Dia cheio, o de hoje em Belém, na estadia do Papa em território palestiniano. Que não poderia ter acabado sem a experiência de como é passar um posto de controlo militar: uma espera de quase meia hora até que uma miúda com farda de soldado (não terá mais de 18 anos) se digne abrir a porta a um grupo de mais de 10 jornalistas e dois palestinianos que ali já estavam quando chegámos.
O mais caricato do episódio: um responsável da Sala de Imprensa do Vaticano que também não conseguia mostrar à soldadinha de chumbo o seu passaporte (ela estava enfiada numa cabine de vidro mas, sobretudo, não olhava para ninguém), para a fazer entender que havia ali perto mais um autocarro com umas dezenas de jornalistas que esperavam passagem. Isto tudo, num posto de controlo que deveria ter sido aberto duas horas antes. Depois? Três portas de alta segurança, um raio-x de aeroporto, mais duas soldadas que mal olham para as coisas que colocamos nas caixas e nós que ainda temos que passar uns aos outros as caixas de plástico.
Mas este foi o episódio divertido (degradante, para quem o tem que viver diariamente). Porque o dia foi cheio de palavras fortes. Duas, basicamente: o direito de um povo à dignidade (uma pátria, fim do bloqueio e fim do muro-prisão) e o direito de outro povo à estabilidade e à segurança (fim do terrorismo e não cedência à lógica e à espiral da violência).
Claro que cada palavra que se diga será sempre tomada como de defesa de uns e de ataque dos outros. O que me parece que o Papa Bento XVI conseguiu em Belém foi dizer exactamente que a violência já não permite uma saída (alguma vez permitiu? ou será que não aprendemos?). E acrescentou uma outra ideia, rara num Papa: a não-violência e a busca criativa de soluções para os problemas.
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