quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Três passos para chegar a SETE MARGENS



Leitoras e leitores do Religionline são convidados a registar o seu endereço electrónico para receber as notícias diárias do novo jornal digital SETE MARGENS. Basta abrir nessa ligação e, na barra azul em cima, à direita, clicar em “Receba as nossas notícias”, preenchendo os dois campos requeridos – nome e mail. Receberão imediatamente uma mensagem na sua caixa de correio para confirmar o registo. 

São três passos, que demoram 30 segundos. 

Suficientes para passar a receber alertas diários para notícias como as de que frei Bento Domingues será doutor honoris causa pela Universidade do Minho ou de que o Papa Francisco faz avisos severos contra o crescimento dos populismosou ler reportagens como a dos 50 anos de “anarquia divina” em Auroville; ou entrevistas como as do músico Pedro Abrunhosa  (“A sede de mistério é o motor da humanidade”) ou do teólogo checo Tomáš Halík (“Deus gosta de quem luta com ele). E ainda conhecer histórias como a de Krystal Ashley que, aos 30 anos, se apaixonou por um muçulmano afegão, depois de ter andado anos a dizer que detestava os muçulmanosou de Joana Gomes, jovem portuguesa que foi trabalhar com refugiados no Uganda; ou, ainda, de Joaquin Martinéz, que defendia a pena de morte até ser condenado a ela estando inocente...; e também muitas outras notícias, crónicas, recensões de livros, filmes e discos, textos de opinião e histórias de pessoas que vale a pena conhecer.

Tudo no SETE MARGENS. Cuja existência, já agora, é importante divulgar e, se possível, apoiar financeiramente (PT50 0035 0675 0004 6941 7308 1). 


domingo, 6 de janeiro de 2019

Religionline cede o passo ao SETE MARGENS



A partir desta segunda-feira, dia 7, às 7h07, o que fazíamos no Religionline passa a estar em www.setemargens.com. Convidamos todas e todos aqueles que visitam com regularidade o Religionline a passar a ver o Sete Margens, um jornal digital orientado por critérios jornalísticos profissionais e independente de qualquer instituição, religiosa ou outra. 
Tal como acontecia com o Religionline, quem quiser receber diariamente uma mensagem de correio electrónico com as principais notícias do Sete Margens, só terá de se registar onde se indica “Receba as nossas notícias” na página inicial do Sete Margens. 
Este novo projecto, setemargens.com, divulga informação sobre o fenómeno religioso, no sentido mais amplo do termo, não se confinando à actualidade das diversas confissões e crenças estabelecidas; procura dar conta das diferentes formas de busca espiritual que marcam o nosso tempo, desvendando as questões, interrogações e percursos que alimentam essa indagação; tem consciência de que a informação sobre o fenómeno religioso assim entendido constitui um importante instrumento a favor da paz, da justiça social, do conhecimento mútuo, da tolerância e da cooperação entre os mais diversos actores das nossas sociedades. 
setemargens.com é propriedade de uma Associação Cultural Sem Fins Lucrativos, a Porta 18, e aspira a ser financiado exclusivamente pelos seus leitores / apoiantes, mas recorre também a donativos institucionais que publicita regularmente de modo a assegurar total transparência com aqueles que o visitam. O diário digital tem como referências mais próximas o trabalho de três décadas desenvolvido pelo seu director, António Marujo, e a informação oferecida desde 2002 pelo blog Religionline, um dos primeiros em Portugal, iniciado por Manuel Pinto. Na equipa, estão ainda Jorge Wemans, Eduardo Jorge Madureira e Maria Wilton. 
Regendo-se pelo seu estatuto editorial, o setemargens.com tem o seu limiar de existência na dependência do interesse e da participação dos seus leitores. O jornalismo é essencial numa democracia e só pode subsistir na medida em que os seus utilizadores o suportem, também economicamente. Por isso, o Sete Margens iniciou uma campanha de recolha de fundos, propondo que cada pessoa / família contribua com €100,00 para este projeto através da conta CGD: PT50 0035 0675 0004 6941 7308 1

sábado, 5 de janeiro de 2019

Está a ser notícia



RELIGIÃO - "Uma realidade vivida, situada e em constante mudança": por que é a religião relevante para a busca do progresso social. Relatório faz um ‘estado da arte’ sobre o assunto.

OFICINA - Poesia, música, moda e design, dança, escultura, teatro, cinema e pintura mural vão integrar a Oficina de Arte e Mística Cristã organizada pela Pastoral da Cultura da Diocese de Angra (Açores).

ÍNDIA – O fundamentalismo hindu ameaça fracturar a Índia. O governo aumenta as suas concessões ao radicalismo religioso, com a aproximação das eleições.

TRUMP – A Administração dos Estados Unidos deixou de cooperar com relatores da ONU que acompanham eventuais violações dos direitos humanos, não respondendo a questões relacionadas com pobreza, migrações e justiça.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Credibilidade não se recupera com fluxogramas, diz o Papa em carta sobre abusos, aos bispos dos EUA

Texto de Maria Wilton


O Papa Francisco com os responsáveis da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos, 
em Setembro, no Vaticano (foto CNS, reproduzida daqui)

“A credibilidade da Igreja tem sido seriamente enfraquecida e diminuída por esses pecados e crimes, mas ainda mais pelos esforços feitos para negar ou ocultar os mesmos”, escreve o Papa Francisco numa carta dirigida aos bispos da Conferência Episcopal dos Estados Unidos, que estão em retiro no seminário de Mundelein, em Chicago.
No texto de oito páginas, Francisco faz uma forte crítica à realidade vivida na Igreja Católica daquele país. Antes de propor uma solução para a crise atual, começa por diagnosticar o problema da perda da credibilidade da instituição católica, algo que levou a “um sentido de incerteza, desconfiança e vulnerabilidade nos fiéis”.
Os bispos estadunidenses encontram-se reunidos desde esta quarta-feira, 2 de janeiro, para refletir sobre a resposta à crise que tem assolado a Igreja Católica do país, relacionada com os abusos sexuais. Na carta, o Papa argentino escreve que a credibilidade “não pode ser recuperada com decretos severos ou a criação de novos comités ou fluxogramas, como se estivéssemos num departamento de recursos humanos”. Segundo Francisco, isso reduziria o papel dos bispos e da Igreja a funções administrativas ou organizacionais no “negócio de evangelização”.
Em vez disso, o Papa pede que o foco esteja no que é verdadeiramente importante: “Têm sido tempos de turbulência nas vidas de todas as vítimas que sofreram na pele o abuso de poder e consciência e o abuso sexual da parte de ministros, religiosos e leigos. (…) Sabemos que, dada a seriedade da situação, nenhuma resposta ou abordagem parece adequada.”
Mesmo assim, Francisco sugere uma solução, que se baseia numa “nova presença” no mundo com “uma forma concreta de serviço aos homens e mulheres" dos dias de hoje: “Os pastores têm que estar dispostos a ouvir e a aprender com os seus erros, não agindo defensivamente.”
Estes são passos fundamentais, considera o Papa, para a reconciliação não só com os fiéis católicos, mas também entre os diversos responsáveis da Igreja, já que “momentos de dificuldade e provação também ameaçam a comunhão fraterna”. Francisco pede o abandono do modus operandi dedescrédito, de vitimização e de reprovação no modo de relacionar, já que estas atitudes desfiguram e dificultam a missão da Igreja. 

Jovens portugueses no encontro de Taizé em Madrid: cuidar da espera, cuidar da terra, cuidar da linguagem

Texto de António Marujo


Um dos momentos de oração durante o encontro europeu de jovens, em Madrid 
(foto reproduzida daqui)


O problema é cuidar da espera e do desespero dos refugiados, diz Nicolau Osório, 24 anos, do Porto. A linguagem eclesiástica é um problema para os jovens, afirma Mónica Ribau, 26 anos, de Aveiro. O problema é o cuidado que devemos ter com os direitos do planeta, acrescenta Catarina Sá Couto, 29 anos, do Porto. 
Nicolau, Mónica e Catarina são três dos mais de 600 portugueses que estiveram em Madrid, entre 28 de Dezembro e 1 de Janeiro, a participar no 41º encontro europeu de jovens, promovido pela comunidade monástica ecuménica de Taizé, no âmbito da peregrinação de confiança sobre a terra
Na última tarde do ano, numa igreja da periferia de Madrid, juntam-se para partilhar experiências e ver o que podem fazer, em Portugal, para continuar o que viveram nestes últimos dias do ano na capital espanhola. 
Atenas (Grécia) foi o destino de Nicolau durante seis meses (com uma incursão de dez dias à ilha de Lesbos), num trabalho voluntário com a Plataforma de Apoio aos Refugiados. “O problema é cuidar da espera e do desespero dos refugiados”, conta o jovem licenciado em Engenharia de Minas, mas que quer procurar um trabalho na área da educação sexual.  
“São pessoas que não podem sair da Grécia. E o que me ficou não são as histórias trágicas que ouvi de tantos deles, mas os laços pessoais que se criaram. Para mim, os refugiados passaram de um rótulo a rostos e pessoas concretas”, acrescenta, aos compatriotas que o escutam. Com o seu trabalho, Nicolau também quis dizer aos refugiados que “ainda há uma Europa que quer acolher”. Por vezes, “temos medo, mas devemos acolher”. 

Direitos humanos e direitos do planeta

Catarina, que se apresenta como cristã anglicana, tem estado envolvida no movimento pela Carta da Terra – Valores e Princípios para um Futuro Sustentável, integrando também a organização Green Anglicans. E chama a atenção para a forma como todos consumimos: “Esquecemos muitas vezes que os direitos humanos e os direitos do planeta dependem uns dos outros.” E aponta: “Este banco vem de uma árvore, esta luz vem da água de uma barragem, do vento, de uma energia renovável ou da queima de carvão.” 

Está a ser notícia


RESISTÊNCIA – Vários presidentes de câmara de grandes cidades italianas, como Palermo, Nápoles e Florença, recusam-se a aplicar a legislação governamental anti-imigração do ministro do Interior Matteo Salvini. Consideram-na “inumana” e “criminogéna”.

IMÃ – Um imã senegalés, Demba Diawara, percorreu cerca de três centenas e meia de localidades durante 14 anos para pedir aos habitantes para abandonarem a mutilação genital feminina.

APELO – Um apelo subscrito por múltiplas personalidades francesas pede para que não se coma carne e peixe à segunda-feira. Entre os primeiros signatários, encontram-se as actrizes Isabelle Adjani e Juliette Binoche, o psiquiatra Christophe André, o neuropsiquiatra Boris Cyrulnik, o filósofo Luc Ferry, o monge budista Matthieu Ricard e o matemático Cédric Villani.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Está a ser notícia

GULAG – Assim classifica um comentário no The New York Times a situação dos muçulmanos na China, especialmente da minoria Uigur, com a campanha de prisões de “reeducação” que tem vindo a ser levada a cabo pelas autoridades do país.

BELÉM – A Autoridade Palestiniana foi o primeiro contribuinte para o projeto de restauração da Basílica da Natividadeem Belém, na Cisjordânia. Um gesto simbólico mas também interessado no potencial turístico do edifício, na leitura feita por Le Monde.

MONJAS – Um trabalho da Associated Press vem dar âmbito mais largo às denúncias de abusos sexuais de membros do clero católico sobre freiras e monjas, em dioceses da Índia.

ORTODOXOS – O processo de ‘autocefalia’ da igreja ortodoxa da Ucrânia foi considerada “ilegítima” e “nula” pelo patriarca Cirilo, de Moscovo, numa carta dura que dirigiu ao patriarca ecuménico Bartolomeu, de Constantinopla, que apoia o processo.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Mulheres entram pela primeira vez em templo hindu interdito

Texto de Maria Wilton


Mulheres em protesto contra o impedimento de entrarem no templo Sabarimala 
(foto reproduzida daqui)

Na madrugada de quarta-feira, 26 de dezembro, Bindu e Kanaka Durga, 42 e 44 anos, tornaram-se as primeiras mulheres a entrar num templo hindu no estado de Kerala, Índia, após o Supremo Tribunal desse estado ter levantado, em setembro passado, a proibição que existia, noticiou o The Guardian.
Ao entrarem no Templo Sabarimala, um dos locais de peregrinação mais sagrados do hinduísmo na região, as duas desafiaram uma tradição local que proíbe mulheres com idade para ser menstruadas (entre os 10 e 50 anos) de entrar neste espaço sagrado. Os defensores da proibição consideram que as mulheres nesta idade tornariam o espaço impuro: Ayyappa, divindade do templo e deus hindu do crescimento, é celibatário e as mulheres constituiriam uma tentação à própria figura da divindade. 
Ajit Hansraj vice-presidente da Comunidade Hindu Portuguesa, diz que uma situação como esta não é habitual, mesmo na Índia: “Isto não tem a ver com o hinduísmo em si, mas com os responsáveis de cada templo. É a primeira vez que tenho conhecimento de uma situação onde as mulheres não podem entrar num templo.” Mais comum é a interdição de entrar num templo apenas quando estão no período da menstruação – algo que já não acontece em Portugal, por exemplo. “Na maioria dos casos, mesmo que sejam pessoas de outro credo, desde que seja em paz, são todos bem-vindos nos templos”, conclui Ajit.
Até quarta-feira, 26 de dezembro, o templo teria recusado cumprir a decisão do tribunal e todas as tentativas, feitas por mulheres, de visitarem o local tinham sido impedidas por fiéis que apoiavam a proibição. Após a sua entrada no templo, o sacerdote terá mesmo fechado o espaço para proceder a rituais de purificação.
O levantamento desta proibição tem gerado muita controvérsia junto de sectores conservadores da região, obrigando as mulheres que queiram ir ao templo a ser acompanhadas por polícias. Após a decisão do tribunal em setembro, as autoridades terão designado uma força policial de 1300 homens para o efeito, argumentando que esta é uma questão de direitos humanos.

Está a ser notícia

ESPAÇO – A sonda espacial New Horizons da NASA sobrevoou no primeiro dia de 2019 o objeto mais distante alguma vez visto, o 'Ultima Thule', um vestígio congelado da formação do sistema solar.

HUMANITÁRIO – As crises humanitárias na República Democrática do Congo e da República Centro-Africana são, para um conjunto de Organizações Não-Governamentais, aquelas a que menos atenção se presta. A Venezuela entrou na lista das crises ignoradas.

BERTA CÁCERES – O veredicto contra os acusados do assassinato da militante ecologista hondurenha Berta Cáceres será conhecido na quinta-feira.

terça-feira, 1 de janeiro de 2019

Está a ser notícia


ÁFRICA – Em 2017, 19.4 milhões de africanos emigraram e nem todos o fizeram no sentido sul-norte. O fenómeno das migrações dentro do continente é ainda pouco conhecido.

IRAQUE - "inaceitáveis", "irracionais", "desrespeituosas", foi como o governo do Iraque classificou as palavras do grande mufti dos sunitas, a propósito da ‘fatwa’ que publicou esta sexta-feira em que proibia festejos de fim de ano em 31 de janeiro e felicitações aos cristãos.

ASSASSINADOS – São 40 os missionários assassinados em 2018, em diversas partes do mundo, segundo a agência Fides. Quase o dobro de 2017.

MANÁGUA – O cardeal Brenes desconvocou à última hora a peregrinação a Jesus sacramentado deste dia 1 de janeiro para a qual apelara à ampla presença de católicos.

BANNON – Centenas de habitantes de Certosa di Trisulti (Itália) manifestaram-se contra a escola que Steve Bannon, ligado ao cardeal Burke, pretende instalar numa histórica abadia beneditina local.

segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Depois da estreia em Madrid, Taizé regressa a Wrocław daqui a um ano

António Marujo, em Madrid


O irmão Alois, domingo à noite, em Madrid, anunciando o próximo encontro europeu de jovens
 em Wrocław: a cidade polaca acolherá a iniciativa pela terceira vez 
(foto reproduzida daqui

Depois da experiência inédita de Madrid, em 2019 será a vez de uma cidade repetente: Wrocław (Breslau ou Breslávia), na Polónia, acolherá no final de 2019 o 42º encontro europeu de jovens da “peregrinação de confiança na Terra”, promovido pela comunidade monástica ecuménica de Taizé (França). 
O anúncio foi recebido entusiasticamente por cerca de 3500 polacos que participam no encontro de Madrid. “No momento em que a construção da Europa encontra grandes resistências e em que as incompreensões se multiplicam entre os países, um encontro na Polónia dará a milhares de jovens a possibilidade de fazer a experiência de que a confiança mútua pode ser construída”, disse o irmão Alois, prior de Taizé, justificando a iniciativa de regressar a Wrocław. 
A cidade polaca, situada na Baixa Silésia, no sudoeste do país (a cerca de 100 quilómetros da fronteira com a Alemanha e um pouco menos da República Checa) receberá o encontro pela terceira vez, depois de ali se terem realizado os encontros de 1989 e 1995. Wrocław foi a primeira cidade do Leste europeu a receber a iniciativa, depois da queda do Muro de Berlim e dos regimes comunistas dos países do Leste). Na Polónia, já se realizaram também encontros em Varsóvia, em 1999, e Poznan, em 2009. 
 O anúncio do próximo encontro, que decorrerá entre 28 de Dezembro de 2019 e 1 de Janeiro de 2020, foi feito num dos pavilhões da feira internacional de Madrid, perante cerca de 20 mil pessoas – muitos madrilenos juntaram-se aos 15 mil jovens inscritos de toda a Europa. O arcebispo de Gniezno e primaz da Polónia, Wojciech Polak, e o bispo auxiliar de Wrocław, Andrzej Siemieniewski, estavam também presentes no momento final da oração da noite, durante a qual foi feito o anúncio. 

Seis anos, 26 assassinatos: México, o país mais perigoso para os padres católicos

Texto de Maria Wilton



México: a violência é, hoje, uma marca endémica do país 
(foto Tim Mossholder/Pexels) 

O México “continua a ser o país mais perigoso para exercer o sacerdócio apesar de a sua população ser maioritariamente católica”. O alerta é do padre Omar Sotelo, diretor do Centro Católico Multimedial (CCM), na Cidade do México, capital federal do país. Sotelo lamenta ainda que o tempo da presidência de Enrique Peña Nieto tenha sido, até à data, o mais mortífero para o clero mexicano, já que, nesse período de tempo (2012-2018), morreram até agora 26 padres.
Em entrevista ao jornal mexicano Procesoo padre Sotelo explica: “O aumento no número de assassinatos coincide precisamente com o início da guerra contra o narcotráfico, quecomeçou com Calderón (anterior Presidente) e continuou com Peña Nieto. Esta foi uma guerra para a qual as instituições não estavam preparadas, o que as levou a  serem infiltradas pelo crime organizado.”
Como termo de comparação, no ano de 2017, em toda a América Latina, foram assassinados 14 padres católicos. Destes, metade foram-no no México. O maior problema, segundo Omar Sotelo, é o facto de nenhum dos crimes parecer ter resolução: “Há investigações a decorrer, suspeitos, gente detida que fica livre e dados sem certezas da burocracia judicial.” O padre mexicano denuncia ainda a brutalidade destes crimes dizendo que os sacerdotes são sequestrados,  torturados e só depois mortos.
Dá como exemplo o assassinato do padre José Ascencio Acuña, em setembro de 2014, na comunidade de São Miguel Totolapan. Suspeita-se que tenha sido levado a cabo por membros de crime organizado em conluio com o governo municipal: “Neste caso, havia ordens de detenção contra o deputado do PRI, Saúl Beltran, mas elas não só não foram levadas a cabo como o caso foi praticamente arquivado.”

sábado, 29 de dezembro de 2018

A “invasão” catalã da catedral de Madrid

Texto de António Marujo, em Madrid


O cardeal Carlos Osoro (primeiro de branco, à esquerda), junto dos irmãos de Taizé, 
neste sábado, na catedral de Almudena

Na igreja de Almudena, a catedral católica de Madrid, canta-se em catalão: “L’ajuda em vindrà del Senyor, del Senyor el nostre Deu...” É uma invasão pacífica, em tempos de tensões nacionalistas que têm atravessado a Espanha, nos últimos anos. Mas o canto, ao concluir a oração do meio-dia deste sábado, 29 de Dezembro, eleva-se como traço de reconciliação e hospitalidade entre diferentes culturas, nações, povos e estados. 
Na catedral estão alguns milhares de jovens, russos e ucranianos, ingleses e irlandeses, polacos e alemães, gente que veio de toda a Europa para o 41º encontro europeu de jovens da peregrinação de confiança sobre a Terra, promovida pela comunidade monástica de Taizé, que reúne monges católicos e protestantes. E também o cardeal Carlos Osoro, actual arcebispo de Madrid, que canta igualmente em catalão. 
Hospitalidade. Essa é uma palavra-chave para este encontro, o primeiro na capital espanhola, a única das grandes capitais europeias que ainda não tinha acolhido esta iniciativa. “A hospitalidade aproxima-nos, além das diferenças e mesmo das divisões que existem, entre cristãos, entre religiões, entre crentes e não crentes, entre povos, entre opções de vida ou opiniões políticas”, afirmou o irmão Alois, o prior de Taizé, na meditação durante a oração de sexta-feira à noite, no início do encontro. “É certo que a hospitalidade não cola essas divisões, mas faz-nos observá-las sob uma outra luz: torna-nos aptos a escutar e ao diálogo”, acrescentou. 
Num dos pavilhões da Ifema (Feira Internacional de Madrid), perante mais de vinte mil jovens de toda a Europa e da capital espanhola, o irmão Alois acrescenta: “A hospitalidade é um valor fundamental para todo o ser humano. Todos nós viemos à vida como pequenos bebés frágeis que precisaram de ser acolhidos para viver, e esta experiência fundamental marca-nos até ao último suspiro.”
É também a hospitalidade que se pratica na igreja de san Antón, no centro de Madrid. Aberta 24 horas por dia, a igreja é animada pelos Mensajeros de la Paz, uma organização criada pelo padre Ángel García Rodríguez. A ela recorrem pessoas sem-abrigo, sem trabalho e sem dinheiro para viver. De manhã cedo, os bancos da igreja transformam-se em mesas de pequeno-almoço. Durante o resto do dia, há quem vá buscar roupa, quem consulte um médico, quem peça o apoio de um advogado, quem passe apenas para beber um café ou uma bebida quente, quem ponha o sono em dia ou se aqueça debaixo de um cobertor. “Acompanhamos estas pessoas porque é preciso fazer uma igreja mais aberta”, diz Pedro Blasco, um dos responsáveis pelos mais de 200 voluntários que ali prestam serviço diariamente, 24 horas por dia, 365 dias por ano.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Um novo centro médico, prenda de Natal do Papa aos pobres e sem-abrigo de Roma

Texto de Maria Wilton


As instalações médicas do centro Mater Misericordia, na Praça de São Pedro 
(foto reproduzida daqui)

O Papa Francisco anunciou no sábado, 22 de dezembro, a abertura de um novo centro médico no Vaticano, destinado a prestar serviços de emergência e primeiros-socorros aos pobres e sem-abrigo que precisarem de cuidados de saúde. De acordo com um comunicado da Santa Sé, o espaço é um presente do Papa, na época natalícia, aos mais desfavorecidos, e surge na sequência de outros serviços para as pessoas sem-abrigo que circulam na zona, como duches públicos e uma barbearia solidária.
O novo centro “Mãe da Misericórdia” acabou de ser construído recentemente e localiza-se na Praça de São Pedro, no local de um antigo posto dos correios do Vaticano. Substitui o centro de São Martinho, inaugurado em 2016.
A clínica será gerida em conjunto pelo Governo do Vaticano e pelo gabinete de serviços de saúde do Vaticano. Conta com três quartos separados para visitas médicas, um gabinete para o diretor da clínica, duas casas de banho e uma sala de espera. Os quartos terão novos equipamentos e máquinas para possibilitar os primeiros exames médicos e análises.
Além de serviços básicos para as pessoas sem-abrigo, que se realizarão à segunda, quinta e sábado, é também propósito do centro ajudar os peregrinos que precisam de assistência médica durante acontecimentos na praça ou audiências papais.
O serviço do novo centro médico será realizado por especialistas médicos voluntários e pessoal de saúde da Santa Sé e da Universidade de Roma-Tor Vergata, bem como por voluntários da Associação de Medicina Solidária e da Associação Italiana de Podólogos. Além disso, o centro de saúde promoverá a formação de estudantes e pós-graduados da Faculdade de Medicina de Tor Vergata.
Desde que Francisco é Papa tem feito um grande esforço para promover diversas iniciativas em favor dos mais necessitados e sem-abrigo que circulam na zona de São Pedro, convidando-os a assistir a concertos, oferecendo visitas guiadas aos Museus do Vaticano, organizando almoços e melhorando os serviços médicos e de higiene nas redondezas. Também no último Dia Mundial dos Pobres, 18 de novembro, um centro médico ambulatório foi colocado na Praça de S. Pedro, permitindo que todos os que precisassem fizessem avaliações médicas gratuitas.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Taizé (finalmente) em Madrid: não esquecer a hospitalidade

Texto de António Marujo


Igreja da Reconciliação, em Taizé: a partir desta sexta-feira, a comunidade muda-se para Madrid 
(foto reproduzida daqui)

A partir desta sexta-feira, 28, a comunidade monástica ecuménica de Taizé anima em Madrid o seu encontro europeu da peregrinação de confiança sobre a Terra, designação dada às iniciativas que reúnem jovens de diferentes origens e proveniências. A capital espanhola acolhe deste modo, pela primeira vez, tal iniciativa, depois de Barcelona (1979, 1985 e 2000), Lisboa (2004) e Valência (2015).  
Nesta última cidade está, aliás, a chave para perceber a escolha de Madrid: quando era bispo da capital valenciana, o actual arcebispo de Madrid, Carlos Osoro Sierra, convidou a comunidade a animar o encontro do final de ano de 2015 em Valência. 
Um ano e meio antes, em Agosto de 2014, já com a decisão tomada, o Papa nomeou Carlos Osoro como arcebispo de Madrid. Esta escolha já não permitiu que fosse ele a acolher a comunidade em Valência, mas o seu sucessor, Antonio Cañizares Llovera. É fácil perceber que o entretanto nomeado cardeal Osoro não perdeu tempo a convidar de novo a comunidade, desta vez para Madrid, onde o encontro nunca se tinha realizado. 
Numa nota de imprensa, a comunidade de Taizé destaca que Madrid “já foi palco de importantes encontros, eventos internacionais e acordos de paz” e que, por isso, este encontro será enriquecido “pelos valores de solidariedade que os habitantes e instituições de Madrid gostam de partilhar”. 
Até ao próximo dia de Ano Novo, os mais de 20 mil participantes que entretanto estão a chegar à capital espanhola são acolhidos por milhares de famílias ou em instituições eclesiais de 170 paróquias. Entre eles, estarão várias centenas de portugueses, e ainda 3500 polacos e mais de 2000 ucranianos. Há duas semanas, ainda faltavam oito mil lugaresmas a disponibilidade para acolher os jovens aparece sempre, em cima da hora. 
O encontro inicia-se na tarde desta sexta-feira, com uma oração comunitária às 19h30 (menos uma hora em Lisboa), no pavilhão 4 da Feira Internacional de Madrid (Ifema). Sábado, domingo e segunda, os jovens reúnem-se no mesmo lugar, sempre às 19h30. De manhã, os jovens participam em debates por pequenos grupos nas paróquias da cidade, centrados no tema “Não esqueçamos a hospitalidade!”, proposto pelo irmão Aloïs, prior da comunidade, na carta que orientará a reflexão dos jovens que irão a Taizé durante o próximo ano
Descobrir em Deus a fonte da hospitalidade, estar atentos à presença de Cristo na vida de cada pessoa, acolher os próprios dons e limitações, encontrar na comunidade da Igreja um lugar de amizade e ser generoso(a) na hospitalidade são as propostas da carta para os jovens concretizarem. “No meio das dificuldades actuais, quando muitas vezes a desconfiança parece ganhar terreno, teremos juntos a coragem de viver a hospitalidade e, assim, aumentar a confiança?”, pergunta o prior de Taizé. 
Nas tardes de sábado e domingo, depois de um tempo de oração às 13, em diferentes igrejas da cidade, é a vez de ateliês temáticos, sobre economia, política, arte, refugiados, oração, música, paz, desporto, tráfico de pessoas, ecologia,... Testemunhos de acolhimento a pessoas sem-abrigo (como os Mensajeros de la Paz), de visitadores de presos ou de integração de pessoas com deficiência, e ainda visitas temáticas ao Museu do Prado e ao Centro de Arte Reina Sofia são algumas das experiências que os jovens poderão fazer. 

Bispo nos EUA nomeia mulher leiga para liderar paróquia

Texto de Maria Wilton


Eleanor Sauers à porta da igreja de Santo António 
(foto Joe Pisani/Diocese de Bridgeport, via AP, reproduzida daqui)

A paróquia católica de Santo António de Pádua, em Fairfield (estado do Connecticut, EUA) terá oficialmente um novo responsável a partir de janeiro de 2019 – mas a surpresa é que o cargo será preenchido por uma mulher. Eleanor Sauers é leiga, doutorada em teologia e professora de estudos religiosos e será, a partir de agora, será a “coordenadora da vida paroquial”.
Sauers já tinha assumido o cargo, a título provisório, aquando da morte precoce do anterior pároco, em março de 2018. Dois meses após o Sínodo dos Bispos sobre os Jovens, o bispo Frank Caggiano, que chamou para a atenção da importância das mulheres na Igreja (uma ideia que acabou refletida nas conclusões no relatório final da assembleia) considerou que Eleanor seria indicada para o papel. 
Num comunicado, o bispo Caggiano clarificou as razões da sua escolha: “As suas responsabilidades, tal como qualquer padre ou diácono que é administrador, é trabalhar com a paróquia para desenvolver a visão e missão pastoral. (…) A sua educação, formação e experiência tornam-na profissionalmente, academicamente e espiritualmente preparada para este papel.”
No comunicado, Caggiano agradece ainda a dedicação de Eleanor à paróquia e fala da sua esperança de que isto seja um precedente para que outras dioceses adotem este modelo de liderança pastoral. 
Ao site AP News Eleanor afirma que percebe que está a ser vista como alguém que pode exercer influência e espera que as mulheres que se vêm desencorajadas pela natureza patriarcal do catolicismo possam olhar para ela e dar uma nova hipótese à Igreja.

sábado, 22 de dezembro de 2018

O que é que aconteceu ao Natal?

Opinião de Joana Rigato


Presépio de José Aurélio no Santuário de Fátima

Há dias foi a festa de Natal da escola dos meus filhos. Uma escola pública muito bem conceituada, onde os professores e os pais se envolvem para tornar possível um espetáculo de duas horas e meia, que enche um cinema inteiro. O palco estava muito giro, decorado com caixas gigantes a simular prendas, para dar contexto cénico às atuações dos miúdos. Tudo graças ao envolvimento pessoal de montes de gente que ofereceu o seu tempo para fazer aquilo. Admirável.
Mas voltei a ficar perplexa e triste, como todos os anos. Há três anos que vou a estas festas de Natal. No total já assisti a 27 atuações (nove turmas, portanto nove atuações por ano) e, até agora, não houve uma que falasse de Jesus e do presépio, da origem da festa do Natal na nossa cultura (cujas raízes são cristãs, quer se queira quer não). Não houve sequer nenhum turma que encenasse alguma estória que focasse o espírito de solidariedade e amor que é suposto ser o cerne desta festa. Nem uma. 
Não peço muito: um conto, um poema, uma música, uma história lida pelos miúdos, sei lá, que fale, por exemplo, de alguém que está sozinho e passa a ter amigos no Natal. Alguém que não tem o que comer ou vestir, e é ajudado no Natal. Alguém que aprende a perdoar, a incluir, a amar de forma mais generosa no Natal. Uma família que está dispersa e se reúne e faz as pazes no Natal. Nada disso. 

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Não haverá Natal para os reclusos

Texto de Fernando Calado Rodrigues; Ilustração de Graça Morais para a Amnistia Internacional, nos 25 anos da organização

Os reclusos estão privados da assistência religiosa devido à greve dos guardas prisionais. Se a greve se estender até janeiro, como se prevê, então os reclusos não poderão ter a celebração eucarística de Natal.

Até 2014, a assistência religiosa fazia parte dos serviços mínimos a serem garantidos aos reclusos durante os períodos de greve. Com a aprovação do novo Estatuto do Pessoal do Corpo da Guarda Prisional, nesse ano, a assistência religiosa deixou de ser mencionada no artigo 15.º, que estabelece os serviços mínimos a serem garantidos. Passou então a ser vedado o acesso dos sacerdotes aos estabelecimentos prisionais durante as greves.
Logo nesse ano - quando uma greve privou os reclusos de celebrarem a Semana Santa e a Páscoa -, o Departamento da Área Jurídica da Coordenação Nacional da Pastoral Penitenciária, dependente da Conferência Episcopal Portuguesa, elaborou um parecer que concluía que "não pode nenhum cidadão privado de liberdade ser impedido de obter assistência religiosa, apenas e só pelo facto de, no momento em que necessita da mesma, se encontrar em curso uma greve do Corpo da Guarda Prisional".
Argumentava-se nesse parecer que "o direito a greve dos guardas prisionais não pode sobrepor-se ou coartar o direito a assistência religiosa por parte dos cidadãos privados de liberdade, uma vez que ambos são direitos com dignidade constitucional".
Na Constituição da República Portuguesa, ambos são referidos sob o título "Direitos, liberdades e garantias". O direito à greve é incluído no capítulo dos "Direitos, liberdades e garantias de participação política". A liberdade de consciência, de religião e de culto aparece entre os "Direitos, liberdades e garantias pessoais". Essas duas liberdades, tal como o respeito pela vida humana no artigo 24.º, são classificadas como "invioláveis" no artigo 41.º.
Ao não ser garantido o acesso ao culto por causa da greve, há uma norma constitucional que está a ser posta em causa. E isso sucede numa época tão significativa para a maioria da população reclusa como é o Natal!
Não se pede às organizações sindicais que não promovam greves em determinadas épocas, como é a natalícia ou a pascal: cada um gere os seus interesses como entende. Mas podem-se dizer três coisas. Primeira: exigir o direito integral dos reclusos à sua dignidade constitucional. Segunda: solicitar a revisão do Estatuto do Pessoal do Corpo da Guarda Prisional, por forma a suprir a ausência da assistência religiosa dos serviços mínimos, única forma de cumprir a Constituição. Terceira: apelar ao bom senso e ao reconhecimento que, nestas e noutras alturas do ano, mas sobretudo nestas, o ambiente prisional, já por si demasiado tenso, teria a ganhar com a presença do assistente espiritual e com a celebração do culto.
Para além de garantir um direito constitucional, de que os reclusos não podem ser privados, o acesso ao culto permite que muitos deles se sintam reconfortados pela assistência religiosa e a celebração da eucaristia.

(Texto publicado no Jornal de Notícias de 17 de Dezembro de 2018)

“Uma carga preciosa”

Livros para oferecer no Natal (IV)


Texto de Eduardo Jorge Madureira

No início do mês de Setembro de 2015, uma criança aparecia morta numa praia da Turquia. Ficou depois a saber-se que era um menino sírio. Tinha três anos e chamava-se Alan Kurdi. As imagens terríveis que o mostravam só, deitado na orla do mar, como que adormecido, ou tombado no colo de um agente da polícia turca correram o mundo através das primeiras páginas da imprensa, provocando uma forte comoção. Alan Kurdi tinha-se afogado no Mediterrâneo, que o seu pai com ele tentou atravessar ansiando por uma vida de segurança na Europa.
A memória desta criança e das 4176 pessoas que, no ano seguinte, fugindo da guerra e da perseguição, morreram ou desapareceram em idêntica viagem inspirou Khaled Hosseini a escrever Uma Prece ao Mar. O livro, ilustrado por Dan Williams, dá voz a um pai que conta ao filho, chamado Marwan, como eram os dias felizes da sua infância na cidade de Homs, na Síria, antes de a guerra ter chegado. Os dois, na companhia de outras pessoas, estão na praia à espera da hora certa para partirem rumo à Europa. A Deus, o pai pede que conduza em segurança a embarcação. Ao mar, pede que se lembre do filho – “uma carga preciosa” – que nela viaja.  
Uma Prece ao Maré uma leitura muito recomendável para todos e, de um modo particular, para os mais novos.

Khaled Hosseini – Uma Prece ao Mar
Ilustração de Dan Williams. Tradução Manuela Madureira
Lisboa: Editorial Presença, 2018

(Nota: Uma parte das receitas deste livro, que o jornal britânico The Guardian transformou num surpreendente filme de animação, reverte a favor do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). O filme pode ser visto a seguir (na sua versão inglesa): 


quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Sem as mulheres, Igreja fica empobrecida, diz o documento final do sínodo

Texto de Maria Wilton


O documento considera fundamental envolver, valorizar e 
dar protagonismo aos jovens dentro da Igreja (Foto Helena Lopes/Pexels)

A presença feminina e a participação das mulheres nas estruturas da Igreja Católica e nos seus processos decisórios é “um dever de justiça”, diz o documento final do Sínodo dos Bispos sobre os Jovens, que decorreu de 3 a 28 de outubro deste ano, em Roma, e foi dedicado ao tema Os Jovens, a fé e o discernimento vocacional. O texto invoca mesmo o modo “como Jesus se relacionou com homens e mulheres do seu tempo e na importância do papel dalgumas figuras femininas na Bíblia”, para dizer que a falta de presença das mulheres “empobrece o debate e o caminho da Igreja”.
Durante a assembleia sinodal – que reuniu mais de 200 bispos de todo o mundo – foram ouvidos também vários jovens que participaram como auditores e observadores e que expressaram as suas preocupações e dúvidas, uma das bases para a construção do documento. Para este sínodo, foi mesmo considerado importante ouvir jovens de outras confissões ou “alheios ao horizonte religioso”, já que “todos os jovens, sem exceção, estão no coração de Deus e, consequentemente, também no coração da Igreja.”
Na primeira metade do documento, considera-se importante não só a reflexão sobre o papel da mulher na Igreja, como também sobre a diferença entre a identidade masculina e feminina e a homossexualidade.
Entre os assuntos que tocam os jovens são referidos três pontos cruciais: o ambiente digital, os migrantes e os abusos sexuais ou psicológicos, por parte de membros do clero, como um “sério obstáculo” para a missão da Igreja.
No tópico “corpo e afetividade”, o texto refere que “a moral sexual é frequentemente causa de incompreensão e afastamento da Igreja, uma vez que é sentida como um espaço de juízo e de condenação”. 
Em relação à crescente falta de afiliação religiosa o documento afirma mesmo que os bispos estão cientes “de que um número consistente de jovens, pelos motivos mais variados, nada pede à Igreja, porque não a consideram significativa para a sua existência. Aliás, alguns pedem-lhe expressamente para ser deixados em paz, uma vez que sentem a sua presença como importuna e até mesmo irritante.”