quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
Sobre o pátio dos gentios
O Conselho Pontifício para a Cultura acaba de anunciar para os dias 24 e 25 de Março, em Paris, o lançamento de "uma nova instituição permanente do Vaticano destinada a promover os intercâmbios e encontros entre crentes e não crentes", designada precisamente Átrio dos Gentios.
Sob o tema genérico "Religião, luz e razão", o acontecimento irá compor-se de um conjunto de debates a ter lugar na sede da UNESCO, na Sorbonne, no Institut de France e no Collège des Bernardins. No segundo dia à noite, será organizada uma festa aberta a todos, sobretudo aos jovens, sobre o "Átrio do Desconhecido", a realizar no átrio da Catedral de Notre Dame.
Este tipo de iniciativas é certamente importante e pessoalmente julgo que deles poderão esperar-se resultados promissores, mesmo que não imediatamente visíveis. Há que prestar, no entanto, atenção a alguns aspectos, sob pena de muitas das boas intenções ficarem minadas à partida.
Palavras são palavras. Valem o que valem. Mas muitas delas carregam um peso histórico muito forte. E gentio é uma delas. Porque se define pela negativa: os que são pagãos, os que não podiam entrar no templo (pelo menos em certas partes reservadas aos israelitas). Porque não, antes, o Pátio dos Encontros, o pátio dos desconhecidos que querem encontrar-se e conhecer-se?
Quando se organiza este tipo de iniciativas na esperança secreta (ou confessada) de que as 'ovelhas tresmalhadas' encontrem o (ou regressem ao) redil, julgo que já é difícil haver aqui verdadeiro diálogo e interconhecimento. O que existe é vontade de ser conhecido. Não tanto de conhecer.
Este 'Atrio dos Gentios' não deveria ser um espaço apenas para que aqueles que buscam o caminho, a verdade e a vida entrem em contacto com o Deus da fraternidade e da justiça. Mas um espaço para que as mulheres e homens que se dizem seguidores desse Deus se aproximem e escutem os seus semelhantes, os seus anseios, os seus testemunhos, as suas inquietações e expectativas. A comunicação não resulta se não for também para escutar, para se aproximar e, eventualmente, para aprender com todos, sejam crentes ou não crentes. Se assim não for, como esperar que outros aprendam com (e escutem quem) organiza esse pátio dos gentios?
Informação complementar:
domingo, 23 de janeiro de 2011
Bento sobre João Paulo II e Anselmo sobre os animais
quinta-feira, 20 de janeiro de 2011
Músicas que falam com Deus (10) - O Gente Brunette
quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
Uma petição necessária e que não deveria existir
Todos os anos, a Comissão Europeia publica um Diário Escolar Europeu destinado aos estudantes de toda a Europa.
Foram publicados 3 milhões de copias do Diário de 2010/11 para serem distribuídos gratuitamente conforme requisição dos professores.
A versão actual deste diário não menciona nenhuma festa cristã, mas inclui as datas festivas islâmicas, sikhs, hindus e chinesas.
Não refere, por exemplo, o Natal recentemente celebrado por toda a Europa.
Esta omissão não é aceitável.
O papel dos cristãos na construção europeia é um facto histórico inegável.
Como é que este Diário pretende informar os jovens sobre a Europa, removendo todas as referências ao cristianismo, negando a religião que contribui e muito para a unidade?
O cristianismo é a primeira religião na Europa. Este lapso é ofensivo para muita gente. A omissão de algo tão importante para as pessoas, a omissão de valores e crenças que as pessoas partilham é intolerável.
O cristianismo não é só um factor religioso, mas também um factor cultural e fundamental da história e identidade de muitas nações europeias. Os feriados cristãos, em particular o Natal e a Pascoa, são celebrados na Europa por muitas pessoas e até por não cristãos.
Sejam quais forem as razões para esta omissão dos feriados cristãos no Diário Europeu 2010/2011, com esta petição exigimos
- Que a corrente versão deste Diário Escolar não seja distribuída.
- Que no futuro o Diário mencione explicitamente os feriados cristãos.
Para assinar esta petição, clicar aqui:
Agenda Europa – Europa Diary – Petição
domingo, 16 de janeiro de 2011
Bento sobre a Palestina e Anselmo sobre pobreza, riqueza e ética
Os casinos, que, pela sua natureza, andam ligados ao jogo, também podem ir além e tornar--se espaços de debates profícuos. Prova disso está o Casino da Figueira da Foz, que, ao longo de 2009 e 2010, foi palco desses debates, à volta de grandes questões, com figuras cimeiras, da literatura à política, da história à filosofia, da economia à teologia.
A última tertúlia, em Dezembro, teve como tema questões sociais e solidariedade, e o conferencista foi Carlos Azevedo, bispo auxiliar de Lisboa e presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social.
Já na segunda parte, ousei perguntar-lhe, utilizando uma via mansa: "Dizem as más línguas que as Faculdades de Economia e Gestão da Universidade Católica Portuguesa (UCP) seguem uma orientação teórica mais no sentido de um capitalismo neoliberal do que propriamente mais social." E ele, inesperadamente, tanto mais quanto também foi vice-reitor da Católica: "Eu também ouço essas más-línguas. Os meus ouvidos têm escutado esses comentários, o que deve levar a fazer crer que algum fundamento existe." Questionado por Fátima Campos Ferreira sobre se a Doutrina Social da Igreja não é aplicada nos cursos de gestão da UCP, respondeu: "Pelos vistos, não." Há uma cadeira que trata disso, "mas é capaz de ser uma cadeira um bocadinho isolada do resto".
Ler mais aqui.
sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
Barioná, um mistério da Natividade de Sartre, sobre a liberdade
Na cena final, é um Barioná convicto que responde à sua mulher, Sara: “Pelo nosso filho tens que agarrar-te à vida com avareza, com raiva. Educa-o sem ocultar-lhe nada das misérias do mundo e arma-o contra elas. E dou-te uma mensagem para ele. Mais tarde, (…) muito mais tarde, quando sentir a sua imensa solidão e abandono, quando te fale de um certo sabor a fel no fundo da sua boca, diz-lhe: ‘O teu pai sofreu tudo isso que tu sofres agora e morreu na alegria’. (…) Na alegria! Sou livre, tenho o meu destino nas minhas mãos. Vou contra os soldados de Herodes e Deus vem ao meu lado. Sou leve, Sara, leve. Ah, se soubesses o quão leve sou! Oh, Alegria, Alegria! Chora de alegria. Adeus, minha doce Sara. Levanta a cabeça e sorri-me. Temos que ser felizes: quero-te muito e Cristo nasceu.”
O texto é de (para muitos um improvável) Jean-Paul Sartre e foi representado pela primeira vez num campo de prisioneiros, em 1940, em plena II Guerra Mundial. Hoje, amanhã e domingo e, de novo, nos mesmos dias da próxima semana, será levado à cena pelo Teatro do Ourives, numa encenação de Júlio Martin da Fonseca. O espectáculo decorre na Rua de São Domingos à Lapa, 41, em Lisboa. Sextas e sábados às 21h30 e domingos às 18h00; a entrada é gratuita mas é necessário fazer reservas pelo telefone 916 770 513 ou através do mail teatrodoourives@gmail.com.
Sobre a peça, escreveu o próprio Sartre, em 31 de Outubro de 1962: “O facto de me ter debruçado sobre o tema da mitologia do cristianismo não significa que a direcção do meu pensamento tenha mudado nem sequer por um instante durante o cativeiro. Tratava-se simplesmente, de acordo com os sacerdotes prisioneiros, de encontrar um tema que pudesse tornar realidade, nessa noite de Natal, a união mais ampla possível entre cristãos e não crentes.”
Este mistério da Natividade foi escrito e levado ao palco no campo de prisioneiros Stalag 12D, em Dezembro de 1940, por um Sartre, nas palavras de Bernard-Henry Lévy “decididamente fiel ao seu papel de animador entusiasta”.
Durante muito tempo não se encontrou o texto. Durante muito tempo, Sartre proibiu a sua representação, à excepção de uma edição-lembrança de quinhentos exemplares, fora do circuito comercial, nos anos 60 do século XX.
Hoje já dispomos deste texto, que é a sua primeira peça de teatro. Assim como de alguns relatos dos protagonistas deste momento histórico de dor e de esperança.
Segundo o testemunho do Padre Marius Perrin, companheiro de Sartre no cativeiro: “Depois de Barioná, tudo mudou. Foi como se Sartre tivesse introduzido um ‘vírus’. Foi como se, graças a ele, ‘um longo período de incubação’, em que estivemos impedidos de nos revoltar, tivesse finalmente chegado ao fim”.
Também para Sartre, Barioná representou – de acordo com Bernard - Henry Lévy – “a verdadeira viragem na vida e na obra (…) é desta experiência do Stalag e da elaboração da peça nesse local, que data o nascimento de um segundo Sartre, efectivamente messiânico, optimista, engagé num sentido novo do termo e que volta subitamente as costas à bela metafísica pessimista que era como um salvo-conduto, uma vacina, contra os desvarios políticos.”
Encontramos nesta obra uma faceta menos conhecida de Sartre, mas sempre presente subterraneamente, uma herança discreta que lhe vem dos avós e continuada pelos pais através de uma mistura católica e protestante.
Em As Palavras ele anota: “Escreve-se para os seus vizinhos ou para Deus” e ele desde muito cedo parece ter tomado “o partido de escrever para Deus a fim de salvar os seus vizinhos”.
Segundo o testemunho do Padre Marius Perrin “os homens de Barioná correm talvez para a sua morte (…) para que a esperança dos homens livres não seja assassinada”.
E este Mistério de Natal, de Jean-Paul Sartre, é certamente um belíssimo e comovente convite “à descoberta fulgurante da liberdade”.
Em O Século de Sartre, Bernard-Henry Lévy faz a sinopse da peça:
“O texto conta a história de uma aldeia da Judeia sob ocupação romana.
Conta como, dado que os Romanos tinham decidido aumentar os impostos, o chefe da aldeia, Barioná, exorta os seus concidadãos a ripostar deixando de fazer filhos.
Mas eis que a sua mulher Sara lhe anuncia, que está precisamente grávida – e eis que, exactamente no mesmo dia, da aldeia vizinha de Belém chega a notícia do Nascimento de um outro recém-nascido, “enfaixado e deitado num presépio”, que os Magos e os feiticeiros creditados anunciam como sendo o Messias.
Que irá fazer Barioná? Irá, como pensou inicialmente, matar este recém-nascido, cujo futuro, crucificação e ressurreição foram vaticinados pelo feiticeiro da aldeia? Ou irá, ao invés, converter-se e protegê-lo da violência dos Romanos que, alarmados pela agitação que reina na região, decidiram também suprimi-lo.
Depois de reflectir, Barioná decide proteger a criança. Sacrificando a sua vida e a dos seus aldeões para proteger a do pequeno Messias, ele aguentará os Romanos até que Maria, José e o seu recém-nascido tenham conseguido escapar. E a Sara, que se despede numa derradeira cena comovente, também lhe diz que mudou de opinião quanto a eles e que, por conseguinte, quer que ela dê à luz o seu filho e que lhe diga, à hora da nascença, que o seu pai morreu na alegria!”
Em 2005, por ocasião do centenário do nascimento de Jean-Paul Sartre, a editora Gallimard publicou uma edição comemorativa do teatro completo do filósofo francês.
Esta obra incluiu pela primeira vez o drama Barioná, a primeira peça de teatro escrita pelo autor. A peça foi representada três vezes no Stalag 12D, em Tréveris, na Alemanha – onde o autor esteve preso – nos dias 24, 25 e 26 de Dezembro de 1940, e foi presenciada por cerca de dois mil prisioneiros de cada vez.
Em apenas seis semanas, Sartre não só escreveu a obra, como ensaiou um dos personagens – o Rei Mago Baltazar –, dirigiu os actores e supervisionou a fabricação do cenário e figurinos.
Numa das suas cartas a Simone de Beauvoir, escreveu:
Seguramente devo ter talento como autor dramático: escrevi uma cena do anjo que anuncia aos pastores o nascimento de Cristo, que deixou a todos sem respiração (…) inclusivamente a alguns saltaram-lhes as lágrimas.
Parece que fiz um Mistério de Natal muito comovente, ao ponto de alguns dos actores, ao declamarem, lhes saltarem as lágrimas.
Esta representação teve como origem o desejo e a autorização de celebrar no campo de prisioneiros de guerra, a Missa do Galo. Esta notícia e a relação de mútuo respeito entre Sartre e um grupo de padres católicos – Marius Perrin, o dominicano Pierre Boisselot, que exercia a função de capelão do campo, o jesuíta Maurice Espitallier e o padre Henry Leroy – levaram a que ele tomasse a iniciativa de propor a junção do sagrado e do profano: “Porque não ressuscitamos a tradição dos Mistérios que antes se celebravam e nos quais todos podem participar de alguma maneira?”
A minha primeira experiência teatral foi particularmente afortunada. Enquanto estive preso na Alemanha em 1940, escrevi, pus em cena e interpretei uma obra de Natal, a qual, conseguindo esquivar a vigilância do censor alemão, através de símbolos simples, se dirigia aos meus companheiros de cativeiro (…) naquela ocasião, ao dirigir-me aos meus companheiros por cima das luzes das gambiarras e falando-lhes desde a sua condição de prisioneiros, vi-os de repente tão realmente silenciosos e atentos que compreendi o que o teatro tinha de ser: um grande fenómeno colectivo e religioso.
(Com base em textos e informações do Teatro do Ourives)
segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
sábado, 8 de janeiro de 2011
Anselmo Borges: O que diria Jesus hoje?
Texto de Anselmo Borges no DH de hoje.
Os dias de Natal são especiais. Há uma atmosfera diferente, o melhor de nós pode revelar-se: mais proximidade, mais intimidade, mais amor, mais solidariedade. Directa ou indirectamente, há uma presença inegável: o nascimento de um Menino, com "a mensagem mais bela e revolucionária da história mundial", no dizer de Heiner Geissler, que foi ministro do Governo Federal da Alemanha e que escreveu um livro admirável precisamente com o título: "O que diria Jesus hoje?"
Mesmo se muitas vezes os que se reclamam de Jesus fizeram da sua mensagem um Disangelho, como disse Nietzsche, ela é real e verdadeiro Evangelho, notícia boa e felicitante. Ler mais aqui.
quarta-feira, 5 de janeiro de 2011
José Manuel Fernandes responde a "Quem dizem os homens que é a Igreja Católica?"
José Manuel Fernandes, ex-director do “Público” e co-autor, com D. Manuel Clemente, de “Diálogo em tempo de escombros. Uma conversa sobre Portugal, o Mundo e a Igreja Católica” (edição Pedra da Lua), responde à pergunta “Quem dizem os homens que é a Igreja Católica?”.
Promovida pelo Instituto Superior de Ciências Religiosas e pelo Centro Universitário Fé e Cultura, a conversa acontece hoje pelas 21h, em Aveiro, no CUFC (edifício entre o Seminário e o campus universitário). Com transmissão via net.
terça-feira, 4 de janeiro de 2011
Em Phoenix, Jesus foi desalojado do hospital
Por causa de uma mãe de quatro filhos ter visto a sua vida salva em circunstâncias terríveis, a presença sacramental de Jesus foi forçada a deixar um hospital católico, no Vale do Sol. Foi uma perda triste, na verdade, uma vez que o corpo de Cristo habitava tranquilamente no Hospital de S. José há mais de 115 anos".
Assim começa a coluna 'Grace on the Margins' [Graça nas Margens] Jamie L. Manson, na página da Internet da revista National Catholic Reporter (NCR) datada de hoje, e intitulada "St Josephs's Hospital: a phoenix in the desert". As palavras constituem uma meditação sobre a recente decisão do bispo da diocese de Phoenix, nos Estados Unidos de retirar a designação de católico a um hospital que, tendo uma mãe grávida com uma doença que iria levar os dois seres à morte, decidiu salvar a mãe, com a consequência de ter provocado a morte do bebé. Sobre o caso, Manson, uma prestigiada colunista que se dedicou ao estudo da teologia e da ética sexual, continua a sua reflexão sobre o caso:
"Seria impossível contar quantos medos foram suavizados, quantas pessoas enlutadas foram consoladas, e quantos funcionários cansados foram alimentados pela missa ou apenas por poderem sentar-se silenciosamente em frente do Santíssimo Sacramento. D. Thomas Olmsted, o hierarca que tomou a decisão de retirar a Eucaristia da capela do Hospital de S. José, tem sido considerado 'um homem de princípios e uma pessoa empreendedora que coloca a igreja institucional à frente das pessoas ", segundo um relato da NCR no último Verão. Mas é caso para perguntar com que princípios estava ele a jogar quando escolheu retirar a designação de católico deste hospital fundado pelas Irmãs da Misericórdia.
A comissão de ética do Hospital de São José usou tanto da razão como da compaixão quando se pronunciou sobre este triste caso de uma mulher cuja gravidez a ia, literalmente, matando. Tanto a mãe como o feto estavam a morrer. Se a mãe morresse, a gravidez não poderia ser levada até ao fim. Somente a vida da mãe poderia ter sido salva.
Olmsted parece ter tido todos os cuidados do mundo para o nascituro. Mas onde esteve a sua consideração para com a mulher, ou para com os seus quatro filhos que teriam ficado sem mãe? Onde ficou o respeito pelo seu marido? Não será irónico que um bispo que procura de forma agressiva preservar a instituição do casamento e a santidade da família se mostre tão dispostos a forçar um pai a uma situação de família monoparental? Será que a igreja se prontificou a ajudar aquele pai no cuidado para com os quatro filhos? Será que ofereceu assistência aos filhos, os cuidados da casa ou o benefício de um salário adicional para os próximos 18 anos?
Não se pode deixar em claro o trauma que o bispo está a infligir àquela mãe e à sua família. Como mãe de quatro filhos, há pouca dúvida quanto a esta mulher estar atingida pela dor, devido a esta tragédia. Não duvido de que as acções de Olmsted exacerbaram o seu sofrimento e criaram uma situação prejudicial e desnecessária de vergonha para esta família. Pode-se imaginar o que é viver com a noção de que a decisão de salvar a própria vida tenha acarretado a remoção da Eucaristia de um hospital, numa operação altamente publicitada?"
Continuar a ler o texto aqui.
segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
Carta do Chile, do Ir. Aloïs, de Taizé: Justiça e não assistencialismo nas relações internacionais
Terminou em Roterdão, no dia de Ano Novo, o encontro europeu de jovens da peregrinação de confiança sobre a Terra, promovido pela comunidade monástica de Taizé (França), que reúne monges católicos e protestantes. Em Roterdão, onde estiveram cerca de 30 mil participantes, foi anunciado que o próximo encontro europeu decorrerá em Berlim, no final de 2011. Do encontro, ficou a Carta do Chile, que será debatida, rezada, meditada durante este ano pelos milhares de jovens que acorrem a Taizé durante o ano.
No texto, o irmão Aloïs, prior da comunidade depois da morte do irmão Roger, pede que o combate contra a pobreza no mundo se faça pela justiça e não pelo assistencialismo: “O combate contra a pobreza é um combate pela justiça; a justiça nas relações internacionais, não o assistencialismo.”
A carta, que resultou de uma estadia do prior de Taizé no Chile depois do terramoto devastador de 2010, recorda a propósito uma afirmação de santo Ambrósio de Milão, o bispo e doutor da Igreja do século IV: “Não são os teus bens que distribuis aos pobres, mas apenas lhes restituis o que lhes pertence. De facto, tu usurpas o que foi dado a todos para uso de todos. A terra pertence a todos e não aos ricos. Contudo, ela foi tomada por alguns em detrimento de todos os que a trabalham. Assim, estás a pagar uma dívida, o que é bem diferente de dar esmola de forma gratuita.”
A carta propõe a generosidade “com que inúmeras pessoas ajudaram as vítimas das dramáticas catástrofes naturais” como um dos importantes sinais do nosso tempo. “Como pode esta generosidade animar as nossas sociedades, mesmo na vida quotidiana?”, pergunta o irmão Aloïs.
Na Carta do Chile, escrita no início de Dezembro, o prior de Taizé refere também as questões da imigração e da pobreza: “A imigração é outro sinal do nosso tempo. Por vezes, é sentida como um perigo, mas é uma realidade incontornável que já está a moldar o futuro. Um dos sinais do nosso tempo é ainda a pobreza crescente no interior dos países ricos, onde com muita frequência o abandono e o isolamento são as primeiras causas de precariedade.”
A actual crise económica é também apontada, pela crítica à “acumulação exagerada de bens materiais” que “mata a alegria”. Essa atitude “mantém-nos na inveja”, acrescenta o texto. “A felicidade reside noutro lado: na escolha de um estilo de vida sóbrio, no trabalho não apenas com vista ao lucro mas para dar um sentido à existência, na partilha com os outros, cada um pode contribuir para criar um futuro de paz. Deus não dá um espírito de medo, mas um espírito de amor e de força interior.”
Durante o encontro – iniciativa semelhante foi realizada em Lisboa no final de 2004 –, foram também divulgadas mensagens de vários líderes religiosos. O patriarca Bartolomeu de Constantinopla, líder espiritual da Igreja Ortodoxa, refere-se à diversidade cultural e religiosa do país onde o realizador Theo van Gogh foi morto por um fundamentalista muçulmano e onde a publicação de caricaturas de Maomé também teve lugar. Factos como esses devem “deixar o caminho livre a um diálogo responsável, capaz apenas de encontrar um compromisso de paz entre o respeito dos símbolos sagrados para uns e da liberdade de expressão para outros”.
Em outro texto, o Papa Bento XVI diz aos jovens que a alegria dos jovens não os deve afastar da “solidariedade para com o sofrimento da humanidade” e que eles não devem ceder “à ilusão do individualismo”.
Também o secretário-geral da ONU, Ban Ki Monn, enviou uma mensagem onde fala de alguns problemas do mundo contemporâneo: “Temos de nos unir para ultrapassar as mudanças climáticas e para criar um mundo mais verde e mais sustentável para todos. Temos de trabalhar em uníssono para derrotar a pobreza extrema e para construir um mundo mais justo e próspero. E temos de defender os seres humanos em crise – pessoas afectadas por guerras ou desastres, ou aqueles a quem os direitos fundamentais estão a ser violados.”
Durante os dias do encontro, o irmão Aloïs presidia à oração do final da tarde, fazendo várias meditações diárias. Registos do que foi o encontro dia-a-dia, incluindo testemunhos de alguns participantes, podem também ler-se numa rubrica própria no site de Taizé.