Carlos Osoro, novo arcebispo de Madrid, com o Papa Francisco
(foto reproduzida daqui)
O arcebispado de Madrid vive este
sábado uma mudança importante: Carlos Osoro Sierra toma posse formal do cargo
de arcebispo de Madrid, substituindo no lugar o cardeal Antonio María Rouco
Varela.
Ordenado padre na diocese de
Santander em Julho de 1973, bispo de Orense desde 1997 e, depois, arcebispo de
Oviedo (2002) e de Valência (2009), Carlos Osoro significa uma mudança “franciscana”
na diocese da capital espanhola. É essa a chave de leitura dos jornalistas
Jesús Bastante e José Manuel Vidal, do sítio Religión Digital, que publicaram
dois livros com biografias de Rouco e Osoro.
Carlos Osoro é, além de “boa
pessoa”, alguém que trará “a primavera do Papa a Madrid”, por ser alguém com um
perfil muito semelhante ao de Francisco – próximo dos outros, preocupado com o
acolhimento de todos, mesmo de quem pensa diferente. Na altura da sua nomeação
para Madrid, ele prometeu entregar-se “sem impor”, bem como falar “com todos” e
sair pelas ruas. “Não sei fazer outra coisa”, disse.
E isto não acontece apenas desde
que o Papa foi eleito: “Não se acomodou à linha de Francisco, sempre foi assim,
um pastor com uma descomunal capacidade de trabalho e uma enorme proximidade
das pessoas”, diz Jesus Bastante, autor de Carlos Osoro, el peregrino.
Nomeado arcebispo de Madrid no final
de Agosto, quando o seu antecessor desejava ainda continuar por mais algum
tempo, Carlos Osoro é um bispo preocupado em estar sobretudo com os que mais
sofrem, implicado nas questões sociais (é muito crítico, por exemplo, dos
desalojamentos que tem havido em Espanha). Sente que “a sociedade actual está
ferida e quer uma Igreja ao lado das pessoas que sofrem”, diz o autor do livro.
O novo arcebispo, que considera que
o mundo e a Igreja vivem um tempo de mudança histórica, chegou a estar noivo e a pensar
seriamente em constituir família. “Talvez por isso entende mais e melhor a vida
actual”, comenta Jesús Bastante.
Preocupado em fazer pontes com todos os sectores e
“estar com todas as sensibilidades eclesiais e sociais” – mesmo a nível
político – também aqui se poderá notar uma mudança de paradigma clara em relação ao seu antecessor, acusado de se ter colado – e
à hierarquia espanhola – a um partido concreto da paisagem política do país, o
Partido Popular.
Essa é precisamente uma das
diferenças claras entre Osoro e Rouco: este último, retratado por José Manuel
Vidal en Rouco – la Biografia No Autorizada, é caracterizado como tendo
conseguido a “cota máxima de poder jamais aplicada à Igreja espanhola”.
Homem “fisicamente débil,
inclusive com certas debilidades psicológicas, sem carisma”, o até agora
arcebispo de Madrid é alguém “sem grandes qualidades, mas que soube retirar o
máximo partido da estratégia e do poder”, analisa o director de Religión
Digital. “Intelectualmente, é um homem preparado, ou pelo menos passou semore
por ser um grande intelectual, mas um intelectual sem obra, um canonista”,
acrescenta Vidal.
A sua colagem a um partido
político e a sua oposição a várias medidas do Executivo do Partido Socialista
levaram-no a liderar várias manifestações nas quais encenava anualmente uma
demonstração de poder do “músculo da Igreja espanhola contra o Governo
socialista”.
Será um legado que levará gerações
a corrigir, considera Vidal na entrevista em que analisa a liderança de Rouco. E,
não por acaso, a sua sombra continuará ainda presente: Rouco decidiu continuar a viver no palácio arquiepiscopal de Madrid, enquanto Carlos Osoro viverá no
bairro de Chamberí, num andar das Irmãzinhas dos Pobres, utilizando depois para
o trabalho um gabinete no paço episcopal.
1 comentário:
Estamos a viver um tempo de esperança, graças ao Papa Francisco.
Quantos pedidos de perdão por fazer na história da Igreja Católica, especialmente do tem da ditadura franquista e não só!?
E em Portugal, embora as realidades se não se possam comparar e as coisas não sejam preto ou branco, quantos pedidos de perdão continuam por fazer?
José Manuel Duarte
Militante cristão e antigo combatente forçado em África
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