A
reportagem Esplendores, que retrata a relação entre Igreja, Estado e sociedade, num retrato do Portugal de há 60 anos e das
mudanças entretanto registadas sobretudo na região de Portalegre e do Alentejo,
venceu o 17º Prémio Orlando Gonçalves.
Da
autoria de Joaquim Franco, um dos colaboradores do RELIGIONLINE, investigador
em Ciência das Religiões e jornalista dedicado à informação religiosa na SIC –,
a reportagem (que pode ser vista aqui) faz uma ponte de 60 anos:
em 1953, o poder político, local e nacional, convivia confortavelmente com o
poder eclesiástico, numa cumplicidade quase inquestionável. Vários grupos de
católicos e os movimentos de Acção Católica politizavam-se e desenhavam já um
compromisso social nem sempre em sintonia com uma hierarquia maioritariamente
comprometida com a situação. Era uma sociedade estratificada e conservadora. A
economia do país começava a recuperar, mas havia perseguição e censura.
Acentuava-se a emigração e o êxodo para o litoral.
Vindo
das missões, Agostinho de Moura era feito bispo e nomeado para Portalegre, para
suceder a D. António Ferreira Gomes, entretanto nomeado para o Porto. Na posse
dos arquivos da SIC, Esplendores do episcopado, um filme realizado
por profissionais que viriam a estar associados à fundação da RTP, registava
naquele ano a entrada do bispo na diocese, em cortejo, desde a barragem de
Castelo de Bode, inaugurada dois anos antes, até à sede episcopal de
Portalegre.
Seis
décadas depois, recuperam-se memórias. Com o repórter de imagem de Hugo
Neves e o editor de imagem Andres Gutierrez, Joaquim Franco fez agora o mesmo
percurso que o bispo seguiu há 60 anos e encontrou uma diocese vítima do êxodo
rural e abandonada pelo poder central. “Há 60 anos era um país de contrastes,
60 anos depois encontrámos o contraste entre as esperanças concretizadas, as
lutas frustradas e os sonhos desfeitos” de uma geração, diz Joaquim Franco a
propósito da reportagem.
Em
Martinchel, Abrantes, Tolosa, Alpalhão e vários outros lugares percorridos pelo
bispo, os repórteres cruzaram-se com gente que, emocionada, se reconhece num
filme que nunca tinha visto. “São escassos os momentos na carreira de um
jornalista em que, logo no terreno da reportagem, percebemos claramente que
estamos a viver um momento único e inesquecível, e foi o caso”, acrescenta
Joaquim Franco.
O
envelhecimento no Alentejo há muito fez soar o alarme. Há dois idosos por cada
habitante em idade activa. Há 60 anos havia um idoso por cada três pessoas em
idade activa e ninguém podia prever em Portalegre a morte da agricultura e da
indústria. O atual bispo de Portalegre-Castelo Branco, Antonino Dias, também
desconhecia a existência deste filme. Diz que não se sente sozinho, mas lamenta
que o interior tenha sido “abandonado” ao longo das últimas décadas. Esplendores retrata
o ambiente religioso, social e político vivido em Portugal na década de 50 do século
passado. “Não me vejo numa situação daquelas», assegura o actual bispo, em
comentário às imagens da entrada triunfante do antecessor, transportado num
descapotável topo de gama, ladeado pelas forças representativas do poder,
recebido nas aldeias por colchas às janelas e multidões de todas as idades que
lhe atiram flores.
O Prémio Orlando Gonçalves distingue alternadamente obras de ficção e trabalhos jornalísticos de reportagem ou investigação, tendo como referência a cultura e história portuguesas, os direitos humanos e a democracia, bem como reflexões sobre os problemas sociais e políticos, princípios que nortearam a vida do jornalista Orlando Gonçalves.
A
distinção a esta reportagem foi atribuída por unanimidade. O prémio será
entregue a 22 de Outubro, no auditório da Biblioteca Fernando Piteira Santos,
na Amadora. O júri atribuiu também menções honrosas aos trabalhos Em
busca do Pai Tuga, de Catarina Gomes, Combate ao trabalho não declarado
e à exploração de trabalhadores – apanha da azeitona sob investigação, de
Bruna Soares e História de uma vida, história do País, de Susana
Moreira.
1 comentário:
Em primeiro lugar saúdo e aplaudo a iniciativa de se fazer ouvir os andam fora da Igreja, sobretudo aqueles a tenham como referência de sentido para a vida. Porque o Espírito Santo não fala só dentro da Igreja. Deus não é um prisioneiro.
É preciso escutar outras até para as nossas recebam também uma mais valia.
Isso é também um desafio aos que já andam indiferentes. No que puder vou ajudar-vos P. Joaquim Batalha
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