(oração com o irmão Aloïs, em
Praga; foto reproduzida daqui)
Seis sugestões para que os
cristãos se coloquem sobre o mesmo tecto. O irmão Aloïs, prior da comunidade
monástica ecuménica de Taizé, apontou aos mais de 30 mil jovens que
participaram, em Praga, no encontro europeu da “peregrinação de confiança
através da terra”, meia dúzia de propostas que tentam romper atavismos e
bloqueios no diálogo ecuménico.
Partindo de uma citação do livro
de Isaías – “Vou levar os cegos por um caminho que não conhecem” – o irmão Aloïs
afirmou, na meditação final do encontro, na noite de dia 1 de Janeiro: “Aceitemos
avançar por um caminho que não conhecemos à partida (...) Confiemos no Espírito
Santo para que ele nos leve por um caminho que não conhecemos. A sua inspiração
prepara-nos para que nos tornemos autênticas testemunhas de comunhão.”
As sugestões (que podem ser lidas
na íntegra aqui, onde também se transcrevem todas as meditações do irmão Aloïs
durante o encontro) são uma autêntica revolução
coperniciana no modo de ver e concretizar o diálogo ecuménico (mas, poderia
dizer-se, também no modo de encarar a acção pastoral de cada comunidade,
paróquia, movimento...). Elas incluem as propostas de rezar juntos em
comunidades locais, intensificar a colaboração no estudo da Bíblia, no trabalho
social e na catequese ou fazer da igreja principal de cada cidade uma casa de
oração comunitária para todos os cristãos.
O prior de Taizé respondia, deste
modo, a duas perguntas: “Não terá chegado o tempo de dar prioridade à
identidade baptismal comum a todos, que nos une já em Cristo? Hoje, não
deveriam as Igrejas cristãs ousar colocarem-se todas sob um mesmo tecto, antes
mesmo de encontrarem um acordo sobre todas as questões teológicas?”
As outras sugestões deixadas na
mesma ocasião apontam para a continuação do diálogo teológico “num quadro de
oração comunitária”, na possibilidade de as diferentes igrejas imaginarem
formas diversas de referência ao ministério do bispo de Roma e, ainda, na
abertura da “hospitalidade
eucarística aos que manifestam o desejo de unidade e que creem na presença real
de Cristo”.
Procurar as fontes da fé
Na meditação, o irmão Aloïs recordava aos jovens
participantes do encontro, que decorreu desde o dia 29 (segunda-feira passada),
o contexto histórico da cidade onde eram acolhidos: “Nestes dias, vós, as
diversas Igrejas de Praga, acolhestes-nos, protestantes, católicos, ortodoxos.
Estou ainda mais sensibilizado porque vivemos este sinal de unidade no país de
João Hus, cuja morte violenta será recordada no próximo ano. As faltas desta
divisão da Igreja no século XV são partilhadas, mas a sua personalidade leva a
que todos nós nos arrependamos e nos reconciliemos.”
Precisamente na sua primeira
meditação, na noite de 29 de Dezembro, afirmou: “Em Taizé, e julgo que estamos
longe de sermos os únicos, continuamos agradecidos aos povos da Europa Central
e de Leste por terem mostrado que o inesperado era possível.” Recordando a passagem
da peregrinação de confiança por Praga, em 1990, acrescentava: “No nosso
Encontro de 1990, o Presidente da República, Václav Havel, disse-nos: ‘A peregrinação
de confiança através da terra vem ajudar-nos a procurar as fontes da fé e os
novos valores espirituais, perdidos durante as décadas de regime totalitário’.”
Na meditação do dia 30,
acrescentava o prior de Taizé, a comunidade da Borgonha francesa que reúne
monges de origem católica e protestante: “Os cristãos são [na República Checa] certamente
uma minoria. Contudo, há também neste país uma nobre tradição humanista,
alimentada pela arte, a literatura, a pintura, a música. Assim, crentes e não-crentes
sustentam juntos uma corrente que pode resistir ao materialismo insípido que
ameaça as nossas sociedades.”
Reconciliar Rússia e Ucrânia pela
Páscoa
Dez anos depois do encontro europeu realizado em Lisboa, as sugestões e propostas concretas
de Taizé não se ficaram, no entanto, pelo plano eclesial. Na meditação de dia
30, sugeriu o irmão Aloïs que todos os domingos, à noite, os jovens façam, “com
outras pessoas, uma meia hora de silêncio pela paz no mundo”, consagrada “a
confiar a Deus os países e as pessoas que sofrem por causa da violência” e “a
acolher a paz de Cristo em nós, para que nos preparemos a sermos nós mesmos,
nos sítios onde estamos, artífices da paz e da justiça”.
Como forma de concretizar este
desejo de paz, o prior de Taizé acrescentou outra novidade: alguns dos irmãos
da comunidade e jovens de diferentes países da Europa, irão celebrar a Páscoa
(na data da celebração ortodoxa, 12 de Abril), na Rússia, Bielorrússia e Ucrânia.
Com o pretexto do centenário do
nascimento do irmão Roger, dos dez anos da sua morte violenta e dos 75 anos da
fundação da comunidade, o ano de 2015 será, em Taizé, marcado pela ideia da
“nova solidariedade”:
“Nova também porque estamos a enfrentar
desafios desconhecidos: como entrar de forma positiva na mundialização, para
que ela não signifique a opressão dos mais pobres ou das culturas minoritárias?
Como viver num mundo cada vez mais dominado pela técnica? Entre as questões
mais importantes encontram-se sem dúvida as migrações e a ecologia”, disse, na
meditação do final do dia 31.
À questão ecológica e ambiental
referiram-se várias das mensagens enviadas ao encontro por diferentes
responsáveis: o patriarca ortodoxo Bartolomeu pediu aos jovens “que façam das
questões ambientais um campo de construção ecuménico a tempo inteiro”, enquanto
o secretário-geral da Federação Luterana Mundial, Martin Junge, dizia que a
actual geração “herdará as consequências da política e da atitude de inércia
relativamente” ao desafio das alterações climáticas.
“Devemos tratar a criação como
nosso próximo, com amor e esperança, com fidelidade e compaixão”, acrescentava
o patriarca ortodoxo de Constantinopla (Istambul), referindo a cimeira mundial
sobre o clima, que decorrerá durante este ano de 2015.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki
Moon, referia o mesmo tema, afirmando: “Ansiamos alcançar em Paris [na cimeira mundial]
um acordo universal e significativo relativo às alterações climáticas,
desenhado para manter o aumento da temperatura global em menos de 2 graus, que
os cientistas nos dizem ser necessário para evitar um conjunto de consequências
perigosas.” E acrescentava: “Neste momento de conflito e mudança, o mundo
precisa de jovens que falem aos seus iguais e aos mais velhos e que os
encorajem a procurar reconciliação.
Abrir caminhos de liberdade
Também o Papa Francisco se dirigiu
aos jovens participantes do encontro, dizendo-lhes que eles são “convidados a
abrir caminhos de liberdade”. E pedia: “No momento em que a República Checa
celebra os 25 anos do regresso à democracia, não esqueçam, nas vossas orações,
os mártires e os confessores da fé, os homens e as mulheres de boa vontade que
permitiram, pelo seu desinteresse de si mesmos, e por vezes à custa de grandes
sofrimentos, que o seu país reencontrasse o caminho da liberdade.”
(As diferentes mensagens podem ser
lidas aqui na íntegra)
Na oração da noite de 31 de
Dezembro, o irmão Aloïs anunciou que o próximo encontro europeu da peregrinação
de confiança através da terra decorrerá em Valência (Espanha), entre 28 de
Dezembro de 2015 e 1 de Janeiro de 2016.
Na saudação que dirigiu aos
jovens, o cardeal Antonio Cañizares, novo arcebispo de Valência (onde substituiu
o actual arcebispo de Madrid, Carlos Osoro), afirmou: “Será um encontro de
Igreja, um encontro de unidade e de oração pela unidade de todos os cristãos e
será, também, um encontro que pressupõe uma revolução dentro da nossa Igreja
valenciana, para vivermos de perto o que, a partir de Taizé, nos chega a
todos”.
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