(Ler mais na edição online do Público)
A este propósito pronuncia-se no mesmo jornal Paulo Mendes Pinto, Director da licenciatura em Ciências das Religiões na Univ. Lusófona. Um excerto:
" (...) Há poucos dias, apenas 37 por cento dos inquiridos dizia ir votar a favor da proposta. Neste fim-de-semana, foram bem mais os que o fizeram, quase 60 por cento. De interessante na análise dos votos, há que dizer que nos cantões de língua alemã se votou mais explicitamente a favor da proibição, enquanto nos francófonos optaram por ir contra a proposta. Significados? Talvez a dita herança de Calvino, quem sabe?
Um dos lados preocupantes desta situação encontra-se no apelo do Governo de Berna à população: não votar a favor da proposta, pois levantaria "incompreensão no estrangeiro e prejudicaria a imagem da Suíça". Tudo se pode resumir a imagem. Quando a ética chega a este ponto, mais vale recolhê-la e esquecer os três últimos séculos de criação daquilo a que efectivamente chamamos Europa: igualdade, liberdade e fraternidade, muito bem alimentados pelo ensino, a massa de união que fortalece estes valores únicos que trazemos do Iluminismo.
E é aqui que o meu espanto vai ainda mais longe. Como podemos olhar para a Democracia quando a vemos ser usada pela extrema-direita como forma de a subverter? Sim, esta proibição, que corta direitos fundamentais de cidadania, foi aprovada democraticamente! E o Governo apela através da imagem para o exterior...
No fim disto tudo, regressando ao ensino, o garante esclarecedor da cidadania, esse sai brutalmente mal desta situação surreal. O país de Pestalozzi, entre tantos outros pedagogos ainda hoje enaltecidos, demonstrou que a instrução pode muito bem nada ter a ver com o esclarecimento colectivo. Os medos, o receio pela diferença são formas muito mais eficazes de controlar as populações.
As portas que se abrem com este referendo são monstruosas. Grandes, bafientas, revelam, na penumbra que nos apresentam, o que de pior a Europa tem sido capaz de fazer. Onde estão as luzes? A não ser as dos bancos... parece que se apagaram..."
(Foto: Minarete El-Maiwya, Samarra, séc. IX)
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