A
liturgia deve ser uma arte total, defendeu esta quinta-feira, em Lisboa, o
teólogo e frade dominicano Bento Domingues. Falando nas jornadas “Liturgia,
arte e arquitectura – nos 50 anos do Concílio Vaticano II”, na Universidade
Católica Portuguesa (UCP), frei Bento afirmou: “Não se pode ter uma boa igreja
com uma decoração miserável; nem uma boa decoração com uma música péssima ou
uma homilia desgraçada.”
Bento
Domingues, que nas suas intervenções públicas tem insistido na ideia da beleza
na acção litúrgica, acrescentava: “Na liturgia, a envolvência é total porque é
presença e símbolo e só é eficaz quanto mais simbólica for.”
Referindo-se
ao poema de Ruy Belo, “Nós, os vencidos do catolicismo”, frei Bento lamentou:
“Nós, os celebrantes, tornamos Deus impossível.” E defendeu que a Constituição
do Concílio Vaticano II sobre a liturgia, “Sacrossanctum Concilium”, um “bom
documento”, não tem “suficientemente presente” a dimensão do mistério e da
simbólica.
João
Norton de Matos, padre jesuíta, falou precisamente da importância do simbólico
a partir da construção do espaço litúrgico. Citou, por exemplo, o modelo da
basílica romana apropriado pelas igrejas, em que o altar foi colocado ao meio,
e o coro das catedrais medievais que corta completamente o espaço da assembleia,
como é visível em algumas cidades de Espanha.
É
esta “igreja dentro da igreja”, com o altar avançado e a assembleia envolvente,
que pode ser modelo para comunidades litúrgicas contemporâneas, exemplificou. O
padre João Norton referiu ainda o que se passa na Igreja de Santo Inácio, em Paris:
a centralidade é colocada no ambão onde são proclamadas as leituras, na
primeira parte da missa, e no altar onde se celebra a eucaristia, durante a
segunda parte – pelo meio, as pessoas movimentam-se.
“Hoje,
a liturgia deixou de ter símbolos, tem formalidades que já não são símbolos”,
disse ainda o padre Arlindo de Magalhães, responsável da Comunidade Cristã da Serra
do Pilar, em Gaia. “O momento actual pede que as igrejas recuperem os
símbolos”. E citou o exemplo da fracção do pão, que deixou de ser feita. “Como
se anuncia o evangelho aos adultos? Sem formação de baptizados conscientes, não
há Igreja.”
Paulo
Vale, curador e professor na UCP, falou do carácter iniciático da arte, à
semelhança do que acontece com a liturgia, que também “não é compreensível sem
explicação”. Paulo Vale colocou em contraste a arte autêntica e o “kitsch”, e
contou histórias como a do Cristo da igreja de Assy (ver foto reproduzida daqui), de Germaine Richier, que
foi contestado por não corresponder à estética da primeira metade do século XX.
E defendeu depois que a Igreja devia ser capaz de “profanar a ideia da arte
como algo separado” da vida. Ao contrário, deve propor-se a ideia de que a arte
e a vida estão ligadas.
Dos
símbolos e do espaço falou ainda Joaquim
Félix de Carvalho, padre que integra a equipa de formação do seminário
conciliar de Braga. A partir do caso da Capela Árvore da Vida, referiu
o espaço como o segredo daquele lugar litúrgico.
Estas
jornadas prosseguem nesta sexta-feira. O programa completo está aqui.
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