sexta-feira, 23 de novembro de 2012

O Estado social - um debate católico


Já várias coisas importantes foram ditas na Semana Social católica que hoje e amanhã decorre no Porto, que são importantes para o debate sobre o papel do Estado social que o Governo português pretende que se faça no país. 
O presidente da Comissão Episcopal de Acção Social, D. Jorge Ortiga, afirmou, na abertura, que há uma “profunda desorientação” nas actuais lideranças políticasE defendeu que, na resolução da actual crise financeira, tem que se dar protagonismo aos mais pobres. “Faz falta mudar de águas”, afirmou, para que as soluções não continuem a ser as mesmas. “É preciso outro pensamento e outro modo de pensar a sociedade, em que cada um conte-“
Também na sessão de abertura da iniciativa, sobre o tema genérico “Estado social e sociedade solidária”, o presidente da organização, Guilherme d’Oliveira Martins, afirmou que “é fundamental” a preservação do Estado social, porque uma das razões da actual crise é o “agravamento das desigualdades”.
Também o padre Lino Maia, presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade, defendeu queo Estado deve servir para promover “uma melhor justiça social” e um futuro melhor. Caso contrário, “não serve para nada”. E acrescentou que os grupos sócio-caritativos são “o despertar das consciências para a solidariedade, para a comunhão, para a ajuda fraterna e para o agir cristão”.
Marisa Tavares, da Universidade católica, falou do desemprego estrutural dos jovens, num painel onde também estavam Manuel Carvalhoi da Silva ex-líder da CGTP, e João Proença, da UGT. A partir de um relatório da OCDE, a investigadora disse que cresce o rendimento dos mais ricos e aumenta o fosso das desigualdades. É preciso alterar o sistema fiscal, propõe a OCDE, para regressar ao princípio básico de que a economia é de pessoas e para as pessoas.
Ana Cardoso, investigadora do Centro de Estudos para a Investigação Social, referiu a ineficácia dos estudos já feitos e das políticas de combate à pobreza. A pobreza é estrutural e está intrinsecamente ligada à exclusão social, referiu.
Isabel Jonet, do Banco Alimentar Contra a Fome, referiu alguns dados recolhidos num estudo que envolveu 3700 crianças de meios pobres, pouco antes de entrar no ensino primário: 24 por cento dessas crianças viam mal, 53 por cento tinham problemas de audição. As taxas coincidem com o que se passa em colégios e, em ambos os casos, os problemas existiam sem que os pais soubessem. Oitocentas crianças foram tratadas aos dentes, por dentistas que se voluntariaram e outras tantas foram apoiadas por empresas na compra de óculos. Estes apoios permitem que as crianças possam aprender e não ficar para trás por culpa das limitações físicas, referiu, quebrando o ciclo vicioso da pobreza.
João Wengorovius Meneses, da Tese – Associação para o Desenvolvimento, citou exemplos de solidariedade entre gerações, mesmo através da internet – como o de uma rede social privada, em que cada pessos está em relação com os amigos, familiares e médicos de que precisa. E recordou a estimativa de que, em 2050, as pessoas com menos de 50 anos estarão em minoria.
Manuel Brandão Alves, economista e membro da Comissão Nacional Justiça e Paz, defendeu que a Segurança Social e o Estado social precisam de objectivos, que depois devam merecer a mobilização social. Mas contestou a ideia de que a Segurança Social esteja falida, antes está a ser vítima de movimentos de aplicações financeiras que fizeram com que sejam os mais pobres a pagar. “A carne já não chega e agora temos que ir aos ossos”, ironizou. O Estado social é uma aquisição civilizacional, defendeu. 
Carvalho da Silva notou que hoje temos muitas pessoas em Portugal que desistiram de viver, depois de terem sido formatadas para modelos de vida que não são sustentáveis. "Não desistamos", apelou, insistindo na importância do Estado social: "Quando se destrói emprego público, destrói-se emprego privado. Uma das coisas que mais me arrepia é ver a facilidade e até os sorrisos com que se anunciam despedimentos." Carvalho da Silva, hoje investigador do Centro de Estudos Sociais, considera que o aumento da esperança de vida é uma grande conquista civilizacional, e que a organização do trabalho e da sociedade deve ser repensada em função desse aumento da esperança de vida. 

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