Manuel Vilas Boas, enviado especial da TSF para acompanhar a viagem do Papa à Terra Santa, escreve esta manhã no DN e JN:
Olhar Amã da cidadela que guarda o templo de Zeus e o museu arqueológico com documentos bíblicos do Mar Morto é contemplar uma cascata em redondel de tom cinzento por onde perpassam os sons intensos atirados dos minaretes das mesquitas. Bento XVI aterrou ontem aqui em território que não é seu, nem pouco mais ou menos. Os cristãos (incluindo os não-católicos) foram quase sempre minorias nestas paragens. O encontro de simpatia trocado entre os reis jovens e modernos da Jordânia e o chefe de Igreja Católica pode aumentar a esperança de tranquila convivência nesta mosaico de culturas e religiões. O rei Abdullah II apoiou o fórum entre católicos e muçulmanos que o Vaticano acolheu após as ondas de choque da Ratisbona. No discurso de boas-vindas, o rei jordano não esqueceu o caso, mantendo como missão real, a causa de Alá, sua fé tradicional.
Sendo Bento XVI também chefe de Estado, o rei muçulmano sentiu-se mais à-vontade para, aproveitando o momento mediático, enviar recados aos vizinhos fronteiriços: “que o povo da Palestina possa por fim à ocupação e que o sofrimento possa trazer-lhe o direito à dignidade da liberdade”. Semelhante pensamento defendeu Bento XVI na visita que fez ao Centro para Deficientes em Amã: “É preciso um amor salvador que não olha à condição das pessoas”.
O papa alemão poderá esta manhã transfigurar-se como Moisés num Monte Nebo, perante a Terra Prometida. Como intelectual que é, ele sabe que a tarefa do diálogo cultural não se pode fazer de modo piramidal como foi prática da Congregação da Doutrina da Fé, que dirigiu durante duas décadas no Vaticano. Aqui apressa-se a escutar a voz das universidades e dos que na religião, os muçulmanos, são maioria. Este é um passo firme do papa das polémicas que por aqui quererá refrescar o rosto.
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