Texto de Maria Wilton
México: a violência é, hoje, uma marca endémica do país
(foto Tim Mossholder/Pexels)
O México “continua a ser o país mais perigoso para exercer o sacerdócio apesar de a sua população ser maioritariamente católica”. O alerta é do padre Omar Sotelo, diretor do Centro Católico Multimedial (CCM), na Cidade do México, capital federal do país. Sotelo lamenta ainda que o tempo da presidência de Enrique Peña Nieto tenha sido, até à data, o mais mortífero para o clero mexicano, já que, nesse período de tempo (2012-2018), morreram até agora 26 padres.
Em entrevista ao jornal mexicano Proceso, o padre Sotelo explica: “O aumento no número de assassinatos coincide precisamente com o início da guerra contra o narcotráfico, quecomeçou com Calderón (anterior Presidente) e continuou com Peña Nieto. Esta foi uma guerra para a qual as instituições não estavam preparadas, o que as levou a serem infiltradas pelo crime organizado.”
Como termo de comparação, no ano de 2017, em toda a América Latina, foram assassinados 14 padres católicos. Destes, metade foram-no no México. O maior problema, segundo Omar Sotelo, é o facto de nenhum dos crimes parecer ter resolução: “Há investigações a decorrer, suspeitos, gente detida que fica livre e dados sem certezas da burocracia judicial.” O padre mexicano denuncia ainda a brutalidade destes crimes dizendo que os sacerdotes são sequestrados, torturados e só depois mortos.
Dá como exemplo o assassinato do padre José Ascencio Acuña, em setembro de 2014, na comunidade de São Miguel Totolapan. Suspeita-se que tenha sido levado a cabo por membros de crime organizado em conluio com o governo municipal: “Neste caso, havia ordens de detenção contra o deputado do PRI, Saúl Beltran, mas elas não só não foram levadas a cabo como o caso foi praticamente arquivado.”
O CCM, que acaba de apresentar um relatório relativo à violência contra o clero neste país, lamenta que esta seja a situação vivida e Omar Sotelo diz porque é que não há mudanças significativas: “Como o padre é uma espécie de estabilizador social, na sua paróquia não só provê saúde espiritual, mas também educacional. O crime organizado sabe bem que matar um padre causa instabilidade social na comunidade, semeando assim o medo, para poder agir à vontade.” Sotelo acrescenta que é também esta a razão pela qual os jornalistas do país também são assassinados em número elevado.
No relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo, de 2018, publicado pela Ajuda à Igreja que Sofre, o México não é considerado um país de risco em termos de liberdade religiosa. No entanto, a tendência crescente de violência contra o clero, num país que é 95,9% católico, é referida com preocupação: “À medida que cresce o crime organizado, as possibilidades de pôr fim à violência contra sacerdotes diminuem. Os membros do clero estão numa situação particularmente perigosa, pois são eles quem continuamente denuncia ataques ou abusos por parte do crime organizado, do Governo ou de outros grupos que os atacam ou que atacam membros das suas comunidades.”
O relatório destaca ainda a grande preocupação com a situação, manifestada pelos bispos católicos mexicanos, que com frequência recorrem à imprensa para pedir ajuda. No entanto, o mesmo documento denuncia também que “as autoridades, que por vezes ouvem os apelos, perdem interesse assim que a atenção da comunicação social diminui.”
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