sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Sergio Bastianel: o estilo de vida na Europa e a justiça económica




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“Dentro da Igreja, na pregação habitual, mantém-se uma desproporção entre o peso que se dá a alguns problemas como o aborto, e aquele que se dá a questões de justiça social. Fora da Igreja, há um problema análogo: o estilo de vida contemporâneo na Europa seria seriamente posto em causa se a justiça económica internacional fosse tomada a sério.”
A afirmação foi feita há onze anos pelo teólogo italiano Sergio Bastianel, que esta tarde apresenta em Lisboa duas obras recentes da sua autoria: Entre Possibilidades e Limites (na qual tem funções de autoria e coordenação) e Moralidade Pessoal na História (da qual é autor e uma das suas obras mais importantes) – ambas são edição da Cáritas. A sessão decorre na Livraria da Universidade Católica (edifício da Biblioteca João Paulo II), a partir das 17h. (a tempo: sábado, às 10h30, Bastianel faz na Casa Nossa Senhora do Carmo, do Santuário de Fátima, uma conferência sobre os temas dos seus livros). 
Bastianel, nascido em 1944, padre jesuíta desde os 28 anos e professor na Universidade Pontifícia Gregoriana (Roma), é um dos nomes de topo da teologia moral contemporânea. Numa entrevista que me deu em Março de 2001, para o Público (que pode ser relida no livro Deus Vem a Público, ed. Pedra Angular), antecipava já muitas das dificuldades com que hoje estamos confrontados.
Sobre a transmissão da mensagem da Igreja, dizia: “O problema não é tanto a autoridade, mas a eficácia da transmissão dos valores. O contexto de crise de valores – com entendimentos diferentes mesmo do ponto de vista da compreensão – já não é o de há 40 anos, quando nem todos viviam segundo os princípios, mas estes eram reconhecidos como tal. O problema é possibilitar que as pessoas entendam as razões da afirmação de determinado valor. Isto representa um desafio à transmissão ética porque deve ser a própria pessoa a entender a razão e assumi-la. É aqui que entra a liberdade. A transmissão de valores não é automaticamente eficaz. Posso fazer um discurso correcto, mas o interlocutor não o entender. No plano ético, é importante que o outro entenda.”
A questão do “pecado de Sodoma”, lido durante séculos como sendo referido à homossexualidade, e o modo como a exegese bíblica hoje obriga a mudar a análise de alguns textos, levava Bastianel também a comentar: “A consciência do texto passa através de instrumentos de leitura do texto antigo. Há a leitura de fé, claro, mas a mensagem real de um determinado texto supõe a análise literária – incluindo no exemplo de Sodoma. A mudança de compreensão de um texto pode dizer qualquer coisa diferente, mas não automaticamente. Na teologia moral cristã, a compreensão nunca depende apenas da Escritura. Mas pode acontecer que a mudança de compreensão de textos da Escritura influa no modo de abordar um problema. No texto [referido], fala-se de um pecado que é o da não hospitalidade, uma transgressão de uma regra antiquíssima, e muito importante, em Israel. O que não quer dizer que a homossexualidade seja aprovada. Talvez não resulte de um modo tão primário, tão forte, a condenação deste comportamento, que não constituiu um problema urgente no Novo Testamento.”
Acerca da fome e da miséria no mundo, afirmava Sergio Bastianel: Há um imperativo que atravessa toda a tradição da Igreja, ainda que estejamos em presença de enormes contradições: está ligado ao tema bíblico da terra. A terra e as possibilidades da existência concreta são dadas à família humana e não aos indivíduos. O facto de existir miséria significa que há quem não usa correctamente os bens.”

E as operações de bolsa? “É um jogo de sorte da parte de quem pode permitir-se fazê-lo; e as pessoas fazem-no, fazendo-o pagar aos outros. Do que compreendo, é moralmente não legitimável.”

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