Na crónica deste domingo no Público, frei Bento Domingues regressa ao tema da Bíblia para se referir também a uma presença portuguesa na Escola Bíblica e Arqueológica de Jerusalém: a de frei Francolino Gonçalves. Excertos do texto:
1.Nos confrontos, que vi e li, com José Saramago, por causa das suas declarações sobre Deus, as religiões e a Bíblia, a insistência recaía sempre no mesmo: “Saramago pronuncia-se, de forma rotunda, acerca do que ignora”. Ele, pelo contrário, declarava que conhecia suficientemente a Bíblia e os malefícios das religiões para poder dizer o que disse.
Longe de mim pensar que estes confrontos, nos meios de comunicação – atingem multidões –, sejam totalmente inúteis, embora não possam vencer a sua inerente superficialidade. Nestes casos, cada um reforça as suas posições. Quem não gosta de Saramago fica confortado: ele pensa que sabe tudo e não sabe. Quem gosta dos seus livros, das suas opções políticas e culturais lamenta o tom dos seus pronunciamentos, mas não perde a fé no escritor. (...)
2. De qualquer modo, este foi um tempo glorioso para a Bíblia, em Portugal. Veremos se terá ou não consequências duradoiras.
(...) O famoso dominicano Marie-Joseph Lagrange (1855-1938) fundou, em 1890, no meio de suspeitas e proibições, a Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É o mais antigo centro de pesquisa bíblica e arqueológica da Terra Santa, estabelecido nos espaços do convento dominicano de St-Étienne, convento fundado, em 1882, sob o nome de Escola Prática de Estudos Bíblicos, sublinhando a sua especificidade metodológica. Coroando anos e anos de investigação e de publicações científicas, surgiu a famosa Bíblia de Jerusalém (1956). Na altura, os exegetas insistiram na sua grande diferença: além da tradução dos originais do hebraico, aramaico e grego, apontava a contextualização histórica, dentro do ambiente físico e cultural, relativo à época em que cada livro foi escrito. Era uma obra que reflectia "a união do monumento e do documento", na linha de Lagrange, ligando "a arqueologia, a crítica histórica e a exegese dos textos". (...)
3. O catolicismo português viveu bastante alheio não só à revolução que tinha acontecido na investigação da Bíblia e dos seus mundos, como ao próprio movimento bíblico das Igrejas. Já não estamos, propriamente, nessa situação. Sem pretender fazer a história da viragem, temos de realçar o grande trabalho que os Padres Capuchinhos começaram a desenvolver a partir de 1951. (...) Na Internet é fácil medir o volume desse esforço. (...)
Este ano, muitos portugueses foram surpreendidos com a nomeação do dominicano, Francolino Gonçalves, para a Comissão Bíblica Pontifícia. Não admira. Está há 40 anos, investigando e ensinando, na já referida Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. (...) É urgente que um conjunto de estudos de Francolino Gonçalves, absolutamente fundamentais, dispersos por revistas portuguesas de escassa tiragem, seja publicado numa edição que destaque a sua importância para a cultura nacional.
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