Campo de jogos do Projecto de Utilidade Social Romerillo,
dinamizado por Kcho em Cuba (foto reproduzida daqui)
O Papa Francisco condenou as
causas estruturais da pobreza e afirmou que terra, tecto e trabalho “são
direitos sagrados”. Muitas pessoas não entendem “que o amor aos pobres está no
centro do evangelho”, acrescentou.
Estas afirmações foram feitas,
ontem, num discurso do Papa perante os participantes do Encontro Mundial dos
Movimentos Populares, que decorreu desde segunda-feira e hoje mesmo terminou no
Vaticano, uma iniciativa inédita organizada pelo Conselho Pontifício Justiça e
Paz, com a colaboração da Academia Pontifícia das Ciências Sociais e líderes de
vários movimentos.
No seu discurso, o Papa referiu-se
ao encontro como “um grande sinal”: os seus participantes colocaram diante de
Deus, da Igreja e do mundo “uma realidade muitas vezes silenciada: os pobres
não só padecem a injustiça como também lutam contra ela”. (Facto é que, entre
ontem e hoje, na maior parte da comunicação social, dominaram os textos sobre a
intervenção do Papa perante os membros da Academia Pontifícia das Ciências,
que se limitou a repetir aquilo que é a linha oficial da Igreja há já várias
décadas; ou seja, a maior parte dos jornais, rádios e televisões deram primazia
ao que não era novo sobre aquilo que é inédito...)
No seu discurso perante os
dirigentes dos movimentos populares, o Papa disse que os pobres “não se
contentam com promessas ilusórias”. E acrescentou: “Tão pouco estão esperando,
de braços cruzados, a ajuda de ONG, planos assistenciais ou soluções que nunca chegam.
(...) os pobres já não esperam e querem ser protagonistas, organizam-se,
estudam, trabalham, reclamam e, sobretudo, praticam esta solidariedade tão
especial que existe entre os que sofrem, entre os pobres e que a nossa
civilização parece ter esquecido ou pelo menos tem muita vontade de esquecer.”
Sobre a solidariedade, aliás, o
Papa afirmou que a palavra nem sempre cai bem. Mas ela traduz o “pensar e
actuar em termos de comunidade, de prioridade de vida de todos sobre a
apropriação dos bens por parte de alguns”. Solidariedade é também lutar “contra
as causas estruturais da pobreza, a desigualdade, a falta de trabalho, de terra
e de casa, e contra a negação dos direitos dos direitos sociais e laborais”. E
é ainda “enfrentar os efeitos destruidores do império do dinheiro: as
deslocações forçadas, as emigrações dolorosas, o tráfico de pessoas, a droga, a
guerra, a violência” e todas as realidades que “somos chamados a mudar”. E
concluiu: a solidariedade “é um modo de fazer história e isso é o que fazem os
movimentos populares”.
O encontro, acrescentou o Papa,
corresponde a um desejo que hoje vemos cada vez mais longe da maioria: “terra,
tecto e trabalho” – aspectos que desenvolveu depois no discurso. E ironizou: “É
estranho mas, se falo disto, para alguns significa que o Papa é comunista.”
O texto do discurso está disponível na íntegra
em espanhol, aqui, e podem ler-se notícias em
português aqui e aqui.
Juan Grabosi, responsável da Confederação dos
Trabalhadores de Economia Popular e membro do Comité Organizador do encontro, sublinhara,
na apresentação do encontro, que conheceu o actual Papa quando ele arcebispo de
Buenos Aires. Nessa época, disse, o então cardeal Bergoglio solidarizou-se com
a luta de muitos excluídos em momentos muito difíceis.
“Francisco convoca-nos hoje novamente, já a partir de uma
perspectiva universal, aos pobres e aos povos pobres (...) por essa dignidade
que nos roubaram e pela justiça social”, acrescentou.
(mais
informação sobre o encontro, em espanhol, também aqui)
2 comentários:
É "curioso" como este discurso do Papa foi tão pouco noticiado... Acabou por se dar mais relevo ao discurso à Academia Pontifícia das Ciências e ao Big Bang...
O discurso e noticias, em português, sobre este importante encontro, podem ser encontrados aqui:
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/536809-quando-eu-falo-de-terra-teto-e-trabalho-dizem-que-o-papa-e-comunista-discurso-de-francisco-aos-movimentos-populares
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