atual “crise”, não devidamente explicada e resultante de negócios nunca esclarecidos entre os dirigentes políticos e interesses financeiros privados – recordem-se as permanentes derrapagens orçamentais das obras encomendadas pelo Estado e a apetência revelada, mutuamente por políticos e empresas, pelo desenvolvimento das designadas parcerias público-privadas –, está a causar sofrimento a um incalculável número de famílias; um sofrimento impossível hoje de avaliar na sua verdadeira extensão, em resultado dos prejuízos materiais e humanos que acarreta. Para lhe possibilitar um melhor conhecimento da realidade, em Fevereiro passado, diariamente, 21 famílias deixaram de poder pagar empréstimos à banca…
“A crise que estamos a viver ou, melhor dizendo, a sofrer, tem por base os traços e as características da avidez, do enriquecimento fácil alicerçado na aposta e revestido pela pátina dourada da grande finança que, nos últimos anos, se originou e estruturou com rápido e grande sucesso. Um enriquecimento, de poucos, baseado na criação de riqueza imediata; centrado naquela lógica especulativa que leva ao ganho usando a Bolsa…”.
Estas palavras certeiras de Dionigi Tettamanzi remetem-nos para o texto bíblico citado. Na verdade, o cenário descrito pelo ex-arcebispo de Milão é que pode ser considerado um verdadeiro “Carnaval”, pelo que representa de uma luxúria financeira apenas ávida de lucros…
Não se trata de um manifesto contra os empresários que arriscam o investimento em favor do bem comum, mas tão-só um sublinhar que o fundamento das empresas reside naqueles que nelas entregam, quotidianamente, as suas vidas: os trabalhadores. Aliás, são sublimes as palavras do bispo Tettamanzi a propósito do dever ético dos investidores: “Ao dar prioridade absoluta ao capital sobre o trabalho, isto é, ao dinheiro em relação às pessoas, esta onda especulativa acaba por transformar as estruturas da economia e das finanças – que devem ser um instrumento ao serviço do bem-estar coletivo – num mecanismo de exploração de muitos para interesse da avidez de poucos, como demonstra o crescimento indiscriminado da desigualdade nos últimos decénios e o alargamento do fosso entre os pobres (cada vez mais pobres e mais numerosos) e os ricos (cada vez mais ricos e menos numerosos).”
Um modelo que o senhor, pelas palavras que proferiu no Clube dos Pensadores, parece desejar perpetuar… Nós, os subscritores desta carta, sabemos, porém, que um outro mundo é possível. E dele, nos diversos locais onde trabalhamos voluntariamente pelo bem comum, já vislumbramos pequenos sinais. Quase imperceptíveis, constituídos por gestos que, parecendo insignificantes, vão alterando localmente muitas sociedades e que, um dia, se hão-de tornar em decisões globais. Porque acreditamos que “a economia provém do homem e exige que permaneça ao seu serviço”, como recorda o bispo Dionigi Tettamanzi.
Finalmente, senhor Belmiro de Azevedo, já se imaginou a viver, mensalmente, com 485 euros? Este é o salário mínimo que o senhor parece ainda considerar exagerado…
Com consideração,
comunidade grão de mostarda – Emília Torres e Mário Robalo
Maria Isabel Tenreiro dos Santos Monteiro
António Schiappa Cabral
Rui Pedro Rodrigues Vasconcelos
Maria Adelaide Carvalho Miranda
Inês Nabais
Madalena Cruz
Cristina Fabião
Sérgio Gonçalves
Maria Eunice M. Alves
Maria de Lurdes França Rocha
Maria Clara Ferreira Seabra Sá
Paulo da Conceição Fernandes França
Luis Manuel Dias Coelho Soares Barbosa
Abel Oliveira Magalhães
Sérgio Paulo da Cunha Cabaço
Ana Nunes
José Neves
Maria Conceição Rangel Silva
Maria de Fátima Silva Machado
Filomena Marcos
Rodolfo Sousa
Maria Paula Constantino
Célia Santiago
Gustavo Sousa
Rui Filipe Correia Santiago
Constantino Gonçalves Alves
Fernanda Antunes
Adérito Marcos
Isabel Maria Roque dos Santos
Carlos Manuel Simões Dinis Gomes
Manuel Pinto
Emília Alexandre
Neftali Ricardo Seabra Delgado
Lia Seabra Delgado
Diana de Vallescar
Rosa Soares Nunes
Fernando Paulo Morais Fabião
Duarte Miguel Barcelos Mendonça
Zulmira da Conceição Pinto Correia Antunes
Ana Cristina Rito Aço Martins
António Campelo
Pedro Jorge Santos Freitas
Estela Pinto Ribeiro Lamas
Natalia Abel Fernández García
Victoriana Breogán López Udías
Ana Vicente
Maria Rosalina Freitas
Jaime Freitas
Joaquim Póvoas Chambel
Valentim Gonçalves
Maria Fernanda Macedo Tavares
Carlos Maria Antunes
Teresa Rita Lopes
Bruno Alexandre Mareca Lopes
Filipa Maria Roncon de Vilhena e Silva
23 de março de 2013
(*) Dionigi Tettamanzi, ex-arcebispo de Milão (Itália), perante sinais evidentes de pobreza, resultantes do colapso financeiro, decidiu, em 2008, instituir na sua diocese um fundo de um milhão de euros destinados ao apoio a desempregados, cuja situação não lhes permitisse manter com dignidade a sua família. O fundo, proveniente de poupanças do próprio bispo, de capitais da diocese e do valor doado nas declarações de IRS para instituições de caridade da diocese, permanece activo, em resultado de uma solidariedade permanente.
Contacto:
graodemostardacomunidade@gmail.com
[Texto da carta enviada hoje, via CTT, pela Comunidade Grão de Mostarda]
[Texto da carta enviada hoje, via CTT, pela Comunidade Grão de Mostarda]
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domingo, 24 de março de 2013
Mulheres anunciadas
No
dia em que a Igreja Católica celebra a Anunciação, 13 mulheres, escritoras e
actrizes, lêem poesia inspirada no lado feminino do mundo. A iniciativa, que
pretende também evocar as mulheres como povo de Deus, decorre na Capela do Rato,
em Lisboa, a partir das 21h30 desta segunda-feira, dia 25. Intervêm na sessão Alice Vieira, Carla Chambel, Carminho,
Cleia Almeida, Filipa Leal, Glória de Matos, Leonor Xavier, Lia Gama, Maria
Barroso, Maria do Rosário Pedreira, Maria Teresa Horta, Suzana Borges e Teolinda
Gersão.
Antes da leitura de poemas, será feita uma apresentação da
sessão pelo padre José Tolentino Mendonça e haverá uma curta intervenção de Ana
Vicente, do movimento Nós Somos Igreja.
Fica aqui, como aperitivo, um poema de uma das
autoras que serão lidas nesta iniciativa:
Eu te amo, homem, hoje como
toda vida quis e não sabia,
eu que já amava de extremoso amor
o peixe, a mala velha, o papel de sede e os riscos
de bordado, onde tem
o desenho cômico de um peixe – os
lábios carnudos como os de uma negra.
Divago, quando o que quero é só dizer
te amo. (…)
Aprendo. Te aprendo, homem. O que a memória ama
fica eterno. Te amo com a memória, imperecível.
Te alinho junto das coisas que falam
Uma coisa só: Deus é amor. (…)
(Adélia Prado, Para
o Zé, in Poesia Reunida; ilustração: Ilda David', Cântico dos Cânticos)
Encontro em Lisboa: “Um novo Papa, uma nova Igreja?”
A eleição do novo Papa, a escolha do seu nome, os seus primeiros gestos e discursos surpreenderam muita gente, dentro e fora do espaço católico. O que se viveu nos últimos dias significa que estaremos no início de um processo de mudanças significativas na Igreja Católica ou apenas na forma de exercer o papado?
Para debater esta questão e as expectativas do pontificado do Papa Francisco, três jornalistas que estiveram nas últimas semanas em Roma - António Marujo, Joaquim Franco e Manuel Vilas Boas - promovem o Encontro “Um novo Papa, uma nova Igreja?”, que terá lugar nesta terça-feira, dia 26, entre as 10h00 e as 13h00, no Centro de Estudos Sociais-Lisboa (Picoas Plaza, Rua do Viriato, 13 – Lj. 117/118).
Participam neste Encontro quatro oradores de várias proveniências:
- Isabel Galriça Neto (médica e deputada do CDS-PP)
- Teresa Toldy (teóloga, investigadora do CES e professora da Universidade Fernando Pessoa)
- Fernando Ventura (frade franciscano)
- Alberto Brito (padre jesuíta, provincial da Companhia de Jesus em Portugal).
Estarão igualmente presentes vários jornalistas que, em Roma, acompanharam o conclave e a eleição do novo Papa.
Esta actividade é uma colaboração entre os jornalistas que têm dinamizado os encontros sobre Religião e Media e o Policredos – Observatório para a Diversidade Cultural e Religiosa na Europa do Sul, do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. A entrada e participação são livres.
No rescaldo da cobertura do conclave e dos primeiros dias do Papa Francisco
Testemunho de dois jornalistas portugueses
Na semana finda, regressaram a Portugal a maior parte dos jornalistas que estiveram no Vaticano a fazer a cobertura da eleição do Papa Francisco. Ficam aqui leituras "a quente" dos jornalistas António Rego e António Marujo, imediatamente após o encontro do Papa com os perto de seis mil profissionais dos media:
Na audiência do Papa Francisco com os media - o testemunho de dois jornalistas portugueses
Na audiência do Papa Francisco com os media - o testemunho de dois jornalistas portugueses
quinta-feira, 21 de março de 2013
Humildade e auto-suficiência
"A humildade é o que garante a presença do Senhor:
quando alguém é auto-suficiente
e tem respostas para todas as perguntas,
isso é a prova de que Deus não está com ele;
a presunção percebe-se em todos os falsos profetas
e nos líderes religiosos que estão equivocados,
que usam a religião para [satisfazer] o seu próprio ego".
Jorge Mario Bergoglio, atual Papa Francisco, no seu livro "Il cielo e la Terra" ("Céu e Terra"), escrito com o rabino Abraham Skorka.
segunda-feira, 18 de março de 2013
Francisco de seu nome
Texto publicado no diário Página 1 de hoje, dia 18.3.2013
(Clicar na imagem para ampliar)
Para ler o texto de Enzo Bianchi:
Il Pontifice che si è fatto uomo
domingo, 17 de março de 2013
Que surpresas ainda aí vêm?
O
novo Papa – ou bispo de Roma, como ele gosta de se referir a si mesmo – ainda
não proferiu a homilia “programática” da missa de início do pontificado, o que
acontecerá terça-feira. Mas Francisco deixou já largos sinais do que será a sua
missão. A começar, claro, pela escolha do nome, que ele mesmo afirmou inspirar-se
em Francisco de Assis (poderia ser também o jesuíta Francisco Xavier,
evangelizador do Oriente, e Francisco de Sales, padroeiro dos jornalistas, mas
ele referiu já por duas vezes que era apenas o “poverello” a sua inspiração). Sábado,
na audiência aos jornalistas que vieram a Roma para acompanhar a Sede Vacante,
o Conclave e o início do novo pontificado, exclamou: “Ah, como queria uma
Igreja pobre e dos pobres!”
Enunciado
este que é já um vasto programa, que surpresas nos trará este novo Papa? No La
Stampa deste domingo, o prior da comunidade de Bosé, Enzo Bianchi, escreve que
Francisco é um Papa “que se fez homem” e cujas intervenções são “actos de
linguagem”. Diria que a própria maneira como este homem se apresenta e saúda
qualquer pessoa é em si um acto de linguagem, de uma Igreja que deve estar
próxima e despojada.
Acaba
de o fazer esta manhã, após a missa na paróquia do Papa, que se encontra dentro
do Vaticano: no final veio para a porta saudar uma a uma as pessoas que lá
estiveram, sempre bem disposto, sempre sorridente (memórias de João XXIII e
João Paulo I), sempre próximo. No final do Angelus, despediu-se como qualquer
amigo se despediria: “Bom domingo e bom almoço.” E, pelo meio, ainda fez humor: ao citar um livro do cardeal Walter Kasper sobre a misericórdia, acrescentou: "Não pensem que faço publicidade aos livros dos meus cardeais."
Na
missa de início de pontificado na terça-feira ou no encontro de quarta-feira com
os “delegados fraternos” das outras confissões cristãs, não me espantaria se o
Papa Francisco anunciasse alguma iniciativa que continuasse os actos de
linguagem destes primeiros dias: um gesto simbólico para com os protestantes e
ortodoxos, um processo conciliar ou sinodal da Igreja Católica ou uma decisão que
concretizasse a ideia do despojamento e a pobreza enunciada no nome de
Francisco.
Num
outro texto da imprensa italiana desta manhã, o cardeal Gianfranco Ravasi
escreve no Il Sole 24 Ore que o Papa dedicará o seu pontificado a “sair para o meio
das pessoas, deixar os limites do tempo e misturar-se nas redes globais”. E
acrescenta que as culturas juvenis, as questões pesadas da bioética no campo
científico e o a “interculturalidade multiforme que se baseia no diálogo e no
confronto” estarão também na agenda deste pontificado.
quinta-feira, 14 de março de 2013
Diário de um conclave (3) - Uma eleição que é apenas um começo
A
eleição de Jorge Mario Bergoglio como Papa Francisco após um curto conclave de
cinco votações teve já vários sinais do que pode ser este novo pontificado: o
primeiro programa deste homem está no nome: foi preciso um jesuíta para
homenagear a figura de Francisco de Assis no nome escolhido para Papa. Nem
sequer Francisco Xavier, o grande evangelizador do Oriente, também jesuíta como
Jorge Bergoglio, esteve presente no momento da escolha do nome, sabemos já,
pelas informações dadas há pouco mais de uma hora pelo patriarca de Lisboa a um
grupo de jornalistas portugueses.
Segundo
sinal: a forma como Francisco se apresentou na loggia da basílica de São Pedro
foi de um contraste absoluto com a formalidade, o ritual, a pompa e a
ostentação que predominam ainda no Vaticano. Vestido apenas com a batina
branca, o novo Papa recusou as restantes vestes que lhe estavam preparadas,
confirmou também o patriarca de Lisboa.
O
pedido de que os fiéis presentes na praça rezassem a Deus pelo Papa, recebendo
assim a bênção da multidão, foi o terceiro sinal desta ruptura que a Igreja
Católica vive deste há um mês. “Servo dos servos de Deus” era um dos títulos
antigos que o Papa usava, talvez o único que deveria ser utilizado. Francisco é
um servidor da comunidade e não o seu chefe. Como servidor, deve propor
dinâmicas, escutar e traçar orientações. Quem se inclina para pedir a bênção
está claramente à escuta da presença de Deus no meio do seu povo.
Quarto:
o Papa Francisco nunca se referiu a si mesmo – nem a Bento XVI – como Papa, mas
como bispo de Roma. E disse que esta Igreja (a de Roma) preside às outras na
caridade. Tal referência remete para a primeira metade da história do
cristianismo. E traz ao de cima a necessidade e urgência de rever o modelo do
papado, mais de acordo com essa tradição dos primeiros séculos, do que com o
peso que o último milénio e sobretudo o Renascimento e a Contra-Reforma lhe
deram. Uma atitude destas irá, na sequência da encíclica Ut Unum Sint, de João
Paulo II, provocar finalmente o debate sobre o lugar do bispo de Roma como
“primus inter pares” na Igreja universal e já não como o chefe supremo, a quem
todos devem obediência. “Agora, começamos este caminho: bispo e povo”, disse
Francisco. Esta frase está no oposto do modelo do papado que tem predominado
nos últimos séculos.
Finalmente,
a referência à humanidade como uma “grande irmandade” ou “grande fraternidade”.
Tudo
está por fazer e um Papa não muda uma Igreja. Mas os primeiros sinais são de
muita esperança. Esta eleição é apenas o começo de uma mudança urgente.
(Foto: a Praça de São Pedro no primeiro dia do conclave; cedida por Andrés Gutierrez)
(Foto: a Praça de São Pedro no primeiro dia do conclave; cedida por Andrés Gutierrez)
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