Já
várias coisas importantes foram ditas na Semana Social católica que hoje e
amanhã decorre no Porto, que são importantes para o debate sobre o papel do Estado
social que o Governo português pretende que se faça no país.
O presidente da
Comissão Episcopal de Acção Social, D. Jorge Ortiga, afirmou, na abertura, que
há uma “profunda desorientação” nas actuais lideranças políticas. E
defendeu que, na resolução da actual crise financeira, tem que se dar protagonismo
aos mais pobres. “Faz falta mudar de águas”, afirmou, para que as soluções não
continuem a ser as mesmas. “É preciso outro pensamento e outro modo de pensar a
sociedade, em que cada um conte-“
Também
na sessão de abertura da iniciativa, sobre o tema genérico “Estado social e
sociedade solidária”, o presidente da organização, Guilherme d’Oliveira
Martins, afirmou que “é fundamental” a preservação do Estado social, porque uma das razões da actual crise é o “agravamento das desigualdades”.
Também
o padre Lino Maia, presidente da Confederação Nacional das Instituições de
Solidariedade, defendeu queo Estado deve servir para promover “uma melhor
justiça social” e um futuro melhor. Caso contrário, “não serve para nada”. E
acrescentou que os grupos sócio-caritativos são “o despertar das consciências para a solidariedade, para a comunhão, para a ajuda fraterna e para o agir cristão”.
Marisa
Tavares, da Universidade católica, falou do desemprego estrutural dos jovens,
num painel onde também estavam Manuel Carvalhoi da Silva ex-líder da CGTP, e
João Proença, da UGT. A partir de um relatório da OCDE, a investigadora disse
que cresce o rendimento dos mais ricos e aumenta o fosso das desigualdades. É
preciso alterar o sistema fiscal, propõe a OCDE, para regressar ao princípio
básico de que a economia é de pessoas e para as pessoas.
Ana
Cardoso, investigadora do Centro de Estudos para a Investigação Social, referiu
a ineficácia dos estudos já feitos e das políticas de combate à pobreza. A
pobreza é estrutural e está intrinsecamente ligada à exclusão social, referiu.
Isabel
Jonet, do Banco Alimentar Contra a Fome, referiu alguns dados recolhidos num
estudo que envolveu 3700 crianças de meios pobres, pouco antes de entrar no
ensino primário: 24 por cento dessas crianças viam mal, 53 por cento tinham
problemas de audição. As taxas coincidem com o que se passa em colégios e, em ambos
os casos, os problemas existiam sem que os pais soubessem. Oitocentas crianças
foram tratadas aos dentes, por dentistas que se voluntariaram e outras tantas
foram apoiadas por empresas na compra de óculos. Estes apoios permitem que as
crianças possam aprender e não ficar para trás por culpa das limitações
físicas, referiu, quebrando o ciclo vicioso da pobreza.
João
Wengorovius Meneses, da Tese – Associação para o Desenvolvimento, citou exemplos
de solidariedade entre gerações, mesmo através da internet – como o de uma rede
social privada, em que cada pessos está em relação com os amigos, familiares e
médicos de que precisa. E recordou a estimativa de que, em 2050, as pessoas com
menos de 50 anos estarão em minoria.
Manuel
Brandão Alves, economista e membro da Comissão Nacional Justiça e Paz, defendeu
que a Segurança Social e o Estado social precisam de objectivos, que depois
devam merecer a mobilização social. Mas contestou a ideia de que a Segurança
Social esteja falida, antes está a ser vítima de movimentos de aplicações
financeiras que fizeram com que sejam os mais pobres a pagar. “A carne já não
chega e agora temos que ir aos ossos”, ironizou. O Estado social é uma
aquisição civilizacional, defendeu.
Carvalho da Silva notou que hoje temos muitas pessoas em Portugal que desistiram de viver, depois de terem sido formatadas para modelos de vida que não são sustentáveis. "Não desistamos", apelou, insistindo na importância do Estado social: "Quando se destrói emprego público, destrói-se emprego privado. Uma das coisas que mais me arrepia é ver a facilidade e até os sorrisos com que se anunciam despedimentos." Carvalho da Silva, hoje investigador do Centro de Estudos Sociais, considera que o aumento da esperança de vida é uma grande conquista civilizacional, e que a organização do trabalho e da sociedade deve ser repensada em função desse aumento da esperança de vida.
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