Texto de Maria Wilton
A importância de uma utilização responsável da internet e das redes sociais foi uma das ideias deixada na Web Summit, em Lisboa, pelo secretário do Conselho Pontifício da Cultura e responsável pela comunicação do Vaticano, o bispo irlandês Paul Tighe. Quarta-feira, dia 7, no penúltimo dia de conferências na cimeira tecnológica, Tighe falou num painel de debate sobre a importância da utilização responsável das redes: “A cultura da Internet é algo que é gerado pelos utilizadores, e se nós a usarmos bem, se interagirmos de forma positiva, podemos mudar essa cultura.”
O bispo acrescentou que o que está em causa não é rotular a Internet ou o espaço digital como algo negativo. No entanto, em entrevista à Renascença, deixou um apelo: “Antes de partilharem alguma coisa interroguem-se se é verdade.”
Paul Tighe, que contribuiu para que o Papa Bento XVI passasse a ter uma conta na rede social Twitter referiu-se ainda ao papel da Igreja Católica nas redes sociais como o de “estar presente nesta comunicação, não primeiramente para evangelizar, mas para tomar parte num diálogo”.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, que esteve na sessão de abertura, dia 5, reconheceu as vantagens da tecnologia, mas alertou para as dificuldades que ela pode trazer: “Máquinas que têm o poder e a capacidade de escolher para matar pessoas são politicamente inaceitáveis, moralmente repugnantes e devem ser banidas pelas leis internacionais”, disse.
Numa intervenção intitulada “Cultivando um futuro digital que é seguro e benéfico para todos”, o antigo primeiro-ministro português defendeu ainda que cabe a todos os atores da comunidade internacional transformar as potencialidades da evolução digital numa “força do bem”.
Na Web Summit, que terminou na tarde de quinta-feira, dia 8, participaram mais de mil oradores e 70 mil participantes. Um dos primeiros a falar foi Tim Berners-Lee, o inventor da Internet, que defendeu a existência de princípios transversais a todos os países, para melhor regular e proteger a rede. Para isso, o cientista informático apresentou o seu novo projeto For The Web (Pela Internet). O mesmo pretende atingir consenso entre governos, empresas tecnológicas e todos os que utilizam a Internet para criar princípios base, que resolvam o problema das notícias falsas e do abuso de privacidade dos utilizadores.
Também na mesma linha, Christopher Wylie, que denunciou o uso indevido de dados de utilizadores por parte do Facebook, quando trabalhava na Cambridge Analytica, afirmou: “Se conseguimos regular fábricas de energia nuclear, devíamos conseguir regular plataformas online”
O programador canadiano, que falou no dia 6, terça, acerca dessa história, recordou a história – que esteve na origem de um documentário do Channel 4 –, denunciando a cativação de informação sobre mais de 50 milhões de perfis de estado-unidenses, facto que pode ter sido crucial na eleição do atual Presidente dos EUA. O programador contou como isso levou à revisão das políticas de privacidade da rede Facebook, mas destacou que esta continua a ter demasiado poder e que a sua regulação não pode ser apenas por auto-imposição.
Apresentada na Web Summit do ano passado, a plataforma Click to Pray, criada pelo Apostolado de Oração (estrutura ligada aos jesuítas) em Portugal, duplicou num ano o número de utilizadores, anunciou entretanto o padre António Valério, responsável do projecto. A aplicação passou de 620 mil utilizadores para mais de um milhão e duzentos mil, disse o mesmo responsável, que atribui o crescimento ao facto de a aplicação ter estado presente na cimeira tecnológica do ano passado. A Click to Pray terá em breve uma nova versão.
Sem comentários:
Enviar um comentário