No livro Neste Natal – Poemas e Presépios, escreve Lopes Morgado, sob o
título Foi Então:
Foi então que o Arauto
Assomou no horizonte
E gritou às trincheiras
“Desatai o calçado
Libertai-vos da roupa
que tingistes de sangue
Seja tudo atirado
à fogueira e queimado
Vesti roupas lavadas
e dançai na campina
a canção do embalo (...)”
Não é a primeira vez que Lopes
Morgado, frade capuchinho, dedica um livro de poemas ao tema do Natal. Fê-lo,
por exemplo, em Agora que nasci (ed. Multinova) ou Roteiro de Natal (ed. Difusora Bíblica). Em Neste Natal, Morgado publica poemas e reproduz peças da colecção do
Museu do Presépio que, sem querer, começou um dia a reunir, como conta nesta
entrevista que deu a Manuel Vilas Boas, e que passou na TSF no dia de
Natal, ou nesta outra reportagem da SIC, que passou nesta sexta-feira. São, actualmente, mais de 1300 peças diferentes, oriundas de todo o
mundo, como ele contava num texto que publiquei no Público em Dezembro de 2005 e que pode ser lido aqui.
Na sua poesia, que cruza o
quotidiano com referências bíblicas (sobretudo dos Evangelhos e dos livros
proféticos, sapienciais ou do Êxodo, do Antigo Testamento), Morgado utiliza a
denúncia de um certo abastardamento natalício (“Natal/ de neve/ artificial//
Natal/ de nadas/ numa espiral// Natal datado/ de já tão natural/ desnaturado”),
mas também proclama um Deus que se faz pessoa humana: “Um menino/ e é Deus
feito homem// Nosso Deus/ é tão frágil como outros meninos”.
O livro inclui ainda textos sobre os
relatos evangélicos do nascimento e infância de Jesus, bem como sobre a tradição
do presépio, com uma preocupação pedagógica de esclarecer dúvidas e adquiridos.
Tema recorrente em
tempo de Natal, o presépio é uma representação da ternura de Deus, como se escrevia num texto já reproduzido neste blogue. E é hoje também pretexto para
outras criações, que podem ir do grão de café ao barro trabalhado. As peças são
procuradas e tornam-se objecto mesmo de concorrência entre artistas, como se
pode ver nesta reportagem de Joaquim Franco, na SIC.
Do convencional ao mais criativo,
há presépios para os mais variados gostos e sensibilidades. Nas Caldas da
Rainha, descobre-se ainda Fernando Miguel que, na tradição de Bordalo Pinheiro,
é um artesão que molda o presépio para fazer sátira, como se pode ver nesta outra reportagem.
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