No
debate inaugural do Átrio dos Gentios, em Guimarães, sexta à noite, o cardeal Gianfranco
Ravasi disse que se interessava por conhecer a linguagem dos jovens. Também por
isso, ele decidiu há tempos fazer o exercício de colocar dois “tweets”
diariamente naquela rede social.
“É
para exercitar a capacidade de escrever uma mensagem de 140 caracteres”. Mas o
presidente do Conselho Pontifício para
Cultura recordou: a primeira afirmação de Jesus contada pelos evangelhos,
no texto de São Marcos (1, 15), contém apenas 78 caracteres, em grego (e 92 em
português, já agora). Nessa frase, Jesus consegue incluir quatro temas
diferentes: “Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo:
arrependei-vos e acreditai no Evangelho.”
Também por isso, o
cardeal Ravasi disse que fica fascinado pela ideia de conhecer a música dos
jovens. “Um dia, puseram-me a
escutar um disco de Amy Winehouse. Está longíssimo do meu ouvido; mas descobri,
nas palavras, que há um modo de ver o vazio e o mal, ou a esperança, que me
surpreendeu.”
Esta
atitude de Ravasi não é mais que a tradução prática da intuição do Concílio
Vaticano II, de escutar os rumores do mundo – ou os sinais dos tempos, na
expressão do evangelho. Mas quantos, na Igreja, são capazes de se dispor a descer
do pedestal, da fortaleza em que se encerraram, do medo do mundo? Quantos são
capazes, no mundo, de perscrutar os sinais do vazio ou da esperança que anima as
gentes? Quantos são capazes de, como o Concílio propunha, assumir em si “as
alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens (e mulheres)
do nosso tempo”?
A
propósito, o cardeal recordava ainda a citação que São Paulo faz do texto de Isaías:
“Deixei-me encontrar pelos
que não me procuravam,
manifestei-me aos que não perguntavam por
mim.”
2 comentários:
O título do post é fantástico! :)
Caro António Marujo,
Não há dúvida que faz todo o sentido as tuas 'interrogações'. Olhando o painel dos convidados mediáticos da Sessão do «Átrio» no Norte de Portugal, percebe-se (a partir de alguns nomes do Painel) que as iniciativas da Igreja Oficial tendem a encostarem-se ao 'pensamento dominante', ou seja, ao poder político neoliberal vigente apostado em destruir tudo: dignidade pessoal, democracia social e soberania nacional. Acrescentaria mais uma interrogação às tuas: para quando a coragem de falar uma «linguagem indutiva»? Uma abordagem que parta da realidade para chegar aos princípios (e não o caminho inverso)? Doutra forma, ficamos todos a levitar... Apenas a levitar. A Igreja deveria dar, em matéria de pedagogia, o exemplo (tal como Jesus o fez em Lucas 10:25-30).
Dou alguns exemplos:
«AUSTERIDADE E DIREITO DO TRABALHO»
http://www.asaladecima.blogspot.pt/2012/11/direito-do-trabalho-como-mercadoria.html
«MANIFESTO – POR UM TRABALHO DIGNO PARA TODOS»
http://www.youtube.com/watch?v=WeH8VMlhFG0&feature=related
O 'tweet' de Jesus em Marcos (G. Ravasi) exige que sujemos as mãos na massa das «questões mais que humanas» e proponhamos a subversão política deste mundo infernal em que nos querem prender, como se não houvesse alternativa... Foi essa a atitude de Jesus Cristo. o 'tweet' de Jesus é todo um mais que completo Programa Político! (PF, não brinquemos com o Programa Evangélico de Jesus, Mc 1: não o transformemos numa 'simpática modernice'... para caçar moscas).
Saúde para ti, António. Saudades.
Paulo Bateira\
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