Ilustração: Bernadette Lopez (Berna), reproduzida daqui
Os cristãos vivem neste Sábado Santo o dia do grande
silêncio. Referem-se aqui quatro textos sobre o sentido destes dias de Páscoa.
No seu blogue, Domingos Faria escrevia sobre Um modelo da Eucaristia filosoficamente inteligível:
O que estou a
defender é o seguinte: a presença de Cristo na Eucaristia, nos elementos do pão
e do vinho, é um facto institucional que se obtém em virtude da sua instituição
na última ceia pela declaração (...) do próprio Cristo. E isso é um evento novo
que não ocorria antes dessa declaração. Ou seja, só passou a haver presença de
Cristo na Eucaristia nos elementos do pão e do vinho depois dessa convenção
institucional. (...)
Com esta
argumentação, se for plausível, temos um modelo filosoficamente inteligível da
Eucaristia e evitamos compromissos com teorias metafísicas muito controversas.
O objectivo é ter um modelo filosófica e religiosamente adequado, bem como
ontologicamente minimalista. Mas será isto plausível?
Sexta, no DN, sob o título Sexta-Feira Santa,
Anselmo Borges reflectia acerca do sentido da Páscoa de Jesus:
Há uma dívida
incomensurável para com as vítimas inocentes, aqueles e aquelas que não
viveram, multidões de homens, mulheres, crianças, talvez a maioria, cuja
existência foi esmagada pelo opróbrio, a miséria, a ignomínia, o esquecimento
mortal. Elas clamam por justiça. Mas quem fará justiça? A Escola Crítica de
Frankfurt foi decisivamente marcada por esta pergunta. Por isso, M. Horkheimer
ansiava pelo "totalmente Outro"; W. Benjamin declarou que não é possível
pensar a história sem teologia; Jürgen Habermas, neste contexto, escreveu,
citando J. Glebe-Möller: "Se desejarmos manter a solidariedade com todos
os outros, incluindo os mortos, temos de reclamar uma realidade que esteja para
lá do aqui e do agora e que possa vincular-nos também para lá da nossa morte
com aqueles que, apesar da sua inocência, foram destruídos antes de nós. E a
esta realidade a tradição cristã chama Deus." Aquele que tudo pode
recriar, a partir do nada, para a Vida.
No jornal Voz da Verdade, Vítor Gonçalves escreve sobre Ver e
acreditar, tomando o Domingo da
Ressurreição:
Vemos a generosidade
dos que amam e servem com alegria,
e acreditamos que o
Ressuscitado nos recorda como o Pai não desiste de ninguém.
Vemos a maravilha de
inventores e criadores de beleza,
e acreditamos que o
Ressuscitado leva o fogo do Espírito onde ainda é noite e faz frio.
Vemos os lentos
passos para a justiça e para a paz,
e acreditamos que o
Ressuscitado multiplica o nosso dom total.
Também no mesmo jornal, Alexandre Palma escreve sobre a Novidade da Páscoa:
A Páscoa oferece-se,
precisamente, como novidade. Assim a apresenta o próprio Ressuscitado: «Eis que
faço novas todas as coisas» (Ap 21, 5)! Sendo passagem, ela é-o para uma «nova
Jerusalém», para «odres novos», para uma «nova Aliança», para uma «nova
humanidade», para uma «vida nova». Ela é profecia plena de uma novidade
possível, porque simultaneamente seu anúncio e realidade. E é-o, ainda, na
forma como o novo não é nela uma revolução, mas recriação. Nela se consolida,
sim, essa confiança de que algo novo é desejável, de que algo de bom é possível.
Mas também que tal se alcança pela transformação do que existe e não pela sua
destruição ou, sequer, pela sua substituição. A vida nova do Ressuscitado é a
transformação em Deus de toda a sua história precedente. Não é a sua anulação,
mas a sua definitiva renovação.