quinta-feira, 21 de maio de 2009

O crepúsculo de João

(imagem de Johnny Guitar, o filme da vida do director da Cinemateca)

Morreu João Bénard da Costa.

Com ele aprendi a gostar de cinema, a lê-lo também - das curvas da Toscânia à sala escura onde se projectavam tantos clássicos. Só nunca compreendi a sua incompreensão com
Kieslowski, que para mim assinou alguns dos mais belos filmes dos anos 90. Pode ser que agora se encontrem algures no crepúsculo e falem da vida. Que é como quem diz, de cinema.
(Miguel Marujo, in http://cibertulia.blogs.sapo.pt/1315529.html)

A notícia com pormenores e primeiras reacções está aqui.

João Bénard da Costa não era só um homem do cinema. Foi também um cristão no tempo, que soube lutar por uma Igreja que não adormecesse à sombra dos poderes. Nem sempre ele se reconheceu nessa Igreja por vezes madrasta. Mas continuou firme na fé que o fazia falar admiravelmente da arte, da pintura, do cinema, da vida, de Deus. A sua última crónica no Público, a 7 de Dezembro de 2008, é exemplo disso, ao escrever sobre Cristina Campo:

"E diz Cristina Campo: “Não menos e talvez melhor que os próprios Sonetos, a queda de Ricardo II é testemunha da noche oscura de Shakespeare – dessa passagem forçada da existência humana pela violência moral, da qual, vivo ou morto, só pode resultar o homem novo. Pouco ou muitíssimo pouco se revela no início, naquela época, da trágica parábola sentimental dos Sonetos.
(…) Sabemos apenas, com certeza, que a violência se converteu em sofrimento, que o sofrimento floresceu divinamente em amor.”


As histórias de Cristina Campo, e de todos os seus heterónimos havidos e por haver, são a história dessa dupla conversão: a da violência em sofrimento e a do ofrimento em amor. Nesta crónica, se falei noutra coisa, foi só porque me distraí muito. Dos meus defeitos, talvez seja o maior. Sem me distrair, e sem vos distrair, volto e voltei a Cristina Campo, sob um falso nome ou sob um verdadeiro nome."

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