Em Israel, onde me encontro desde ontem para a cobertura da viagem do Papa, pude hoje deslocar-me a Ibillin, uma aldeia de 12 mil habitantes a cerca de 30 quilómetros de Haifa, no norte. Ali funcionam as Instituições Educacionais Mar Elias (Mar significa santo), que começou por ser uma pequena escola para 20 miúdos e hoje agrupa sete edifícios (mais uma belíssima Igreja das Bem-Aventuranças), criada há mais de 40 anos por Elias Chacour, então um jovem padre da Igreja Melquita.
Já publiquei dois textos sobre Chacour - um deles está aqui, na edição 2007 do Janus - Anuário de Relações Internacionais. Mas tinha-o feito a partir da leitura de um livro e de uma conversa telefónica com o agora arcebispo melquita de Acre, Haifa, Nazaré e Galileia. Ver agora ao vivo a escola com 4500 alunos, onde se misturam professores cristãos, muçulmanos, druzos e judeus e alunos também destes diferentes credos (menos judeus, desde a crise de há três anos no Líbano) e poder entrevistar Elias Chacour foi um daquelas experiências e que nos sentimos realizados profissionalmente.
No cenário de violência que atravessa esta região, é comovente ver miúdos de 14 e 15 anos dizer que gostam de andar na escola porque aprendem as tradições, as festas e a cultura dos outros. Maria Gorgora, católica, 15 anos, disse mais: já tentou jejuar durante o Ramadão muçulmano. "É duro", confessou. Mas fê-lo com gosto. E Hosam Yasin, muçulmano, 14, diz que vai ver o Papa Bento XVI a Nazaré, porque quer conhecer melhor este líder religioso importante para os seus amigos. E o sudirector da escola, Elias Abu-Ghanima, 42 anos, pai de duas meninas, repetia que a escola é como um mosaico: "Ninguém está completo sem o outro". A reportagem sairá domingo no Público, mas o texto do Janus serve para entender a história de Chacour e de Ibillin. Um oásis onde se aprende outra lógica de vida para romper o círculo vicioso da violência.
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