Da
Semana Social católica, que neste domingo termina no Porto, é já
possível extrair algumas ideias importantes. Alguns tópicos para uma síntese:
-
o Estado social tem que ser preservado em nome da caridade e da justiça (Guilherme
d’Oliveira Martins – G.O.M.);
-
o pensamento social da Igreja é claro na defesa dos princípios do Estado
social; como exemplo de intervenção sobre o actual momento, G.O.M. citava o nº
32 da encíclica “Caritas in Veritate”, de Bento XVI: “A dignidade da pessoa e as exigências da
justiça requerem, sobretudo hoje, que as opções económicas não façam aumentar,
de forma excessiva e moralmente inaceitável, as diferenças de riqueza e que se
continue a perseguir como prioritário o objectivo do acesso ao trabalho para
todos, ou da sua manutenção. Bem vistas as coisas, isto é exigido também pela
‘razão económica’. O aumento sistemático das desigualdades entre grupos sociais
no interior de um mesmo país e entre as populações dos diversos países, ou
seja, o aumento maciço da pobreza em sentido relativo, tende não só a minar a
coesão social — e, por este caminho, põe em risco a democracia —, mas tem
também um impacto negativo no plano económico com a progressiva corrosão do
‘capital social’, isto é, daquele conjunto de relações de confiança, de
credibilidade, de respeito das regras, indispensáveis em qualquer convivência
civil;
-
estamos diante de uma nova era: as instituições que nos conduziram até aqui
estão em falência e os novos poderes não estão credenciados nem são sujeitos ao
escrutínio (Manuel Carvalho da Silva);
-
no quadro actual, é necessário reforçar a justiça distributiva, ainda mais tendo
em conta o aumento das desigualdades sociais;
-
há uma profunda crise de confiança dos cidadãos no poder político e no poder
financeiro;
-
a austeridade está a provocar mais desigualdades e a criar situações
insustentáveis para a vida de muitas pessoas; a situação é dramática para muita
gente; as razões da crise estão mesmo no agravamento das desigualdades e no funcionamento
dos mercados financeiros;
-
se o Estado não servir para promover uma melhor justiça social e um futuro
melhor para todos, não serve para nada (padre Lino Maia);
-
Portugal é o país mais desigual da Europa e a Igreja não pode deixar de denunciar
o sistema que permite esta realidade;
-
a regulação dos mercados financeiros tem que ser mundial, como recordou
recentemente o Conselho Pontifício Justiça e Paz;
-
o primeiro princípio da doutrina social da Igreja, que é anterior ao direito à
propriedade privada, é o do destino universal dos bens (A. Bruto da Costa);
-
os princípios da doutrina social da Igreja não são, muitas vezes, assumidos ou
aplicados nem sequer por responsáveis ou por instituições da Igreja; “os
católicos não dão muita importância” à doutrina social da Igreja, apesar do seu
carácter pioneiro em muitas matérias (Manuela Silva e Francisco Sarsfield
Cabral);
-
a riqueza da doutrina social da Igreja deveria ser apreendida pelo conjunto dos
crentes, em ordem à mudança das estruturas e à mudança dos corações; mas isso
só acontecerá se a própria Igreja respeitar a dignidade das pessoas e se viver
a justiça, a solidariedade e a comunhão (Manuela Silva);
-
o fundamento da esperança cristã é como um amigo que promete vir a nossa casa; essa promessa deve levar os
cristãos à partilha, como quem coloca na mesa mais um prato para o amigo que prometeu vir (Alfredo Bruto da Costa);
- os cristãos devem propor e criar novos estilos de vida, a partir de experiência concretas que podem passar pelas redes de vizinhança e pelo apoio aos mais pobres;
-
os políticos não valorizam a crise dos mais pobres, daqueles que têm fome e
sofrem o desemprego ou não têm dinheiro para pagar a casa.
Sem comentários:
Enviar um comentário