Ilustração: Primavera, de Boticelli (pormenor)
O Conselho
Pontifício para a Cultura (CPC) confirmou o tema da sua próxima assembleia
plenária, que decorrerá em Fevereiro de 2015: Culturas
femininas: igualdade e diferença será debatido pelos membros e consultores do
CPC (entre os quais os portugueses D. Carlos Azevedo e José Tolentino Mendonça)
e por convidados.
Questões como a “ideologia de
género”, os “direitos das mulheres invisíveis”, a “espiritualidade da mulher”,
“a igualdade e a reciprocidade” são alguns dos temas a tratar na assembleia,
cuja sessão inicial é aberta ao público.
Aqui podem ler-se mais
detalhes sobre a notícia e um texto do cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do
CPC, sobre o tema.
O anúncio deste debate surge
poucos dias antes da realização, em Lisboa, do IV Colóquio de Teologias
Feministas, que decorre nos próximos dias 14 e 15. Sob o tema Francisco, vai e
reconstrói a minha Igreja que está em ruínas, o colóquio pretende debater a reforma da
Igreja Católica. Na apresentação do programa, pode ler-se: “Move-nos o
desejo de debater algumas temáticas ligadas à reforma da Igreja, nomeadamente,
algumas interrogações, como, por exemplo, Que lugar têm as mulheres
nesta reconstrução? Serão “o ângulo morto da reforma de Francisco”? Terão
todas as reformas que passar por Francisco? De que estamos, realmente, à
espera? O que esperamos?”
O colóquio realiza-se nas instalações de Lisboa do Centro de Estudos Sociais, da Universidade de Coimbra (Picoas Plaza). Entre as intervenientes, estão Maaike de Haardt,
presidente da Sociedade Europeia de Mulheres na Pesquisa Teológica, e as espanholas Marta Zubia Guinea e Roser Solè Besteiro. (Os objectivos, programa e ficha de inscrição no
colóquio podem encontrar-se aqui)
Recorde-se que, no final de Setembro, o Papa nomeou cinco mulheres entre os 30
membros da Comissão Teológica Internacional (CTI), um organismo dependente da
Congregação para a Doutrina da Fé.
Embora ainda em
número reduzido, nunca antes a CTI tinha tido um tão grande número de mulheres,
que passam a representar 16 por cento dos membros da comissão, criada em 1969.
As nomeadas –
duas religiosas e três leigas – provêm dos Estados Unidos, Canadá, Rússia,
Austrália e Áustria. Não incluem, portanto, nenhuma teóloga do mundo
latino-americano, africano ou asiático.
A irmã Mary
Prudence Allen, uma das novas nomeadas, dizia há dias em entrevista à revista
jesuíta America que “a
integração das mulheres em posições de colaboração mais estreita com os homens,
na Igreja, tem sido mais evidente”.
Baptizada Christine Hope Allen, no
estado de Nova Iorque, a família da irmã Prudence descende
de uma comunidade religiosa utópica do século XIX. Christine converteu-se ao
catolicismo em 1964, casou-se em 1965, criou dois filhos e ensinou filosofia na
universidade. O casamento foi anulado em 1972, passando, em 1983, a ser a irmã
Prudence, das Religiosas da Misericórdia.
Em entrevista ao site da
Unisinos, a irmã Prudence diz que se considera “uma nova filósofa feminista na
linha” do João Paulo II.
“Com isso quero dizer que estou preocupada em ajudar a remover os obstáculos
para o pleno desenvolvimento das mulheres em áreas de discriminação, exploração
e violência – um desejo que é compartilhado com feministas de outras
tradições.” E acrescenta que entende o seu papel na comissão como o de “enriquecer
a compreensão da mulher na Igreja” (outros dados biográficos e a entrevista
integral podem ser lidos aqui)
Consultor do Conselho Pontifício para a Cultura, o padre
madrileno Pablo d’Ors é um dos membros do CPC encarregue de redigir um
documento para o debate da assembleia de Fevereiro. Em entrevista ao site da
Unisinos, Pablo d’Ors diz que é favor da possibilidade de ordenação de
mulheres. “O facto de que a mulher não pode ser padre porque Jesus era homem e
que escolheu apenas homens é um argumento muito fraco. É uma razão cultural,
não metafísica”, diz.
Autor de A Biografia do Silêncio, editado em Portugal (um outro excerto do livro pode ser lido aqui e o posfácio, de João Paulo Costa, aqui), Pablo d’Ors diz, a propósito do tema desse seu livro:
“Palavra e silêncio são os dois lados de uma mesma moeda. As palavras
verdadeiras, aquelas que têm a possibilidade de tocar o outro, nascem do
silêncio, ou seja, da intimidade com si mesmo. E chegam ao silêncio porque o
mais belo, quando você lê um livro, é a necessidade de recriar, você mesmo,
aquilo que você leu. No fundo, a literatura é um convite a se calar.”
Sobre a questão da ordenação de mulheres, acrescenta Pablo
d’Ors na mesma entrevista, que “a mudança é necessária, até porque se trata de
uma discriminação inaceitável”. E acrescenta, sobre os receios que existem: “A
novidade sempre dá medo. Em vez disso, um critério importante para medir a
vitalidade espiritual de uma pessoa é a sua disponibilidade para a mudança.
Resistir à vida é um pecado, porque a vida é desenvolvimento contínuo. (entrevista na íntegra aqui)
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