sábado, 26 de dezembro de 2009

Tolentino Mendonça ao 'i': "O cristianismo, graças a Deus, venceu a tentação de declarar inimigos"

Em entrevista ao 'i', o poeta e padre Tolentino Mendonça diz, a dado passo:
O cristianismo atravessa uma estação de turbulência, no embate deste processo - em grande medida ainda em curso - de recomposição dos itinerários da humanidade e também dos da crença. Há indicadores que atestam uma erosão: a diminuição da prática religiosa e do número dos que se declaram cristãos; a fragilização da presença do religioso no espaço público; uma certa desqualificação cultural que hoje rodeia o cristianismo (é isso, como se o homem de fé tivesse de explicar-se para o ser); o reforço de uma militância anti-religiosa que se vê, por exemplo, na ideia avulsa de que as religiões são responsáveis pela violência que grassa no mundo ou na acusação de que os textos sagrados judaico-cristãos são um catálogo de intolerância e barbárie...
(...)
Mas, por outro lado, o cristianismo, graças a Deus, venceu a tentação de declarar inimigos. O cristianismo não tem inimigos. O seus inimigos são a fome, o sofrimento, as injustiças e desigualdades, a ausência de sentido... Gosto de pensar no título de um livro de Albert Rouet, antigo bispo de Poitiers: "A chance de um cristianismo frágil." Estes tempos representam também uma oportunidade para o cristianismo reencontrar o seu rosto mais autêntico, mais profético. Talvez sejamos menos, mas temos o dever de ir mais fundo. Talvez sejamos mais pobres, e isso nos conduza a um estilo mais essencial e evangélico. Talvez tenhamos de deixar de ser a massa para redescobrirmos que a missão dos cristãos é ser criativo fermento.

Sem comentários: