Texto de António Marujo e Maria Wilton
“Quando os direitos das pessoas são espezinhados, não há futuro para ninguém nem é assim que se constrói o futuro de um país progressivo e actual”, diz o bispo de Setúbal, D. José Ornelas Carvalho, a propósito da greve dos estivadores do porto de Setúbal que dura há quase um mês. Em declarações ao RELIGIONLINE, na tarde de ontem, 29 de Novembro, o bispo diz que tem acompanhado a situação através do padre Constantino Alves que, em seu nome, tem ido com frequência ao porto, para estar com os trabalhadores.
O bispo Ornelas Carvalho diz que estão em causa situações como aquelas que têm vindo a público: os trabalhadores só sabem, no final de um dia de trabalho, se podem voltar no dia seguinte; não recebem a baixa por doença nem têm direito a subsídio de férias ou a 13º mês. “Todos os dias eles são necessários, mas nunca lhes dão estabilidade”, acrescenta.
“Era bom que as posições se aproximassem para chegar a algum acordo”, dizia o bispo, no dia em que estavam previstas novas negociações para tentar encontrar uma solução. É preciso, acrescentava, “estar ao lado das aspirações daqueles que vêm os seus direitos postos de parte. Por outro lado, sabemos que as situações económicas e sociais são complicadas. Não é com simplismos e populismos que se resolvem os problemas”, admitindo que as empresas também precisam de ter algumas garantias: “A busca de verdadeiras soluções, numa estrutura que dê justiça e dignidade às pessoas, é fundamental para que se possa construir um futuro com credibilidade e estabilidade e que seja o pano de fundo onde se desenvolve a actividade social e económica.”
Nestes dias, e na forma como tem acompanhado o processo, D. José recordou muito o primeiro bispo de Setúbal, D. Manuel Martins, que morreu há pouco mais de um ano: “Tenho presente o espírito com que ele foi estando nas coisas, de acompanhar e ser consciência crítica” da realidade social.
Já na quarta-feira, 28, o bispo afirmara à Ecclesia que a situação dos estivadores “roça o nível da inconstitucionalidade”, defendendo soluções que não passem “por cima dos trabalhadores” ou por exigências destes “que ponham em causa a realidade e a importância vital deste porto para outras economias, empresas e regiões”.
A paralisação nos dois principais terminais do porto de Setúbal começou há quase um mês, na sequência de uma greve dos trabalhadores portuários associados do Sindicato dos Estivadores e da Atividade Logística (SEAL) devido à “a crescente proliferação de práticas antissindicais nos diversos portos portugueses”.
Os sindicalistas acusam que, no decurso da greve, se registaram várias violações dos direitos laborais, com contratação de outros trabalhadores para fazer o trabalho dos operários em greve.
As negociações, que já envolvem o Ministério do Mar, poderão terminar hoje com um acordo. António Mariano, um dos líderes sindicais, disse mesmo que já havia concordância sobre o número de trabalhadores (56) a contratar por tempo indeterminado.
Sem comentários:
Enviar um comentário